Diário do Marrocos (I): A chegada

05/12/2011
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18 horas depois de sair da minha casa no Rio, chego ao hotel de Rabat. 11 horas de vôo a Paris e outras 3 até a capital do Marrocos. O resto é trajeto até e desde os aeroportos, trâmites de viagens, conexão, etc.

(E dizer que nos anos 60 havia um vôo do Concorde que ligava Paris ao Rio em 4 horas. Mas não era rentável e foi cancelado. Exemplo claro de como as relações de produção capitalistas, baseadas no lucro e não no bem estar das pessoas, se choca com o desenvolvimento das forças produtivas, da capacidade tecnológica dos seres humanos. Meio século depois seguimos levando 11 horas para um trajeto que era possível fazer em praticamente 1/3 do tempo.)

A chegada já mostra que cruzar o Mediterraneo não é apenas levar 3 horas desde Paris ou 2 desde Madri ou menos de 1 hora desde Malaga. É sair de um dos centros do mundo globalizado para chegar à sua periferia globalizada.

Não ha ‘“fingers” (felizmente) no aeroporto, que costuma ser o corredor do não-lugar, que achata todos os lugares do mundo como se fossem partes do mesmo edifício, seja os aeroportos de Bruxelas, Maceió ou Cidade do México. Aqui se desce de escadas ao cima tropical e às pessoas de carne e osso que nos recebem. (Me recebem muito bem, acho que porque acham que Emir é um titulo.)

Apesar da fama das belezas do Marrocos – que há quem considere o país mais bonito do mundo – dá a impressão que não é lugar escolhido pelos europeus para férias ou para passeios, apesar também da proximidade. No aeroporto – simpaticamente ao estilo antigo, cheio de gente com caras familiares para nós – nada de turismo. No único guichê de informações, nenhum mapa do país ou da cidade, nenhum guichê turístico oferendo passeios pela cidade ou para Casablanca, ou Fez ou Marrakech. No máximo uma lista dos preços dos táxis para essas e outras cidades do país, de forma indiferenciada. E um guichê de aluguel de autos, das companhias conhecidas – Hertz, Avis – mas também sem mapas ou cartazes que busquem atrair para as belezas do país.

O Marrocos não é um dos epicentros da primavera árabe, mas não está alheio a ela. Assim que foram surpreendidos pelas manifestações e quedas de governos dos seus amigos no Egito e na Tunisia, vários monarcas da região – este incluído – tiveram um acesso de liberalismo – e prometeram o gesto audaz de passar de monarquias a monarquias constitucionais, tolerando alguns partidos de oposição. Aqui pelo menos isso impediu grandes manifestações populares contra o rei, insuficientes até aqui para derrubá-lo, mas que demonstram que o descongelamento dos regimes ditatoriais árabes é uma realidade.

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=834

 

https://www.alainet.org/de/node/154483
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