O inquebrantável João Paulo II
15/03/2005
- Opinión
O longo pontificado de João Paulo II marcou a presença da Igreja Católica em duas esferas de decisão: na mídia e na política internacional, influindo no conflito entre árabes e israelenses, na contenda entre Chile e Argentina pelo Canal de Beagle, na derrubada do bloco socialista no Leste europeu, e na crítica ao modelo neoliberal de globalização.
Wojtyla tornou-se papa muito cedo: aos 58 anos. Com certeza passará à história como o pontífice que, graças às comunicações sem fronteiras e em tempo real, e à rapidez das viagens aéreas, arrancou o papado de seu histórico confinamento no Vaticano. Nenhum papa visitou tantas nações como ele, favorecido por ser admirável poliglota.
Um dos méritos menos conhecidos de João Paulo II é o seu apoio intransigente às causas sociais. São inúmeros os pronunciamentos, inclusive encíclicas, a favor da reforma agrária, da liberdade sindical e de uma economia centrada nos direitos da maioria. Decepcionado com os rumos dos países da ex-União Soviética, entregues às oscilações do mercado e, agora, em pleno processo de ³latinoamericanização², ele tem enfatizado suas críticas ao neoliberalismo.
Coração de esquerda e cabeça de direita, sensível ao drama dos pobres e intransigente nas questões doutrinárias, João Paulo II não abriu sequer uma pequena janela em relação ao acesso das mulheres ao sacerdócio e ao fim do celibato obrigatório para os padres. Em questões de moral, sua atitude primou pelo conservadorismo, rejeitando o uso de preservativos, ainda que haja o risco de Aids, e só admitindo relações sexuais dentro do matrimônio e quando destinadas à procriação.
O pontífice é um homem sofrido. Jovem, foi atropelado por um caminhão; conheceu o terror da Segunda Guerra Mundial; foi vítima do atentado que lhe cravou um tiro; quebrou a perna; padece agora do mal de Parkinson. No entanto, ele enverga mas não quebra.
João Paulo II tem condições de saúde para governar uma instituição tão complexa como a Igreja? Há quem diga que a Cúria Romana prefere assim, pois teme que um novo papa a impeça de exercer o poder de fato. A Igreja não requer que o papa seja vitalício. Em 2005 anos de história, há um único caso de renúncia papal: Pedro Morrone, que tomou o nome de Celestino V. Eleito em agosto de 1294, renunciou quatro meses depois, alegando querer salvar sua saúde física e espiritual. Curioso, a festa de são Pedro Morrone, a 19 de maio, coincide com o natalício de Karol Wojtyla.
* Frei Betto é escritor, autor de ³Treze contos diabólicos e um angélico² (Planeta), entre outros livros.
https://www.alainet.org/de/node/111608?language=es
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