Da força social à política

18/01/2005
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O Fórum Social Mundial – que terá este mês, em Porto Alegre, sua quinta edição – enfrenta o dilema mais grave desde o seu surgimento. Criado sob o lema de que “um outro mundo é possível”, depara-se hoje com uma realidade dominada pelas guerras, pela hegemonia imperial e pelas não menos devastadoras políticas de “livre comércio”, sem ter conseguido até agora avançar na construção desse outro mundo. A que se deve isso e como caminhar para essa construção deve ser o tema central do próximo Fórum, de cuja resposta depende seu futuro. Logo após a realização do I. Fórum, o planeta foi ocupado pelas guerras do império – cujos principais epicentros são o Iraque, a Palestina, o Afeganistão e a Colômbia -, munido de sua doutrina de guerra e de seu arsenal bélico. Apesar de terem se realizado nos cinco continentes algumas das maiores manifestações da história contra a guerra do Iraque, não foi possível impedi-la e – pior – não fomos capazes de dar continuidade a essas mobilizações, enquanto as guerras imperiais seguem seu curso de destruição e horror – de que Faluja é o mais recente símbolo. Elaborar alternativas ao mundo dominado pelas duas caras da mesma hegemonia imperial – a “livre comércio” e as guerras – é fundamental para não restringir o movimento às críticas e à resistência. Mas para que essas alternativas ganhem força real e possam iniciar a construção de outro mundo, é preciso dar igual atenção à luta pela construção da força que será capaz de torna-las vencedoras. Se tomarmos uma das vitórias logradas pelo movimento, podemos orientar-nos pelos caminhos possíveis para avançar. A formação do Grupo dos 20, na reunião da OMC em Cancun, representou passo importante na construção de uma frente de resistência às políticas da OMC e das grandes potencias capitalistas. Esse triunfo foi possível pela força acumulada desde as mobilizações de Seattle, passando pelas que se multiplicaram em vários paises desde então, incluindo a própria constituição do FSM. Uma combinação da mobilização social com a difusão dos nossos argumentos contra a OMC e com a força de políticas governamentais que puseram um freio ao que era um campo livre de ação das grandes potências, fizeram ressurgir uma forma de organização dos países do Sul do mundo – os “globalizados” -, praticamente desaparecida do cenário político há mais de duas décadas. Se não conseguirmos transformar força social e ideológica em forca política, não conseguiremos construir alternativas. Ou formulamos e colocamos em prática uma outra forma de articular os planos social e política – sem abandonar magicamente este, acreditando que se pode prescindir de intervir nas relações de poder -, ou nossa mobilização ficará restrita a um encontro de intercâmbios, de protesto, de testemunho. Se queremos não apenas isso, mas mudar o mundo, temos de impor uma dinâmica política nova: discutir caminhos para construir o outro mundo, fazer balanços dos passos dados e dos seus problemas, programar ações e projetar alternativas e os caminhos para sua realização. Um balanço global da situação atual da força que dispomos – como ; que será feito no FSM em seminário de que participarão Boaventura de Souza Santos, Bernard Cassen, Tariq Ali, François Houtart, Atílio Borón, Walden Bello, João Pedro Stélide, Ana Esther Ceceña, Moacir Gadotti, Raul Pont, Emir Sader – é indispensável e urgente, assim como enfrentar a questão da guerra, da resistência às potencias imperiais e de construção de soluções justas e pacíficas para os conflitos bélicos. Disso depende, em grande parte, o sucesso e o futuro do Fórum Social Mundial.
https://www.alainet.org/de/node/111196
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