Fim do mundo(I)?
16/10/2003
- Opinión
Sabemos hoje quando o universo começou, há 13-15 bilhões de anos. Podemos saber
quando acabará, se por acaso acabar? A resposta depende da opção de fundo que
assumirmos. Duas tendência são hoje predominantes nas ciências da Terra: a visão
quantitativa e linear e a visão qualitativa e complexa.
A primeira dá centralidade à matéria visível (5%) e escura (95%), aos átomos,
genes, aos tempos, aos espaços e ao ritmo de desgaste das energias. Entende o
universo como a soma global dos seres realmente existentes.
A segunda, a qualitativa, considera as relações entre os elementos, a forma como
se estruturam os átomos, genes e as energias. Não basta dizer: este aparelho de
televisão é composto por tais e tais elementos. O que faz uma televisão é a
organização deles, ligados a uma fonte de de energia e de captação de imagens.
Nesta compreensão, o universo é formado pelo conjunto das relações. Cada uma
destas opções se funda em algo real e não imaginário e projeta a sua visão do
futuro do universo.
A visão quantitativa diz: estamos num universo fechado, embora em expansão
contínua e equilibrado pelas quatro forças: a gravidade, a eletromagnética, a
nuclear fraca e forte. Não sabemos se o universo se expande mais e mais até
diluir-se totalmente, ou se chega a um ponto crítico e começa então a retrair-se
sobre si mesmo até o ponto inicial, densíssimo de energia e de partículas
concentradas. Ao big bang inicial (grande explosão) se oporia o big crunsh
terminal (o grande esmagamento).
Nada obsta, entretanto, que o nosso universo atual seja a expansão de um outro
universo anterior que se retraiu. Ele seria como um pêndulo, indefinidamente
oscilando entre expansão e retração.
Outros aventam a hipótese de que o universo não conhece nem expansão total nem
retração completas. Ele pulsaria como um incomensurável coração. Passaria por
ciclos: quando a matéria atingisse certo grau de adensamento, expander-se-ia,
quando, ao inverso, atingisse certo de grau de refinamento, contrar-se-ia num
movimento perpétuo de ida e de vinda sem fim.
De todas as formas, diz esta compeensão, fundada na quantidade, o universo tem um
fim inevitável por força da lei universal da entropia. Segundo esta lei, as
coisas vão se desgastando irrefreavelmente: nossas roupas desfiam, nós vamos
gastando nosso capital energético até morrermos.As galáxias se desfazem em
imensas nebulosas, nosso Sol, em 5 bilhões de anos terá queimado todo o
hidrogênio, em seguida, por outros 4 bilhões de anos, todo o hélio. Nesse ocaso
sinistro terá calcinado todos os planetas ao seu redor inclusive a Terra. E
terminará numa anã branca. Em outras palavras, todos, o universo, a Terra e cada
um de nós, caminhamos inarredavelmente para a morte térmica, um cenário de
escuridão, num espaço praticamente vazio, perpassado por uns fótons e neutrinos
perdidos. Um colapso total de toda a matéria e de toda a energia. Um ocaso
infausto de todas as coisas.
Mas será esta a última palavra, aterradora e sem nenhuma esperança? Não haverá
uma outra leitura possível do evoluir do universo que venha ao encontro de nosso
desejo de viver e viver eternamente?
* Leonardo Boff. Teólogo.
Fim do mundo(II)?
https://www.alainet.org/de/node/108589?language=es
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