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12/06/2003
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A mecânica de Newton e a física clássica enfrentaram o desafio de construir novos modelos de explicação do mundo sem falar de Deus e do nosso eu. A física quântica rompe com essa tradição. As ciências experimentais são manejadas por homens e mulheres que, hoje, não se contentam em descrever e explicar a natureza. Eles sabem que há uma interação entre nós e a natureza. Nosso corpo e nosso pretensioso cérebro são compostos das mesmas partículas que tecem o brilho das galáxias que ardem nas profundezas siderais. Impossível estabelecer uma nítida separação entre você, eu e o Universo. Quanto a Deus, ele não pode ser encontrado por equações integrais, mas, agora, nos vemos livres do mecanicismo e do determinismo que nos impediam de contemplar a natureza com um pouco mais de sabedoria. A poesia também extrapola os conceitos. Ainda que a hipótese cosmológica do Big Bang venha a ser rigorosamente "provada", nem por isso a crença criacionista deve considerar-se premiada. Não concerne à ciência comprovar a existência ou a inexistência de Deus. Para Isaac Newton, os "princípios matemáticos da filosofia natural" teriam demonstrado definitivamente a existência de Deus - na verdade, um deus-tapa- buracos. Ora, a própria ciência deve tapar seus buracos. São falsos os deuses das convicções científicas. E débil a fé que busca se apoiar em dados da ciência. Estaríamos no limiar de uma nova Renascença? Acredito que, pelo menos, estamos no limiar de uma nova ontologia e de uma nova epistemologia. Ou de uma holoepistemologia, como sugere Roberto Crema, que integraria e, ao mesmo tempo, superaria a epistemologia cartesiana e o método dialético. O que haveria para re-nascer? Assim como a fé bíblica vai em busca de suas origens para assegurar sua natureza amorosa e consistência histórica - "a fé de Abraão, Isaac e Jacó" -, também o marxismo considera a infra-estrutura da sociedade fundamental na explicação de seu conjunto, bem como a psicologia busca resgatar o passado do paciente para melhor entender o seu presente. Não é mera coincidência. Marx e Freud são tributários de suas raízes judaicas. Portanto, teríamos a resgatar na história da humanidade a vitalidade original das grandes tradições religiosas, a interação entre o ser humano e a natureza, a mística como transcendência da razão e plenificação da inteligência, os mega-relatos como âncoras de paradigmas, a comunidade como espaço de humanização, personalização e socialização. Disto não tenho a menor dúvida: estamos mergulhados em plena crise da modernidade. Já não há um determinado lugar que nos propicie a inteligibilidade do todo. Nem uma razão que nos sirva de belvedere para apreciarmos o panorama geral. A indeterminação e o aleatório escapam à razão, quais peixes furtivos nadando através dos buracos da rede. Talvez, agora, intuição e emoção se tornem atrizes de destaque no palco de nossa inteligência. * Frei Betto é escritor, autor de "A Obra do Artista ­ uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros.
https://www.alainet.org/de/node/107686?language=es
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