Com Aécio, não tem olho no olho
À imprensa, PSDB oferece entrevista 'fast-food'
14/10/2014
- Opinión
Reprodução
Reproduções de Aécio Neves feitas de papelão, dispostas
em evento tucano para a tirada de fotos com o 'candidato'
Entre 13 e 19 de outubro é celebrada em todo Brasil a Semana de Luta pela Democratização da Mídia, período em que diversas organizações civis dedicadas a garantir o direito à livre expressão se reúnem para debater as condições necessárias para que o Brasil seja um país com uma imprensa crítica, livre e plural. Anualmente, desde 2009, são organizados protestos, atos culturais, reuniões abertas e outros eventos para divulgar, ao maior número de pessoas, a necessidade de quebrar os monopólios midiáticos e permitir a produção de jornalismo realmente independente.
O recado, no entanto, parece ainda não ter chegado à campanha presidencial tucana. Todos os dias se recebe material curioso da assessoria de imprensa de Aécio Neves: uma entrevista pronta, já editada e dividida em tópicos genéricos – sem expor exatamente quais perguntas foram feitas pelos interlocutores do senador mineiro. Do que se trata? Da transcrição parcial de uma entrevista coletiva após ato de campanha? De material bruto produzido pela própria assessoria para pronta reprodução de veículos alinhados à candidatura do PSDB? Não está claro, mas a prática é recorrente, e reveladora de uma cultura antidemocrática comum ao partido de Aécio e de seus aliados, e que o diferencia de seus adversários.
Como veículo com dificuldade financeira e estrutural natural às iniciativas contra-hegemônicas, a RBA não tem condições de realizar uma cobertura integral da campanha a presidente, com atos políticos relevantes espalhados por todo o território nacional, muitas vezes simultaneamente. A internet, no entanto, permite driblar as distâncias: com a transmissão ao vivo da íntegra de atos de campanha e entrevistas coletivas, tornou-se possível produzir material próprio, original, sem necessidade de grandes deslocamentos. As campanhas de Dilma Rousseff e Marina Silva foram exemplares nesse sentido: em uma ocasião, a reportagem chegou a enviar, de São Paulo, uma pergunta à candidata do PSB que falava à imprensa no Rio de Janeiro.
É óbvio que essas transmissões também passam por edição: o olhar eletrônico, voltado aos ângulos mais generosos das campanhas, não substitui a observação presencial do repórter. Da mesma forma, a coletiva acompanhada à distância não é alternativa à possibilidade de apresentar seu próprio questionamento, com o subsequente direito a "réplica" e "tréplica", ao questionamento da fala do candidato. É mais transparente, no entanto, do que a divulgação apenas de material cuidadosamente editado pela equipe de comunicação, onde não há espaço para qualquer informação que não seja positiva ao candidato.
Assim é a "comunicação" de Aécio Neves: ao longo de toda a campanha, nenhum de seus atos políticos foi transmitido ao vivo. Sua página oficial oferece entrevistas em áudio, mas, mais uma vez, apenas trechos selecionados.
A obsessão do candidato pelo controle da própria imagem e suas idas e vindas contra a livre imprensa são de conhecimento público: há mais de uma década o tucano acumula denuncias de assédio moral contra jornalistas, conluio com meios de comunicação e censura a mídias independentes; casos que, apesar das abundantes evidências, ainda carecem de esclarecimento da parte de Aécio, que deveria ser o maior interessado em esclarecer esse tipo de questão.
É por isso, e em respeito ao espírito da Semana Nacional de Luta pela Democratização da Comunicação, que a RBA faz um convite ao candidato Aécio Neves: dê uma entrevista de verdade a nossa equipe e prove que está disposto a debater o projeto político que representa de forma transparente, sem pré-seleção de mídias favoráveis ou edição unilateral do conteúdo. O tema, é claro, será livre. Vamos conversar?
15/10/2014
https://www.alainet.org/de/node/164732
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