Chico Whitaker:
FSM deste ano, na Tunísia, mostra desafios de um novo mundo possível
09/02/2013
- Opinión
Co-fundador do Fórum Social Mundial (FSM), o arquiteto, político e ativista social brasileiro Francisco Whitaker Ferreira falou à correspondente do Correio do Brasil em Paris, Marilza de Mello Foucher, sobre a nova edição do FSM no coração do Magreb. Chico Whitaker ajudou a organizar o Projeto Ficha Limpa, que hoje impede a candidatura de cidadãos que respondem a processos na Justiça, e leva a ideia de organização da sociedade civil mais longe no mundo. Desta vez, na Tunísia, entre os dias 26 e 30 de março, na capital Tunis. O principal desafio que hoje se mostra cada vez maior, segundo Whitaker, é o de disseminar ideias e conceitos sociais libertários.
– Naturalmente, na batalha da comunicação, numa democracia, que é também uma batalha da “explicação” do que ocorre e do que se pode fazer, há espaço para todos os tipos de propostas e críticas – afirmou.
Leia, agora, a íntegra da entrevista publicada também em francês no jornal Mediapart-Paris, e em árabe no site das organizações da sociedade civil E- Joussour do Magrebe e Machrech.
– Chico Whitaker, você é o co-fundador do Fórum Social Mundial, nascido em Porto Alegre em 2001. Ao longo de doze anos de existência que balanço você faz hoje desta iniciativa?
– Para fazer balanços é preciso comparar o obtido com os objetivos que se tinha. Permita-me então recordar esses objetivos. Eles na verdade foram se completando e se definindo mais claramente à medida que os Fóruns iam se realizando, a cada ano depois de 2001. Vou me ater a quatro objetivos principais.
O primeiro era o de fazer com que fosse ouvido no mundo um grito de esperança: quando parecia, após a queda do muro de Berlim, que não se apresentava ao mundo, alternativas, senão, a de submeter todas as atividades humanas ao domínio da lógica do mercado – TINA (there is no alternative), como dizia Thatcher – no FSM afirmou-se que “outro mundo é possível”. Era a contestação ao “pensamento único” difundido no mundo inteiro pelo Fórum Econômico Mundial de Davos, cuja realização ocupava sempre grandes páginas de todos os jornais. Contrapondo-se a esse pensamento, criou-se um Fórum que não era Econômico, mas sim Social, no qual se poderia mostrar que era possível construir um mundo centrado não nos interesses do dinheiro e do lucro, mas, nas necessidades dos seres humanos.
Esse objetivo está sendo de certa forma, alcançado, com a multiplicação, a partir de 2001, de Fóruns Sociais a todos os níveis (mundial, regional, nacional e local), nos quais, a referência é sempre “o outro mundo é possível”; e, se constata hoje, que ele já estava em construção, pela ação de cidadãos insatisfeitos e inquietos com as perspectivas difíceis que a Humanidade tinha à sua frente. Entretanto, a mensagem de esperança ainda não se espalhou a todas as regiões e países, e, em todos os rincões de cada país.
Os iniciadores do FSM perceberam também, ao organizar um encontro em que se reuniriam os mais diversos movimentos e organizações que lutavam por mudar o mundo, que era necessário inovar nas práticas políticas. Eles afirmaram então a necessidade de construir uma nova cultura política, baseada na diversidade, na horizontalidade e na busca da união de todos – que é o que poderia torná-los mais fortes. Essa busca de uma nova cultura política já tinha sido lançada, desde muitos anos antes, pelos Zapatistas do México, com sua perspectiva de “comandar obedecendo”. Após o primeiro Fórum seus organizadores redigiram então o que chamaram de Carta de Princípios do FSM, com o que eles consideraram que eram as bases sobre as quais poderia se apoiar a construção de uma nova cultura política.
Em que pé estamos agora, depois de doze anos, tocante a esse objetivo? Foi nitidamente fortalecida a idéia de que uma nova cultura política é necessária – e mesmo absolutamente necessária para mudar efetivamente o mundo – mas constatou-se que construí-la é uma tarefa extremamente difícil. Vivemos avanços e retrocessos, porque ela exige também a mudança dentro de cada um dos que dela participam, para “desaprender” hábitos e métodos arraigados na esquerda há mais de cem anos.
De qualquer forma avança-se, assim mesmo. Uma prova é o fato dos eventos mundiais – do que agora nós chamamos “processo do Fórum Social Mundial” – continuarem sendo fundamentalmente “espaços abertos” horizontais em que se busca respeitar ao máximo a Carta de Princípios: são encontros de intercambio de conhecimentos e experiências, sem chefes nem porta-vozes, sem declarações finais únicas, com uma presença extremamente diversificada de participantes que se respeitam em sua diversidade, e que vão aos Fóruns para participar de atividades que eles próprios propõem (nos FSM também não se decide de cima para baixo quais os temas a discutir: estes são os que os participantes proponham, através das atividades auto-organizadas que inscrevam). A opção por articulações em rede e não em pirâmides – nestas se insinua sempre a luta pelo poder, motivação básica da cultura política “velha” – foi se firmando nas alianças novas que surgiam.
Mas isto não significa que esses princípios de uma nova cultura política estejam sendo tranquilamente incorporados pelos movimentos e organizações também nas suas próprias estruturas e modos de funcionamento. Ou seja, temos ainda uma longa caminhada pela frente.
Em terceiro lugar o primeiro fórum já se apoiava também na constatação de que um novo ator político emergia no mundo: a “sociedade civil” – autônoma em relação a partidos e governos. A grande manifestação ocorrida dois anos antes contra a OMC em Seattle, nos Estados Unidos, mostrou que essa “sociedade civil” já existia de fato – e que, aliás, a organização em rede era a mais adequada à sua própria articulação e a mais eficaz. Os organizadores do FSM optaram então por reservar esses encontros mundiais aos movimentos e organizações da sociedade civil, que até então não tinha nenhuma plataforma dessa dimensão onde pudessem se reconhecer mutuamente, intercambiar experiências, identificar convergências, construir alternativas de ação e lançar novas iniciativas de luta, para construir um mundo mais justo e igualitário.
Quanto a este objetivo, não há dúvida de que o FSM contribuiu muito para que a sociedade civil se afirmasse como ator político autônomo, como por exemplo, nas mobilizações paralelas às grandes conferências temáticas da ONU; e mais recentemente no florescimento em muitos lugares do mundo de iniciativas como as dos “indignados” na Espanha e as dos “occupy” nos Estados Unidos. Assim como as manifestações populares que derrubaram ditaduras na Primavera Árabe, essas mobilizações sociais são uma prova evidente de que a “sociedade civil” não precisa nem de partidos nem de governos para se expressar e ter força política.
Em quarto lugar, os organizadores do Fórum afirmaram que, naquela fase da luta contra o domínio da lógica do lucro e do mercado, era fundamental não somente resistir e protestar, como muitos vinham fazendo, mas propor alternativas concretas sobre a forma de solucionar os problemas do mundo e construir outra sociedade.
As crises que o sistema capitalista vem vivendo já permitiram que essas alternativas fossem amplamente identificadas e propostas, não somente nos espaços criados pelo processo do Fórum como em muitos outros espaços de discussão do que se passa no mundo. E novos temas foram incorporados nessa busca, especialmente os referentes ao meio ambiente, que se tornou uma preocupação mais generalizada.
Já a concretização dessas alternativas é um passo muito mais difícil do que sua identificação. Porque aí surge a função dos governos e do Estado, através dos quais as mudanças estruturais podem ser feitas. E por detrás das possibilidades da ação de governos e Estados está a relação de forças em que, de um lado, temos um capitalismo que se julgou vitorioso com a queda do Muro de Berlim e, terminada a Guerra Fria, se expandiu enormemente, sem limites éticos que o impeçam de agir, invadindo com sua lógica o mundo inteiro, e até grandes redutos socialistas como a China; e de outro lado, alguns poucos partidos voltados a uma mudança efetiva e não a uma simples disputa de poder, e uma sociedade civil ainda extremamente fragmentada.
Ademais, é desproporcional o poder de cada um desses lados no uso dos meios de comunicação de massa. O sistema capitalista, ao qual quase todos os governos estão submetidos, tem uma enorme máquina de propaganda, de controle e manipulação das informações e de exacerbação do consumismo (através de uma publicidade onipresente), frente ao qual quase só nos cabe “manifestar” nas ruas – ainda que hoje a comunicação através da internet comece a nos ajudar. Trava-se no mundo de hoje uma enorme batalha no campo da comunicação, pela conquista da adesão dos corações e mentes. Quem hoje acha possível efetivamente, outro mundo? Nós que lutamos por ele já estamos dizendo que ele, além de possível, é absolutamente necessário, e, extremamente urgente… Mas, a que distância nós estamos até mesmo simplesmente de resultados eleitorais mais favoráveis a essa mudança!
– Em 2001, vocês pensavam que os atores locais dos diferentes países, dentro de sua pluralidade, tinham alternativas a propor para contrapor às políticas neoliberais. Nos primeiros Fóruns houve um verdadeiro desfile de Presidentes, Ministros de diferentes países do mundo. Que proposições oriundas do FSM foram colocadas em práticas?
– Creio haver respondido um pouco a essa pergunta na minha longa primeira resposta, mas é possível dizer que muitas propostas discutidas no processo do FSM – e em outros espaços de busca de alternativas que se interpenetram pelo mundo afora – estão ganhando terreno. Por exemplo, uma das questões levantadas nos primeiros fóruns, que era a dos paraísos fiscais e a do controle de transações financeiras internacionais, não deixa de ganhar espaço em programas de governo – levando até candidatos a chefias de Estado ou mesmo presidentes eleitos a participarem dos FSM para reafirmar seus compromissos.
Mas o poder dos grandes interesses fica claro quando se vê a dificuldade dos governos realizarem essas promessas ou assumirem efetivamente outros compromissos, como por exemplo, os dramaticamente exigidos pelo aquecimento global e outras questões ambientais que colocam cada vez mais em risco a continuidade da vida no planeta. Quando teremos condições de conseguir que nossos governos proíbam, por exemplo, o uso e a comercialização dos mais diversos tipos de venenos que chegam às nossas mesas de refeição? Como “dobrar” a vontade insaciável de lucro das empresas que ganham com isso? Nem falemos das guerras, como a invasão do Iraque, um bom exemplo do tamanho da dificuldade. Respondendo a uma conclamação feita não pelo FSM – que é um espaço e não um movimento – mas pelos movimentos e organizações que difundiram esse apelo no Fórum Social Europeu de 2002 e no Fórum Social Mundial de 2003, 15 milhões de manifestantes pela Paz foram às ruas em fevereiro de 2003. Mas mesmo essa gigantesca mobilização – a maior da história da Humanidade, segundo o “Guinness Book dos Recordes” – não mudou, infelizmente, a decisão do Governo norte-americano.
– Este ano o FSM – Fórum Mundial Social será no país do “jasmim” onde os jovens quebraram o muro do medo, e, fizeram uma revolução endógena sem ser telecomandada pelo exterior. Estes jovens clamavam por mais liberdade, sonhavam com uma democracia… Todavia, a primavera árabe reforçou o pólo conservador. O partido Ennahada de Rached Ghannouchi, que não esteve na frente do movimento que cassou o ditador Benali do poder, apesar disso, conseguiu recolher a maioria dos sufrágios nas primeiras eleições livres de outubro 2011. Entre o entusiasmo e inquietude existente hoje na sociedade civil tunisiana, principalmente, nas organizações de mulheres, qual realmente o lugar do FSM na Tunísia? Diante desta situação quais os principais desafios para este Fórum Social Mundial?
– O que os jovens pediam na Tunísia não era somente liberdade. Eles sonhavam com a democracia como único caminho para resolver problemas como o da sua sobrevivência econômica – trabalho e emprego – que eles sentiam duramente. E puderam despertar a coragem dos cidadãos do seu país para lutar pela derrubada da ditadura. Mas uma democracia não é, obviamente, uma nova ditadura ao serviço daqueles que antes eram oprimidos. É a abertura a discussão de tudo, à liberdade de expressão e de organização. E os problemas sociais e econômicos de um país que ficou durante vinte anos sofrendo as conseqüências de uma ditadura corrupta a serviço dos “grandes negócios” não são simples. Nenhum partido que tivesse chegado ao poder teria condições de satisfazer as necessidades e anseios de todos no curto espaço de tempo disponível entre a derrubada da ditadura e as primeiras eleições livres.
Naturalmente, na batalha da comunicação, numa democracia, que é também uma batalha da “explicação” do que ocorre e do que se pode fazer, há espaço para todos os tipos de propostas e críticas. É normal, portanto, que, nessas condições, por ocasião das “primeiras eleições livres de outubro de 2011”, como você diz, a população ainda tenha considerado insuficientes as mudanças ocorridas. Outros resultados igualmente “decepcionantes” poderão ocorrer ainda em muitas das próximas eleições. A democracia depois de uma ditadura é uma caminhada, em que os cidadãos têm também que reconstruir adquirir, pouco a pouco, a confiança e o respeito mútuos. E os avanços e retrocessos, a que já me referi quando falava da construção da nova cultura política, ocorrerão também. O desafio é o de não sair da democracia.
Você cita a questão da mulher: esse é um desafio ainda maior em países em que durante muitos anos a igualdade de direitos do homem e da mulher era quase incogitável.
A caminhada nesse aspecto é tão ou mais demorada do que em outras questões sociais.
Sobre a realização de um FSM na Tunísia, diga-se de inicio que a decisão de se realizar um FSM neste ou naquele país não vem de cima para baixo. No processo do FSM não existe uma instância dirigente que tome essa decisão, nem mesmo que dê um aval para que Fóruns Sociais Regionais, Nacionais ou Locais se realizem usando esse nome. O Conselho Internacional do FSM não tem essa atribuição: ele é não é um Conselho de Administração nem um Corpo de Diretores ou órgão de governança. Essa decisão é construída coletivamente e consensualmente em reuniões desse Conselho a partir de propostas feitas pelos movimentos e organizações sociais dos diferentes países. O consenso é formado em torno da escolha mais oportuna politicamente, na perspectiva da luta por um mundo mais justo e igualitário, superando o neoliberalismo. Um FSM na Tunísia pareceu a todos extremamente propício exatamente pelo significado da primavera árabe dentro dessa luta. Inclusive foi ela que inspirou muitos movimentos de jovens que acampam hoje em mil praças pelo mundo afora, exigindo mudanças, como fizeram as sociedades civis tunisianas e egípcias para derrubar as ditaduras em seus países.
Para Tunis afluirão pessoas do mundo todo. Para elas o FSM será uma ocasião de falar diretamente com os atores políticos da “revolução” – como eles chamam seu movimento -, conhecer melhor como as coisas aconteceram na Tunísia e como os diferentes setores sociais foram se incorporando ao processo, e aprender com a coragem, a tenacidade e a esperança dos que começaram a caminhada da Primavera Árabe e a fazem prosseguir. E, no outro sentido, os que virão de fora viveram experiências semelhantes ou outras que os tunisianos viverão mais tarde, e estão construindo saídas para seus problemas. E isto pode ser, para os tunisianos, uma importante fonte de inspiração e de renovação de suas esperanças.
Nesta perspectiva, como os debates que se fazem num Fórum Social são os mais variados, haverá, por exemplo, provavelmente, franceses propondo discussões sobre a questão do gás do xisto, que se coloca também na Tunísia; assim como haverá possivelmente brasileiros (como eu) que levarão à Tunísia a sua experiência de participação popular na elaboração legislativa, desde a Constituinte em 1988 (o que levou há pouco menos de um ano à aprovação pelo Congresso de uma nova lei que está mudando a cultura brasileira no que respeita à corrupção: a lei da Ficha Limpa). Se considerarmos que até a data desta entrevista o número de atividades auto-organizadas, inscritas por movimentos e organizações dos mais diversos países do mundo, era de 1390 (ver fsm2013.org), podemos imaginar a riqueza e a variedade das experiências de que não só os tunisianos como os demais participantes poderão usufruir. E como muitas atividades a se realizarem em Tunis estarão conectadas pela Internet a grupos em outros lugares do mundo que não puderam ir até lá (o chamado “FSM-Tunis expandido”) a potencialidade dos intercâmbios aumentará ainda mais.
O principal desafio do FSM na Tunísia é o de se realizar de fato como uma oportunidade e um instrumento efetivamente útil para a luta dos tunisianos por um país igualitário e justo, e um passo a mais de todos que lutam pelo “outro mundo possível” na busca de formas de enfrentar – novas propostas e novas articulações – os enormes desafios que se colocam hoje para a Humanidade.
– Os países do chamado Sul, tal que o Brasil com a vitalidade de suas redes, de sua sociedade civil organizada, em que vocês poderiam oferecer para ajudar as organizações sociais da Tunísia?
– Acredito que já respondi um pouco essa questão ao tratar das questões anteriores. Mas, dentro do objetivo do FSM, de aumentar a efetiva intercomunicação entre as experiências de luta que se desenvolvem, nos diversos países do mundo, as organizações e movimentos brasileiros que virão a Tunis poderão compartilhar com os tunisianos – e com movimentos de outros países – muito do que estão aprendendo e construindo. Há uma variedade de questões como, por exemplo, da economia solidária, da organização das mulheres, da luta pela terra, ou, mais amplamente, como uma contribuição latino-americana, do conceito de “bem viver” levado pelos autóctones dos países andinos da América Latina ao FSM de 2009, que aponta para o fato de que mundo de hoje vive uma verdadeira crise civilizacional, mais além do que crises econômicas e conseqüências ambientais do crescimento econômico como único objetivo nacional. O processo do Fórum Social Mundial se insere, na verdade, numa longa e profunda busca da utopia, e Tunis será mais um passo nessa caminhada.
Marilza de Mello Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris.
https://www.alainet.org/de/node/164512
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