O triste fim das UPPs
- Opinión
Inaugurada em 2008, em plena onda de extensão das políticas sociais por todo o Brasil, a UPP (Unidade de Policia Pacificadora), como seu nome diz, buscar ser um policia que, interagindo com as comunidades, abrisse espaço e garantisse politicas sociais nas regiões sempre postergadas do Rio de Janeiro.
Muito pretensioso ou não, o projeto, apontava para o problema essencial das grandes cidades brasileiras: a articulação de marginalidade, exclusão social, violência, tráfico de drogas. Estava claro que, se as UPPs dessem certo, o Rio já nunca mais seria o mesmo e estaria ao mesmo tempo, em condições de propor a tantas outras cidades brasileiras com problemas similares, um projeto de sucesso.
Isso se dava no marco geral de um imenso sucesso das politicas sociais em todo o Brasil, levadas a cabo por governos que as privilegiavam como sua maior prioridade. Governos que apoiavam a implementação das UPPs no Rio. Não poderia haver melhor cenário geral para o Rio enfrentar um problema tão agudo quanto esse.
Infelizmente, depois de vários anos, vemos o enterro das experiências das UPPs, tenham elas chegado a ter consequências positivas ou tenham desaparecido sem mudar nada nos lugares onde chegou a ser implementada. É um final triste e que se dá da pior maneira: substituída pela intervenção militar, que só pode significar o oposto ao que as UPPs pretendiam fazer, porque representa, da forma mais crua, o império da forca.
Usar o Exército para encarar um problema como esse, só pode significar encarar a questão como um problema de "guerra ao tráfico", concepção consensualmente superada. O uso do Exército traz implicitamente a concepção que se trata de uma guerra, portanto se trata de conquistar território a uma força inimiga, o que na pratica significa tomar a população dos morros e favelas como inimigos a enfrentar.
Os resultados ou a falta deles estão ai. Não mudou nada no Rio ou, o que mudou, foi para pior, com ocupação militar sem nenhum resultado concreto de diminuição da violência e do tráfico de drogas. Já podemos dizer que a intervenção tem sido um fracasso.
Para ilustrar a situação vivida pelas favelas nestes últimos anos, reproduzo uma declaração feita para a Alerj:
"...eu tinha um monte de coisa aqui para falar, falar sobre o tempo de validade da UPP, Copa, Olimpíadas, o nosso querido bandido presidiário (se refere ao ex-governador do Rio), que foi Medellín, para pegar esse modelo lá em Medellín, mas trouxe modelo errado porque não trouxe educação, não trouxe projeto social para favela, trouxe primeiro policia e policia sempre subiu favela, o Estado sempre compreendeu que a gente só precisa de polícia , quando o Morro da Providencia recebeu a UPP, eram 200 policiais, mas a gente não tem uma creche no alto do morro, a gente não tem uma clínica da família no alto do morro, a gente não tem uma escola, tem uma sede da UPP, nós temos lá 200 policiais, mas se esses policiais fossem professores, se esses policiais fossem médicos que é que realmente a gente precisa, eu acho que a gente cuidaria muito mais a questão da segurança do que somente com a mão armada que o Estado sempre subiu a favela."
Está aí todo um diagnostico para entender porque as UPPs fracassaram. Nunca chegaram de fato a privilegiar as politicas sociais, sua presença foi muito mais de policiais do que de pessoal ligado a politicas sociais, que ele se refere como professores, médicos, etc.
A intervenção militar também fracassa. Até porque foi decidida por um raciocínio politico e midiático do governo federal, que não tinha nada a ver com a conjuntura que o Rio vivia e vive. Voltamos ao ponto zero ou até menos, porque retrocedemos ainda mais, com a adoção da ideia de "guerra às drogas", que levou o México à situação gravíssima que vive.
Cada vez que a prioridade das politicas sociais é postergada, é abandonada, perde o povo, perde a democracia, perde o Rio de Janeiro, no caso do fim das UPPs, sem que tivessem minimamente atingido o objetivo a que se propunham
13 de Junho de 2018
Emir Sader é mestre em filosofia política e doutor em ciências políticas. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo.
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