Governo Uribe aposta na repressão e na guerra
02/01/2008
- Opinión
Depois de quase uma semana de negociações, informações desencontradas e tensão política, foi suspensa a Operação Emmanuel, na qual as Forças Armadas Revolucionárias Colombiano-Exército Popular (Farc-EP) libertariam três prisioneiros que se encontram em seu poder. Agora não se sabe por quanto tempo ficará adiado o início da troca humanitária de prisioneiros entre a guerrilha e o governo colombianos.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, continua exibindo otimismo, diz que se trata de uma suspensão temporária, sugere que a operação mude de forma, transfigure-se, sofra variações. Por via das dúvidas, manteve em Villavicencio, enquanto o governo colombiano permitir, os helicópteros disponibilizados para o resgate. Mas ficou mais distante o êxito da Operação Emmanuel, como a troca humanitária de prisioneiros e mais distante ainda o início de um efetivo diálogo entre o governo e as forças insurgentes visando à paz.
O anúncio de que ainda não pôde ser concretizado o gesto de boa vontade das Farc-EP frustrou os prisioneiros e suas famílias, como também o presidente venezuelano Hugo Chávez, que tomou as iniciativas políticas pertinentes, conduziu os entendimentos e criou todas as condições diplomáticas e materiais necessárias ao êxito da operação e as delegações internacionais representativas de governos estrangeiros, de que faziam parte também a senadora colombiana Piedad Córdoba, líder em seu país dos esforços pela troca humanitária de prisioneiros e o cineasta norte-americano Oliver Stone, que pretendia filmar o acontecimento como simbólico de uma mudança de situação na Colômbia. Frustraram-se as expectativas de todos os amantes da democracia e da paz no continente latino-americano, os movimentos pelos direitos humanos, de solidariedade e lutadores por uma solução democrática, justa e duradoura para o conflito que há cerca de cinco décadas marca a vida política e social na Colômbia.
A mídia, sempre pressurosa na defesa de posições reacionárias, baralha as cartas e difunde mentiras, atribuindo a responsabilidade pelo malogro da Operação Emmanuel à guerrilha colombiana. E numa demonstração de sua mesquinhez e de que nem de longe seu interesse é a libertação dos prisioneiros, cinicamente festeja “mais um fracasso de Hugo Chávez” como fez o vetusto O Estado de S. Paulo em sua edição de 1º de janeiro.
A suspensão da operação Emmanuel deve-se única e exclusivamente à atitude traiçoeira de Uribe Vélez. O presidente colombiano deu sinal verde para a realização do resgate com a intermediação venezuelana, mas nada fez para desmilitarizar a área. A falta de garantias foi determinante para o recuo das Farc-EP. Numa carta tornada pública pelo presidente Chávez, os guerrilheiros explicam a impossibilidade de entregar os prisioneiros por não haver garantias de segurança. O exército revolucionário foi claro em sua decisão de não colocar em risco a vida dos prisioneiros nem dos guerrilheiros. No pronunciamento que fez em Villavicencio, o presidente da Colômbia referiu-se à “redução das operações militares”, quando é óbvio que para o êxito de uma operação tão delicada o necessário é a desmilitarização da área. A Agência Noticiosa Nova Colômbia (www.anncol-brasil.blogspot.com) reproduz notícia publicada no jornal argentino La Nación em 31 de dezembro de 2007: “Ontem inclusive o alto comissário para a paz na Colômbia, Luis Restrepo, havia comunicado ao ex-presidente Nestor Kirchner e a Marco Aurélio Garcia, assessor do governo brasileiro, que não podia garantir a segurança dos reféns nem a deles mesmos para a prevista incursão na selva”.
Isto explica a dureza das críticas de Chávez ao presidente colombiano, em linguagem que pode ultrapassar os cânones do protocolo diplomático mas que em nada lhe retira a razão: “Ele (Uribe) foi (a Villavicencio) lançar uma bomba sobre o processo humanitário e deve assumir sua responsabilidade perante o mundo como presidente da Colômbia, porque não tenho a menor dúvida de que é seu governo e suas ações que estão tentando abortar o procedimento” (www.aporrea.org).
Do episódio fica evidente que as Farc-EP constituem uma força política que atua com critérios políticos. A disponibilidade do seu comando para a troca humanitária de prisioneiros, o diálogo e a busca de uma solução política para o conflito armado põe por terra tese do imperialismo estadunidense e seus lacaios na Colômbia e em toda a América Latina de que se trata de uma organização “narcoterrorista”.
Também vem à tona que o governo de Uribe Vélez não quer a paz, sua aposta é a escalada militar, seu objetivo não é pôr fim ao conflito como expressão de uma conquista democrática da luta do povo colombiano, mas pura e simplesmente a aniquilação da guerrilha, contando com apoio político, logístico, financeiro e militar do imperialismo estadunidense. Sem dúvida fracassará. A Colômbia quer e merece a paz e a conquistará. Não a paz desonrosa resultante de uma capitulação ou da vitória militar dos seus opressores, mas a paz justa e democrática. Os fatos evidenciam que esta paz pressupõe a substituição do regime das classes dominantes e da dominação imperialista, do que é expressão o governo reacionário de Uribe Vélez.
Merece destaque também, numa leitura política mais ampla, o fortalecimento da idéia da integração e da solidariedade entre os países latino-americanos, materializada na mediação conduzida pelo presidente venezuelano - que ratifica sua liderança e demonstra qualidades de estadista internacionalista - e na mobilização de uma representativa delegação internacional, da qual fez parte também o governo brasileiro.
José Reinaldo Carvalho
Secretário de Relações Internacionais do PCdoB
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, continua exibindo otimismo, diz que se trata de uma suspensão temporária, sugere que a operação mude de forma, transfigure-se, sofra variações. Por via das dúvidas, manteve em Villavicencio, enquanto o governo colombiano permitir, os helicópteros disponibilizados para o resgate. Mas ficou mais distante o êxito da Operação Emmanuel, como a troca humanitária de prisioneiros e mais distante ainda o início de um efetivo diálogo entre o governo e as forças insurgentes visando à paz.
O anúncio de que ainda não pôde ser concretizado o gesto de boa vontade das Farc-EP frustrou os prisioneiros e suas famílias, como também o presidente venezuelano Hugo Chávez, que tomou as iniciativas políticas pertinentes, conduziu os entendimentos e criou todas as condições diplomáticas e materiais necessárias ao êxito da operação e as delegações internacionais representativas de governos estrangeiros, de que faziam parte também a senadora colombiana Piedad Córdoba, líder em seu país dos esforços pela troca humanitária de prisioneiros e o cineasta norte-americano Oliver Stone, que pretendia filmar o acontecimento como simbólico de uma mudança de situação na Colômbia. Frustraram-se as expectativas de todos os amantes da democracia e da paz no continente latino-americano, os movimentos pelos direitos humanos, de solidariedade e lutadores por uma solução democrática, justa e duradoura para o conflito que há cerca de cinco décadas marca a vida política e social na Colômbia.
A mídia, sempre pressurosa na defesa de posições reacionárias, baralha as cartas e difunde mentiras, atribuindo a responsabilidade pelo malogro da Operação Emmanuel à guerrilha colombiana. E numa demonstração de sua mesquinhez e de que nem de longe seu interesse é a libertação dos prisioneiros, cinicamente festeja “mais um fracasso de Hugo Chávez” como fez o vetusto O Estado de S. Paulo em sua edição de 1º de janeiro.
A suspensão da operação Emmanuel deve-se única e exclusivamente à atitude traiçoeira de Uribe Vélez. O presidente colombiano deu sinal verde para a realização do resgate com a intermediação venezuelana, mas nada fez para desmilitarizar a área. A falta de garantias foi determinante para o recuo das Farc-EP. Numa carta tornada pública pelo presidente Chávez, os guerrilheiros explicam a impossibilidade de entregar os prisioneiros por não haver garantias de segurança. O exército revolucionário foi claro em sua decisão de não colocar em risco a vida dos prisioneiros nem dos guerrilheiros. No pronunciamento que fez em Villavicencio, o presidente da Colômbia referiu-se à “redução das operações militares”, quando é óbvio que para o êxito de uma operação tão delicada o necessário é a desmilitarização da área. A Agência Noticiosa Nova Colômbia (www.anncol-brasil.blogspot.com) reproduz notícia publicada no jornal argentino La Nación em 31 de dezembro de 2007: “Ontem inclusive o alto comissário para a paz na Colômbia, Luis Restrepo, havia comunicado ao ex-presidente Nestor Kirchner e a Marco Aurélio Garcia, assessor do governo brasileiro, que não podia garantir a segurança dos reféns nem a deles mesmos para a prevista incursão na selva”.
Isto explica a dureza das críticas de Chávez ao presidente colombiano, em linguagem que pode ultrapassar os cânones do protocolo diplomático mas que em nada lhe retira a razão: “Ele (Uribe) foi (a Villavicencio) lançar uma bomba sobre o processo humanitário e deve assumir sua responsabilidade perante o mundo como presidente da Colômbia, porque não tenho a menor dúvida de que é seu governo e suas ações que estão tentando abortar o procedimento” (www.aporrea.org).
Do episódio fica evidente que as Farc-EP constituem uma força política que atua com critérios políticos. A disponibilidade do seu comando para a troca humanitária de prisioneiros, o diálogo e a busca de uma solução política para o conflito armado põe por terra tese do imperialismo estadunidense e seus lacaios na Colômbia e em toda a América Latina de que se trata de uma organização “narcoterrorista”.
Também vem à tona que o governo de Uribe Vélez não quer a paz, sua aposta é a escalada militar, seu objetivo não é pôr fim ao conflito como expressão de uma conquista democrática da luta do povo colombiano, mas pura e simplesmente a aniquilação da guerrilha, contando com apoio político, logístico, financeiro e militar do imperialismo estadunidense. Sem dúvida fracassará. A Colômbia quer e merece a paz e a conquistará. Não a paz desonrosa resultante de uma capitulação ou da vitória militar dos seus opressores, mas a paz justa e democrática. Os fatos evidenciam que esta paz pressupõe a substituição do regime das classes dominantes e da dominação imperialista, do que é expressão o governo reacionário de Uribe Vélez.
Merece destaque também, numa leitura política mais ampla, o fortalecimento da idéia da integração e da solidariedade entre os países latino-americanos, materializada na mediação conduzida pelo presidente venezuelano - que ratifica sua liderança e demonstra qualidades de estadista internacionalista - e na mobilização de uma representativa delegação internacional, da qual fez parte também o governo brasileiro.
José Reinaldo Carvalho
Secretário de Relações Internacionais do PCdoB
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