Para um mundo multipolar
17/02/2003
- Opinión
O movimento que saiu no fim de semana às ruas do mundo inteiro nasceu com o grito
dos zapatistas em 1994, chamando para a resistência internacional contra o
neoliberalismo. Em Seattle, cinco anos depois, começaram a se congregar os mais
distintos movimentos para lutar contra uma das bandeiras preferidas da Nova Ordem
mundial anunciada por Bush pai no final da primeira guerra do Golfo: o "livre
comércio".
Multiplicaram-se as manifestações e se diversificaram os roteiros – de Praga a
Seul, de Barcelona a Buenos Aires, de Gênova a Washington -, até desembocar nos
Foruns Sociais Mundiais de Porto Alegre. Nem bem o primeiro tinha se realizado, em
janeiro de 2001, vieram os atentados de setembro nos EUA e o Financial Times
decretou, prematuramente: "Adeus Porto Alegre". Queria com isso dizer que o mundo
ficaria a partir dali condenado ao dilema Bush/Bin Laden (ou quem substituísse a
este como representante do "eixo do mal"). A proposta de "um outro mundo possível",
que abria o espaço para a superação da dicotomia globalização neoliberal/
nacionalismos fundamentalistas, ficaria eliminada.
O segundo Fórum Social Mundial, em janeiro de 2002, incorporou o tema da guerra.
Sem soluções pacíficas, justas e duradouras para os conflitos mundiais, um outro
mundo, humano, solidário, não será possível. Foi o mesmo sentimento que passou a se
expressar pelo mundo afora contra a política de Bush de militarização dos conflitos
e de criminalização dos adversários dos EUA.
A nova doutrina norte-americana de segurança e as preparações irreversíveis para
uma nova guerra contra o Iraque levaram a que a força acumulada pelo movimento
chegassem aos níveis do fim da semana passada, suficientes para que um cronista do
New York Times abra seu artigo dizendo que há "duas superpotências no mundo: os EUA
e a opinião pública mundial". Manifestações que levaram Jack Straw, Ministro de
Relações Exteriores da Grã-Bretanha, a confessar que será "muito difícil" lançar
uma guerra se a população se opuser terminantemente a isso.
A nova política norte-americana foi o catalizador dos movimentos que saíram às ruas
e se constituíram em opinião pública mundial contra a guerra. Ela é composta por
uma nova geração de jovens, que já não são filhos da queda do muro de Berlim, mas
da luta por "um outro mundo possível", isto é contra o neoliberalismo e sua
filosofia de que "tudo se vende e tudo se compra", mas agora também da luta contra
a guerra e pela paz. Esta é, automaticamente, uma luta contra a hegemonia imperial
norte-americana.
Ao se assumir como "império do bem", mas praticar uma política de guerra, o governo
Bush deu um norte político ao movimento. Da luta contra a OMC, o FMI, o Banco
Mundial, o movimento evoluiu para a luta que incorpora também a cabeça política e
estratégica do bloco de poder no mundo de hoje – o governo dos EUA. Esse o passo
decisivo que está sendo dado atualmente no mundo, pressionando a governantes para
construir uma frente de resistência à política belicista norte-americana. Uma
política em que o Brasil assume suas responsabilidades e leva a América Latina a
somar-se à Alemanha, França, Bélgica, Rússia e China, num momento que pode
desembocar na mais importante transformação política mundial desde o fim do mundo
bipolar – a construção de um mundo multipolar, condição da resolução pacífica dos
conflitos mundiais.
https://www.alainet.org/de/node/106978
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