Campanha defende voto contra a Alca

23/09/2004
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Nas eleições municipais, organizações e movimentos sociais alertam para riscos dos Tratados de Livre Comércio Se estão dispostos a barrar os acordos de livre comércio, os movimentos populares e organizações reunidas na Campanha contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) terão de dar novo impulso às mobilizações sociais no Brasil. O calendário das negociações dos tratados comerciais inidica um perigo cada vez mais próximo: a assinatura de um acordo do Mercosul com a União Européia. Os diplomatas dos dois blocos comerciais já agendaram, para o final de outubro, uma reunião ministerial com o intuito de sacramentar o acordo. Ainda sem data definida, esse encontro poderá ratificar uma série de concessões feitas pelos países do Mercosul aos europeus, com impacto negativo sobre diversos setores da sociedade, principalmente trabalhadores, agricultores, pequenos empresários e industriais. E quem vai ganhar? O agronegócio, respondem movimentos sociais, especialistas e até de assessores do governo. Apesar de a negociação com os europeus ter essa abrangência, apenas um grupo de grandes empresas reunidas na Coalizão Empresarial, comandada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), tem acesso ao conteúdo das propostas em discussão. Esse privilegiado setor social é o único a discutir e a interferir na estratégia do governo. Entre os ilustres ex-participantes da Coalização, estão o presidente da Sadia, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o empresário do agronegócio e ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Para outros setores sociais, o conteúdo das propostas oferecidas pelo governo brasileiro aos europeus continua sigiloso. "Os interesses do agronegócio estão prevalecendo na posição do governo. Cada vez mais, temos a convicção de que é preciso travar uma batalha neste país contra o modelo primário exportador baseado na monocultura, que é o grande sustentáculo da política econômica. Em nome disso, estamos entregando setores estratégicos do nosso desenvolvimento", avalia Fátima Mello, secretária executiva da Rede Brasileira de Integração dos Povos (Rebrip), articulação de movimentos sociais, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e entidades sindicais. Para retomar a discussão com a sociedade sobre o que está em jogo nessas negociações sigilosas, as organizações sociais estão planejando atividades no dia das eleições, 3 de outubro. Ativistas e simpatizantes da Campanha contra a Alca vão se concentrar nos locais de votação. A atividade, que terá o lema "Semeie essa idéia – Meu voto é contra a Alca, Livre Comércio e Dívida Externa", tentará alertar a população sobre a interferência dos tratados de livre comércio interferem nas políticas municipais e locais (veja quadro ao lado). "Que sentido passa a ter uma eleição para prefeito se assinarmos uma Alca e as decisões do poder público podem ser contestadas em tribunais internacionais que sempre decidem a favor de transnacionais?", pergunta Paulo Maldos, do Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae (Cepis). Além da ALCA Maldos ressalva também que é preciso se opor não somente à Alca, mas fazer uma crítica ao livre comércio. "Não adianta barrarmos a Alca por um lado e abrirmos o flanco por outro lado com os europeus", exemplifica. Segundo ele, se os europeus receberem concessões, os estadunidenses vão exigir as mesmas condições. O ativista acrescenta que esse tema deve ser enfrentado junto com o problema da dívida externa e da militarização. "Estamos ampliando e radicalizando a campanha, no sentido de ir à raiz. Trata-se de um conjunto só, que se manifesta na Alca, no livre comércio, no pagamento da dívida e na questão da militarização", aponta. Atualmente, as negociações da Alca estão paralisadas em função das eleições presidenciais nos Estados Unidos, que vão ocorrer em novembro. O processo de reuniões, no entanto, deve ser retomado logo após o pleito. No Itamaraty, cogita-se a possibilidade de realizar, já em dezembro, uma reunião Ministerial da Alca no Brasil. O desafio, em 3 de outubro, é conseguir incorporar esses temas no ambiente das disputas eleitorais municipais. "Vai ser um processo de formação, no corpo a corpo. Queremos discutir um projeto de Brasil, de soberania", diz Sandra Quintela, do Instituto de Políticas Alternativas do Cone Sul (Pacs). Para ela, a atividade será uma oportunidade de debater sobre um projeto de país. Só no município de São Paulo, a expectativa é de que mais de 200 pessoas sejam sensibilizadas para participar da atividade na distribuição de material informativo e sementes para eleitores. As ações vão se concentrar nas proximidades dos maiores colégios eleitorais. Haverá também ações na Baixada Santista, em Campinas, em São Bernardo e Sorocaba, entre outras cidades do Estado de São Paulo. Até o fechamento desta edição, os comitês de outros estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, haviam agendado plenárias para programar as atividades. * Jorge Pereira Filho, Brasil de Fato.
https://www.alainet.org/de/node/110592?language=en
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