Cultura da dominação

13/08/2002
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Os espanhóis que invadiram o México no século XVI expulsaram, da história e da vida, 23 milhões de indígenas, segundo uns; 16 milhões, segundo outros autores; para reduzi-los, em 79 anos, a pouco mais 1 milhão. A chegada dos europeus em nossas terras provocou uma profunda crise nos povos que aqui viviam. Por uma perversa coincidência, aqueles homens de barba ruiva, montados em estranhos animais, como se tocassem o céu, correspondiam aos sinais da realização de suas crenças. Esperavam que trouxessem um tempo de fartura. O que veio, porém, naquelas imensas "casas flutuantes" ­ as caravelas - foi a topia da morte. Apesar do genocídio e do ecocídio causados pela empresa colonialista, durante 500 anos, as vítimas - índios, negros, mulheres, migrantes e trabalhadores - mantiveram suas culturas de resistência. Disfarçaram de cristãos seus cultos, batizaram de cristãs suas divindades, buscaram a liberdade no fundo das selvas e nos quilombos, e cultivaram suas raízes na tradição de suas comidas, músicas, danças, crenças, idiomas e utopias. Do Alaska à Patagônia, todos os povos da América lutaram por sua independência frente aos reinos europeus. Porém, uma pequena parcela dos habitantes do Novo Mundo foi cooptada pelos colonizadores, tornando-se cúmplice na implantação de um modelo social e cultural mimetista, adequado aos interesses de fora. Assim, os brancos passaram a ser considerados superiores aos indígenas e negros; os patrões, aos empregados; os ricos, aos pobres; os homens, às mulheres; a América do Norte, à América Latina. É esse complexo de inferioridade, agravado pelas desigualdades estruturais, como a diferença de renda, que ainda hoje atrasa a nossa emancipação e enfraquece a nossa soberania e independência. * Frei Betto é autor de "Uala, o amor" (FTD).
https://www.alainet.org/de/node/106294?language=es
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