O desempregado
16/08/2001
- Opinión
Apresentou-se na firma de colocação de mão-de-obra. Após horas na
fila de desempregados, chegou a sua vez de ser entrevistado:
‹ Sabe fazer o quê?
‹ Bem, entendo de construção civil, meu pai trabalhava no ramo. Gosto
de culinária e acho que não me daria mal na agricultura.
‹ HumŠ HumŠ O que tem feito ultimamente?
‹ Sou andarilho, espalho novas idéias e boas notícias.
‹ Ora, isso tudo é muito vago. Quero saber quais são as suas
aptidões.
‹ Sou bom em recursos humanos. Sei organizar grupos e incentivar
pessoas.
‹ Considera-se um homem dotado de espírito de competitividade?
‹ Sou mais pela solidariedade. Gosto de somar esforços, unir o que
está dividido, quebrar distâncias, incluir os excluídos.
‹ Na área da saúde, tem algum conhecimento?
‹ Sim, às vezes faço curas por aí.
‹ Isso é exercício ilegal da medicina. Só os médicos e os
medicamentos cientificamente comprovados podem curar. Ou será que
você também embarcou nessa onda de que meditação cura?
‹ É, meditação traz boa saúde. É o meu caso. Medito todas as manhãs
ou ao anoitecer. Às vezes passo toda a noite meditando. E, como vê,
gozo de muito boa saúde.
‹ Que mais sabe fazer?
‹ Sei pescar, preparar anzóis, monitorar uma embarcação e até assar
peixes.
‹ Bem, no momento não há procura neste ramo. Os japoneses já ocuparam
todas as vagas. Se fosse escolher uma profissão, qual seria?
‹ A de publicitário. Creio que sou bom de propaganda.
‹ Que tipo de produto gostaria de vender?
‹ A felicidade.
‹ A felicidade?
‹ Sim, como o senhor escutou.
‹ Meu caro, a felicidade é o bem mais procurado do mundo. É uma
demanda infinita. É o que todo mundo busca. Só que ninguém ainda
descobriu como oferecê-la no mercado. O máximo que temos conseguido é
tentar convencer que ela resulta da soma dos prazeres.
‹ Como assim?
‹ Se você usar esta roupa, tomar aquela bebida, passar no cabelo
aquele produto, viajar para tal lugar, você haverá de encontrar a
felicidade.
‹ Mas isso é enganar a freguesia. A felicidade não se confunde com
nenhum bem de posse. Ela só pode ser encontrada no amor.
‹ Bela teoria! E pensa que as pessoas não têm medo de amar?
‹ Têm medo porque não têm fé. Se acreditassem em alguém e em si
mesmas, amariam despudoradamente.
‹ Vejo que você é mesmo bom de lábia. Quer um emprego de vendedor de
cosméticos?
‹ Prefiro não vender ilusões. Melhor oferecer esperanças.
‹ Esperanças? Do jeito que o mundo está? Cara, trate de ganhar seu
dinheiro. Hoje em dia é cada um por si e Deus por ninguém.
‹ Não penso assim. Se houver esperança de um futuro melhor, haverá
indignação frente ao presente injusto. Então as pessoas haverão de
mudar as coisas.
‹ Pelo que vejo você gosta de política.
‹ Não sou político, mas exerço o meu direito de cidadania. Defendo os
direitos dos pobres.
‹ Desconfio que você é um desses vagabundos utópicos que nas praças
divertem os jovens aos domingos. Você bebe?
‹ Só vinho.
‹ Como é o seu nome?
‹ Jesus, mas pode me chamar de Emanuel.
https://www.alainet.org/de/node/105296?language=es
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