As tsunamis cotidianas
03/01/2005
- Opinión
Mais de trinta milhões de pessoas morrem anualmente de fome
no mundo. Todos os anos morrem cinco milhões de crianças de
fome. Mais de oitocentos milhões de seres humanos sofrem de
desnutrição grave e permanente. Anualmente sete milhões de
pessoas, principalmente crianças, perdem a vista, em geral
por falta de alimentação suficiente ou como conseqüência de
doenças vinculadas ao subdesenvolvimento.
Só no Brasil, morrem anualmente mais de 32 mil crianças com
menos de um ano, principalmente no nordeste, vítimas de
problemas vinculados à desnutrição e à falta de atenção de
saúde. Quando visitou o Brasil recentemente, Jean Ziegler
conheceu um túmulo, mostrado por um camponês, com uma placa:
“crianças anônimas”, onde se enterravam crianças recém
nascidas mortas, de desnutrição, de rubéola, de diarréia ou
de desidratação. Nem sequer foram registradas, porque o
registro custa um ou dois reais. Nascem e morrem
anonimamente. Sem mídia, sem Nações Unidas, sem ajudas
governamentais.
E, no entanto, a capacidade agrícola existente no mundo
permitira alimentar a doze bilhões de pessoas, isto é, ao
dobro da população mundial. Porém esses alimentos estão
pessimamente distribuídos. Anualmente se utiliza um quarto
da colheita mundial de cereais para alimentar o gado dos
países ricos. A quantidade de milho consumida pela metade dos
recintos climatizados para gado da Califórnia é maior do que
todas as necessidades de um país que passa fome crônica, como
o Zâmbia.
Uma vez um indígena guatemalteco me disse que os terremotos
na Guatemala são como os filmes de cow-boy estadunidenses, em
que só morrem índios. Os terremotos atingem mais diretamente
os pobres porque, movendo o solo, derrubam as casas mais
frágeis. Assim, um terremoto em um país rico mata
pouquíssimas pessoas e as que mata estão em zonas pobres.
Enquanto que nos países pobres costuma matar a várias dezenas
de milhares de pessoas.
Os maremotos, como o atual na Ásia, afetam também a zonas
turísticas, com seus balneários, o que explica tanto a morte
de muita gente rica, como o interesse grande dos países que
costumam usar esses balneários para o turismo, em ajudar as
vítimas. Claro que a grande maioria dos mortos e das vítimas
em geral, são pobres, porque estes compõem a grande maioria
da humanidade, mas os maremotos são menos seletivos
socialmente.
Quanto aos mortos de fome no mundo, são pobres e miseráveis,
vítimas das tusnamis diárias, cotidianas, sem holofotes, sem
ajuda humanitária, nem manchetes dos jornais. Morrem e são
enterrados anonimamente, como as nossas crianças do Ceará.
https://www.alainet.org/de/node/111067
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