Sentado na minha sala, olhando para a janela, e vendo as gotas que descem lentamente na pelos vidros questiono: por que tantas pessoas tem medo da chuva? Se olharmos, de forma mais direta para o nosso íntimo, talvez este receio reflita, num fenômeno da natureza, também o medo de nos envolvermos de forma mais profunda com o ambiente em que vivemos e, no mesmo caminho, com as pessoas que nos cercam.

Refletir sobre pensamentos, sobre modos de agir e de se portar diante dos desafios não é fácil. É muito mais tranquilo se esconder debaixo das paredes protetoras do refúgio, do que caminhar pela chuva, olhar com altivez para a beleza selvagem dos raios, e sentir o vibrar das trovoadas.

A chuva, meus amigos, rega as plantas, alimenta os rios, oxigena a vida, e permite que o mundo, todos os dias, se transforme! É, como todos os elementos da natureza, é essencial para a reprodução das espécies, e sem ela jamais existiríamos.

É evidente que a natureza reage quando maltratada e nos assola com enchentes e com momentos de chuva intermináveis. Mas a chuva, parodiando Martin Luther King, não nos impede de caminhar, de transformar, de lutar pelos nossos valores, de amar, de viver…

Muitas vezes alguns poetas e músicos tratam a chuva como elemento causador de depressão. Não creio! Veja nela um ponto de partida, um desafio para compreendermos a dimensão do mundo, e navegarmos, como desbravadores, sobre elementos desconhecidos do universo.

Que venha as chuvas valentes, com suas gotas claras que aceitam conviver com o vento e a força da gravidade! Que estas nos ensinem o desafio de mantermos nossa postura constante mesmo que não sejamos compreendidos. Que aceitemos caminhar molhados por nossa jornada, como uma metáfora do envolvimento com os problemas do mundo. Sou como o mestre King: pois prefiro me molhar, “viver feliz embora louco, do que em inconformidade viver”.

- Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.

Fonte: https://sustentabilidadeedemocracia.wordpress.com/2015/10/02/cronica-sobre-a-chuva/