Rumo a uma conquista comercial dos astros?

03/08/2020
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Foto: SpaceX
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A propósito da empresa SpaceX, em colaboração com a NASA, ter lançado a primeira expedição privada da história ao espaço, por intermédio da nave Crew Dragon, que se estima que retornará à Terra durante o mês de agosto, abriu-se a possibilidade de construir uma colônia humana na Lua, o que pode ser visto como parte de um processo inédito, que poderá gerar mudanças impensáveis na maneira como nos relacionamos com o nosso ambiente.

 

Uma colônia na Lua que se buscará concretizar no ano 2023 e que não faz mais do que ilustrar um processo histórico de conquista dos astros (estrelas, constelações, planetas, satélites, cometas, asteroides), que começou a ser gestado a partir do momento em que surgiram as grandes civilizações patriarcais, há milhares de anos, que buscavam respostas cósmicas para controlar os ciclos da vida por intermédio da agricultura, como consequência da passagem do nomadismo ao sedentarismo.

 

É assim que nasceu na Suméria o que hoje conhecemos como astronomia (estudo dos astros) e astrologia (influência dos astros na vida), que servirão como instrumento para vincular os astros aos deuses, permitindo, desta forma, justificar invasões, guerras e a ocupação de territórios para uma maior expansão da agricultura. Ou seja, a posição dos astros era determinante para tomar algum tipo de decisão por parte das estruturas de poder imperantes.

 

Assim que as grandes civilizações na BabilôniaEgitoGréciaRoma, como a MaiaInca e Asteca, sustentaram seu domínio militar e simbólico por intermédio do estudo dos astros, sendo os antecedentes patriarcais da visão que temos hoje em dia sobre o cosmos, concebido como o espaço exterior da Terra, regido por certas leis, que serão usadas para justificar hierarquias e privilégios de uns sobre outros.

 

Não obstante, será com o advento do Renascimento e o predomínio da Civilização Ocidental, enquanto processo patriarcal, colonial e industrial, dentro de um novo sistema mundo capitalista, que pessoas como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler e Isaac Newton assentarão as bases teóricas do que hoje conhecemos como ciência moderna, que ao separar o racional do espiritual, gerará uma ruptura irreconciliável entre a astrologia e a astronomia.

 

Uma ruptura que deixará a astronomia como a ciência oficial sobre o estudo dos astros, ao passo que a astrologia ficará relegada, a partir dos estados, a uma visão irracional e atrasada a respeito do impacto destes sobre o ser humano, fazendo com que ambas as visões fiquem completamente contrapostas e determinadas por seu uso ou não do método científico.

 

Como consequência, a astronomia moderna se desenvolverá tecnicamente através da denominada astronáutica, que se encarregará de gerar os conhecimentos científicos para o desenho e fabricação de foguetes espaciais, buscando colocá-los em órbita para chegar ao espaço. Ou seja, concretizar o ideal renascentista, humanista e antropocêntrico, que busca colocar o ser humano não só acima dos outros seres vivos da Terra, mas também acima de outros entes fora desta.

 

Sendo assim, não deve surpreender que a construção de foguetes e a exploração espacial, estreada em começos do século XX e colocada em prática por nomes como Pedro Paulet, Robert Hutchings Goddard, Konstantin Tsiolkovsky e Hermann Oberth, provocarão uma corrida espacial no pós-guerra sem precedentes, em um contexto de guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. A chegada ao espaço não era mais do que uma forma de instalar o poderio científico, militar e econômico das duas potências na Terra.

 

Uma corrida espacial que terá como marco o primeiro lançamento de um satélite artificial ao espaço por parte da União Soviética, em 1957 (Sputnik 1), e dos Estados Unidos, em 1958 (Explorer 1), mas que terá como o seu ponto mais alto o momento em que Neil Armstrong passará a ser o primeiro ser humano a pisar na Lua, em 20 de julho de 1969, com a nave Apollo 11.

 

Daí em diante, serão os Estados Unidos que liderarão a corrida espacial, por meio de diferentes missões, entre elas, para Marte. Com a queda da União Soviética, não terá mais nenhum contrapeso, passando a ser de longe o país com maior atividade no espaço, na atualidade.

 

É possível dizer que com a investida da China, a partir dos anos 2000, há uma tentativa de retomar a corrida espacial anterior. Não obstante, estamos em um momento diferente, já que o poder dos grupos econômicos aumentou tanto, em consequência da transnacionalização da economia financeira, que não deve surpreender que as grandes fortunas do mundo, como as do dono da Tesla e SpaceX (Elon Musk) e as do dono da Amazon e Blue Origin (Jeff Bezos), estejam em uma nova cruzada para colonizar comercialmente o espaço.

 

Uma cruzada que tem como finalidade gerar um novo mercado espacial desregulamentado, a partir dos estados, o que pode ser visto como uma nova invasão corporativa do cosmos, na qual, no caso da SpaceX, foram lançados mais de 240 satélites ao espaço, e tem a pretensão de instalar 4.000 até 2024, o que está relacionado à expansão em grande escala da comunicação via satélite.

 

Além disso, o surgimento de um novo modelo de negócios, denominado turismo espacial, pode ser visto como apenas o início de um processo histórico inédito, que somado às toneladas de lixo espacial geradas todos os anos, pode sair completamente do controle, trazendo consequências impensáveis.

 

Portanto, a necessidade de impulsionar uma nova astropolítica, que enfrente esta conquista comercial dos astros e que coloque no centro o cuidado da vida na Terra, como parte de um sistema muito mais amplo, talvez seja uma forma de politizar os astros, que atualmente se encontram reduzidos a lógicas cientificistas, pela astronomia, e a lógicas tarotistas, pela astrologia.

 

Tradução: Centro de Promoção de Agentes de Transformação (Cepat)  

 

http://www.ihu.unisinos.br/601432-rumo-a-uma-conquista-comercial-dos-astros?fbclid=IwAR0JIuv0_X_BrKKeorYi11_jfp_D-Zp4qplR6tcAvvFZFD-rnscPLCDd9Oc  

 

 

https://www.alainet.org/de/node/208244?language=es
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