A mística de Bush

28/03/2003
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Há muitas motivações que promoveram a guerra contra o Iraque, a econômica (petróleo), a política (hegemonia plenetária), a ideológica (plasmar a globalização nos moldes norte-americanos) e outras. Uma, me parece, funciona como fio de um colar que sustenta a todas. É a visão mística do Presidente Bush e de seus mais próximos colaboradores. Esta mística repousa sobre dois dados da tradição cultural norte-americana: o destino manifesto e a religião civil. O destino manifesto(Manifest Destiny)foi cunhado em 1845 pelo jornalista John O'Sullivan para justificar a anexação do México e o imperalismo norte-americano. Ainda em 1900 explicava o senador por Indiana Albert Beveridge:"Deus designou o povo norte-americano como nação eleita para dar início à regeneração do mundo". Essa ideologia esteve sempre viva na direita norte-americana e foi acenada muitas vezes por George Bush pai e filho. Faz-se contínua referência à "nossa superioridade moral" para justificar as invenções político-militares pelo mundo afora. A religião civil procura conferir aura cristã ao destino manifesto na forma de integrismo e fundamentalismo religioso. Os fundamentalistas tomam a Bíblia ao pé da letra e a fazem roteiro para entender a história. Assim milhões de pessoas, seja vivendo nas periferias, seja em seus trabalhos profissionais até em centros de alta tecnologia acreditam que estamos nos últimos dias da história. Estes são marcados pelo enfrentamento do bem e do mal, por guerras devastadoras e pela atuação do Anti-Cristo. Proximamente dar-se-á a segunda vinda de Cristo que instaurará a era perfeita, preparando sua vinda definitiva quando os fiéis serão arrebatados ao céu, recebendo um corpo de glória. Emergirá, então, um novo céu e uma nova Terra. Curiosamente o fundamentalismo ebraico americano vê na instauração do estado de Israel parte do processo de redenção do mundo. Reconstruido o templo, o Messias viria, trazendo a redenção para todos. Margot Patterson no conhecido semanário católico National Catholic Reporter (11/10/02) mostrou a colaboração existente entre estes dois fundamenlismos, cada qual com seus objetivos, mas unidos na crença do fim da história (Will Fundamentalist Christians and Jews ignite Apocalypse?). É conhecida a religiosidade fundamentalista de Bush e de seus colaboradores como o revelou a revista Newsweek em matéria de capa. Eles têm a profunda convicção de que Deus escolheu os Estados Unidos para salvar o mundo. Sentem-se instrumentos para essa missão divina. Todos os dias Bush levanta mais cedo para ler a Biblia e fazer suas orações. Antes de tomar decisões, o grupo reza para que Deus os faça cumprir esta missão de forma determinada. Agora podemos amarrar os elos: Bush se move por missão. Não precisa do aval do Conselho de Segurança. Ele tem o de Deus. É imperativo derrubar Saddan Hussein pois ele é uma das expressões do Anti-Cristo. Apropia-se do petróleo do Iraque porque fornece a base material para o cumprimento da missão. A globalização deve ser moldada pelos valores norte-americanos, pois só estes são queridos por Deus. Os outros não constroem o novo mundo. O trágico é que Bush está cheio de boa-vontade sem nenhuma auto- crítica. Por isso, esta boa-vontade não é boa. Só produz guerra, "choque e pavor" e morte de inocentes. * Leonardo Boff. Teólogo
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