As mobilizações de abril
29/04/2004
- Opinión
A Jornada Nacional pela Reforma Agrária, desencadeada na primeira
quinzena de abril, mostrou mais uma vez, à sociedade brasileira, a
necessidade e urgência em democratizar a estrutura fundiária do
país. As milhares de famílias de trabalhadores rurais Sem Terra
que participaram das caminhadas, das ocupações de latifúndios e
dos acampamentos nas grandes cidades mostraram a disposição de
lutar para permanecer no campo, produzindo alimentos. São famílias
que se recusam a ir para as grandes cidades engrossar os cinturões
de miséria das favelas urbanas. São brasileiros que reivindicam a
garantia de acesso ao trabalho, moradia e educação. Exitosas,
essas lutas serviram para reanimar nossa base social e aumentar a
autoconfiança no poder transformador que tem as massas sociais
organizadas e mobilizadas. Cresceu a certeza de que não basta
eleger políticos comprometidos com as transformações. É preciso
que ocorram as lutas sociais para que realmente essas mudanças se
concretizem. O comportamento da mídia também não foi diferente das
outras jornadas de lutas. Ela concedeu amplos espaços nos
noticiários para as mobilizações que aconteceram, mas, em nenhum
momento, abriu mão do seu posicionamento ao lado dos interesses do
latifúndio.
Mentiras na mídia
A repercussão das lutas também fez com que aqueles intelectuais
encarregados de fazer a defesa do latifúndio ganhassem novos
espaços na imprensa. Alguns deles tratam de eliminar o problema da
questão agrária simplesmente dizendo que ele não existe, uma vez
que não há terras improdutivas ou latifúndios. Outros, do mesmo
time, se esforçam para desmoralizar a própria organização dos
trabalhadores, suas lideranças e suas propostas para a agricultura
brasileira.
Da mesma forma, a jornada de lutas obrigou a classe política a se
posicionar sobre a questão. Não os políticos já identificados com
latifúndio, mas aqueles que usam uma retórica ambígua para "ficar
em cima do muro", pensando que agradam os latifundiários e os sem
terras ao mesmo tempo.
A Reforma Agrária não será feita no grito e muito menos fora do
que estabelece a lei, porém, ela precisa ser feita. E as nossas
lutas, nossas mobilizações acontecem exatamente para que a
Constituição Federal seja cumprida.
A importância da unificação das lutas
Mas, a influência desses acontecimentos não ocorreu apenas aos que
se opõem à Reforma Agrária. Cresce, em outros setores sociais, do
campo e da cidade, a certeza da necessidade de mobilização para
obter conquistas sociais.
Vamos somar à luta pela Reforma Agrária a luta contra o
desemprego, por moradia, saúde e saneamento básico; as
reivindicações dos pequenos agricultores, a defesa das terras
indígenas, a luta por um ensino público gratuito e de qualidade.
É importante, unificar todas as lutas dos que sonham com a
transformação social deste nosso país.
https://www.alainet.org/de/node/109834
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