Fracassa a globalização
12/03/2004
- Opinión
Estudo da ONU, em parceria com a OIT, divulgado a 24 de fevereiro
último, sob o título "Uma globalização justa", revela uns poucos
méritos da globalização, como "maior liberdade para o intercâmbio de
bens, idéias e conhecimentos" e o fato de, graças aos mercados
globais, ter retirado da pobreza 157 milhões de chineses.
Mas nem tudo são flores no relatório de 168 páginas, que contou com
a participação de Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de economia. O
número dos que vivem com menos de 1 dólar por dia ou US$ 30 por mês
cresceu em todo o mundo.
As previsões de que a globalização traria um crescimento econômico
maior ao planeta não se confirmaram. Em 1990, o crescimento médio do
PIB mundial foi de 1,01%. Em 2003, foi de 0,08%. Entre 1985 e 2000,
apenas 16 países em desenvolvimento cresceram mais de 3%; 32
cresceram menos de 2%; e 23 sofreram retração do PIB. E, hoje, 6,2%
da força de trabalho mundial está desempregada - o que equivale a
185 milhões de pessoas!
O documento da ONU não esconde sua preocupação diante desse modelo
que prefiro qualificar de globocolonização, por se tratar da
imposição, ao resto do mundo, do modelo imperante nos países
desenvolvidos do hemisfério Norte - o livre mercado como senhor
absoluto da economia, incensado pelo mito de que ele é capaz de, num
passe de mágica, reduzir as desigualdades sociais e assegurar
empregos.
"Existe uma inquietação crescente acerca do rumo que está tomando a
globalização" - diz o relatório. "Suas vantagens estão fora do
alcance de muitos, enquanto os riscos de sua aplicação são reais. A
corrupção aumentou. O terrorismo mundial ameaça as sociedades
abertas. O futuro dos mercados está cada vez mais incerto. A
governança global está em crise."
A diferença entre os países ricos e pobres aumentou desde o início
dos anos 90. Um pequeno grupo de nações, que abriga apenas 14% da
população mundial, domina metade do comércio internacional. No
início dos anos 60, a renda per capita das nações mais pobres era de
US$ 212; a dos mais ricos, US$ 11.417. Em 2002 a renda dos pobres
havia crescido 26%, passando a US$ 267, enquanto a dos ricos cresceu
183,3%, atingindo o patamar de US$ 32.339.
"Vista pelos olhos da imensa maioria dos homens e das mulheres," -
diz o relatório - "a globalização não atendeu às suas simples
aspirações por empregos decentes e um futuro melhor para seus
filhos."
Os autores do estudo sugerem ao comércio mundial reduzir as
barreiras que impedem o acesso dos produtos competitivos
provenientes de países em desenvolvimento; propõem uma nova
regulamentação aos investimentos diretos estrangeiros, para que se
destinem ao setor produtivo; e apelam ao sistema financeiro
internacional para que apóie mais resolutamente o crescimento global
sustentado.
Até nos EUA declina o otimismo frente à globalização e ao livre
comércio. Em 1999, 57% da população com renda acima de US$ 100
mil/ano defendia o livre comércio. Hoje, só 28% o fazem. E a
proporção dos que defendem o fim do livre comércio saltou de 17%, em
1999, para 33% em 2004 (Cf. Centro de Estudos Internacionais,
Universidade de Maryland, 2004).
Isso significa que a classe média americana já começa a sentir os
efeitos negativos da globocolonização. Empregos de alto nível estão
sendo transferidos a outros países, por salários mais baixos. E o
desemprego ameaça. Hoje, 40% da população dos EUA consideram
positivo o atual modelo de globalização. Em 1999 eram 53%. Desde o
início do governo Bush, em janeiro de 2001, mais de 2,5 milhões de
postos de trabalho foram fechados nos EUA.
* Frei Betto é escritor, autor de "Gosto de Uva" (Garamond), entre
outros livros.
https://www.alainet.org/de/node/109569?language=es
Del mismo autor
- Homenaje a Paulo Freire en el centenario de su nacimiento 14/09/2021
- Homenagem a Paulo Freire em seu centenário de nascimento 08/09/2021
- FSM: de espaço aberto a espaço de acção 04/08/2020
- WSF: from an open space to a space for action 04/08/2020
- FSM : d'un espace ouvert à un espace d'action 04/08/2020
- FSM: de espacio abierto a espacio de acción 04/08/2020
- Ética em tempos de pandemia 27/07/2020
- Carta a amigos y amigas del exterior 20/07/2020
- Carta aos amigos e amigas do exterior 20/07/2020
- Direito à alimentação saudável 09/07/2020