Brasil e OEA: Atritos
25/05/2011
- Opinión
A OEA (Organização dos Estados Americanos), em nome da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), em carta ao governo brasileiro, no início de abril, solicita a suspensão imediata do licenciamento da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A obra apresenta sérios riscos aos povos indígenas que habitam a região do rio Xingu.
O governo Dilma não gostou do puxão de orelhas. Determinou ao Itamaraty redigir uma nota “à altura”, manifestando a sua perplexidade. O ministro Patriota, das Relações Exteriores, qualificou de “precipitadas e injustificáveis” as recomendações da CIDH.
Segundo a OEA, as comunidades indígenas da região não foram ouvidas sobre a obra. Mais uma vez, os caras-pálidas julgam saber o que é bom para os peles vermelhas... Essa arrogante convicção provocou o genocídio de milhões de índios ao longo de cinco séculos de América Latina. Em nome do progresso, sacrificam-se nossos povos originários.
A OEA defende o direito de os indígenas do Xingu terem acesso ao Estudo de Impacto Social e Ambiental do projeto de Belo Monte. Exige também que medidas “vigorosas e abrangentes” sejam tomadas para proteger a vida e os direitos das nações indígenas.
Com o início da construção da usina, milhares de pessoas, em busca de trabalho, se deslocarão para a região, com risco de levarem epidemias, alcoolismo e prostituição aos índios, além dos desequilíbrios ambientais que a hidrelétrica poderá causar.
O governo brasileiro acaba de assinar, em Genebra, resolução da ONU para investigar a violação dos direitos humanos no Irã. Mas se sente incomodado quando a OEA decide fazer o mesmo no Brasil. Dois pesos, duas medidas.
E se o governo Dilma decidir ignorar a solicitação da OEA? Ele corre o risco de ser julgado pela CIDH e, em última instância, pode ser expulso da OEA. Ainda que isso não ocorra, a imagem de nosso país fica prejudicada no cenário internacional. Sobretudo no momento em que o governo Dilma marca diferença com o governo Lula e enfatiza que, na política externa, os direitos humanos terão prioridade, e não os interesses econômicos. (A China entra nisso?)
O que é “injustificável e precipitado”, a advertência da OEA ou a construção da hidrelétrica de Belo Monte? Por que essa resistência em consultar os povos indígenas do Xingu? Por que o Ministério Público do Pará entrou na Justiça com dez ações contra Belo Monte?
Progresso não é fazer obras em detrimento de comunidades e ecossistemas. Há que mudar o paradigma do lucro para a qualidade de vida da população. Enquanto isso não ocorrer, nossas cidades continuarão a serem entupidas de carros – pois a indústria automotora paga gordos tributos ao governo – sem que seja oferecido à população transporte coletivo de qualidade, como metrô.
- Frei Betto é escritor e autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros. www.freibetto.org - twitter:@freibetto
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