Contra a violência

10/04/2007
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"Solidariedade e paz" é o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, que teve início na Quarta-Feira de Cinzas e irá até o Domingo de Páscoa. A promoção é do Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil), que reúne as Igrejas católica, católica ortodoxa siriniana, cristã reformada, episcopal anglicana, evangélica de confissão luterana, metodista e presbiteriana unida. O documento-base, encontrado em livrarias religiosas, traz dados estarrecedores: a cada 7 segundos morre uma criança de fome; para cada dólar que a ONU gasta em missões de paz, o mundo investe US$ 2 mil em guerras; em 2003 o total mundial de gastos militares somou US$ 960 bilhões; as minas terrestres causam 55 mil vítimas anuais. Quanto ao Brasil, a Campanha da Fraternidade alerta: "nossa economia não está organizada para atender às necessidades e direitos básicos das classes populares." De 1993 a 2002, o número de jovens de 15 a 24 anos cresceu 88,6%. Muitos não terminam o ensino fundamental e dentre eles figura a maioria dos assassinos e dos assassinados. A PM do Rio matou 1.195 pessoas em 2003, ou seja, 3 vítimas por dia. Dessas, 65% não tinham antecedentes criminais e 61% dos mortos receberam tiros na cabeça e nas costas. A reforma agrária está por ser feita, a violência rural recrudesce, a violência cultural penaliza indígenas, negros, mulheres, homossexuais, portadores de deficiências, egressos penais e minorias étnicas. Para as sete Igrejas cristãs, a violência estrutural revela a sua face cruel na desigualdade social. Cinco mil famílias brasileiras, o equivalente a 0,01% da população, têm em mãos um patrimônio de R$ 700 bilhões (média de R$ 140 milhões por família). A violência onera o Brasil em 10,5% do PIB, cerca de R$ 160 bilhões por ano. Apenas em gastos de saúde o seu custo é de 1,9% do PIB, aproximadamente R$ 30 bilhões. No âmbito doméstico, a violência atinge proporções preocupantes. Segundo o Ministério da Saúde, as agressões constituem a principal causa de morte de crianças e jovens de 5 a 19 anos. A maior parte ocorre dentro de casa. O Unicef estima que, diariamente, 18 mil crianças e adolescentes são espancados em nosso país. Todo ano cerca de 2,1 milhões de mulheres sofrem espancamento em mãos de maridos, ex-maridos ou namorados, o que equivale a 4 mulheres agredidas por minuto. Diante desse quadro dramático, a Campanha da Fraternidade nos convida a tecer vínculos de solidariedade e, através da justiça e do direito, construir a paz. Paz não é ausência de conflitos. "Trocar a utopia da harmonia planetária ­ diz o documento ­ pela tranquilidade do condomínio fechado, erguer muros materiais ou simbólicos para não ver o mundo se deteriorando, fechar as janelas do carro, é aceitar uma vida mal-vivida." A violência se enfrenta com indignação, reconhecimento dos direitos de todos, superação da fome e da miséria, justa distribuição de renda, preservação do meio ambiente e o efetivo exercício da cidadania ao alcance de todos. Sobretudo através da não-violência ativa, a exemplo de Mahatma Gandhi (1869-1948) e Martin Luther King (1929-1968). O primeiro era hindu, o segundo, batista. Seus testemunhos em favor da justiça e da paz se somam ao de madre Teresa de Calcutá (católica), Albert Schweitzer (luterano), dom Helder Camara (católico), Desmond Tutu (anglicano) e Nelson Mandela (metodista). O exemplo mais significativo do que é solidariedade na construção da paz é a parábola do Bom Samaritano (Lucas 10). Nela Jesus responde à pergunta: o que significa amar o próximo? Próximo não é o meu parente, aquele que conheço e está perto de mim. É o necessitado, o pobre, o saqueado, o espoliado, o marginalizado que não conheço e, no entanto, modifico o meu caminho (conversão) para libertá-lo da opressão. Assumo como minhas as dores dele. Faço-me próximo a ele. Cuido até que possa caminhar pelas próprias pernas. Ouçamos o apelo e a proposta da Campanha da Fraternidade, pois não haverá paz no futuro se não houver justiça no presente. Hoje, o novo nome da Fraternidade, prenunciada pela Revolução Francesa como um dos três valores da cidadania, ao lado da Igualdade e da Liberdade, é Solidariedade. Mais informações: www.conic.org.br e conic.brasil@terra.com.br * Frei Betto é escritor, autor de ³Típicos Tipos ­ coletânea de perfis literários² (A Girafa), entre outros livros.
https://www.alainet.org/de/node/111343?language=es
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