O dilema do PSB em Pernambuco

07/10/2014
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A direita no Brasil nunca brincou, nem mesmo em seus piores momentos. E nesta segunda-feira, 6 de outubro, acordou eufórica com o resultado eleitoral de Aécio Neves. A possibilidade de disputar com boas condições a Presidência da República soltou dois gatilhos no tradicional discurso conservador brasileiro. O primeiro é o de que os pobres é que são responsáveis pelas más escolhas de políticos. O segundo é que o Nordeste será novamente o responsável por uma provável vitória de Dilma Rousseff.
 
Da mesma forma que aconteceu em 2010, o ódio da direita novamente quer amarrar o nordestino no poste. Mas essa mesma direita que chama o povo de macaco na partida de futebol cotidiana, nos ônibus, nos centros de compras, no mercado de trabalho, é a direita que tem candidato e que precisa de voto.
 
Isso tudo apresenta um verdadeiro dilema ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) em Pernambuco. Aécio já disse que o primeiro lugar que merece sua visita é a cidade do Recife. Em seu discurso, homenageou o ex-governador Eduardo Campos. Quer ganhar votos aqui em Pernambuco e no Nordeste.

E o PSB terá a necessidade de dizer de que lado está, porque em Pernambuco não se aceita posições ambíguas ou temerárias. Ou se está com o projeto desenvolvimentista, iniciado por Lula, Dilma e Eduardo Campos, ou com a agenda conservadora do PSDB.
O PSB, do neófito e da raposa eleitos, não vai poder ficar em cima do muro.

Vai ficar do lado de quem trouxe para Pernambuco dois estaleiros, que já construiu três grandes navios e uma plataforma petroleira ou daqueles que comprariam esses mesmos navios na Coreia do Sul para agradara o mercado financeiro?

O PSB fica do lado de quem implantou em nosso estado três campi das universidades federais no interior do Estado ou daqueles que proibiam o BNDES de investir em universidades públicas?

O PSB fica com os que trouxeram um pólo automobilístico para a Mata Norte do Estado, ou com aqueles que queriam mais três, quatro montadoras em estados do sudeste?

É visível a hegemonia política dos socialistas no Estado, sendo descartada, neste momento, a necessidade de alianças com o PT. Por isso mesmo, as condições desse apoio devem ser tratadas com base na responsabilidade com a história do partido e com os interesses do Estado.

Nas eleições municipais de 2000, o candidato do PT na capital, João Paulo, foi ao segundo turno com o conservador e então prefeito Roberto Magalhães (na época PFL). O PT ganhou.PSB e PT estavam entre tapas e beijos, como enfim sempre foi a relação dos dois partidos referência da esquerda no Estado.

Naquele segundo turno, o ex-governador Miguel Arraes fez uma célebre declaração: "mesmo que João Paulo não queira meu voto, eu vou votar e fazer campanha para ele" disse o velho líder pernambucano, demonstrando sua responsabilidade pragmática e histórica com as ideias nas quais acreditava.

O governador eleito, eduardista, deve avaliar para qual direção política ele, agora como maior liderança do partido no Estado, vai seguir. Esperamos que seja no campo político da esquerda, mesmo que esse apoio não seja, necessariamente, aderir ao Governo Dilma.

- Jonatas Campos é jornalista pernambucano.
 
07/10/2014
 
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