“Coalizão com PSDB pode ser único caminho para governo de Marina”

08/09/2014
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“Caso algo mude até a publicação, a gente pode marcar uma outra conver­sa”, disse o cientista político e professor da USP André Singer no começo da noite do dia 25 de agosto. 12 dias após a mor­te de Eduardo Campos, então candidato do PSB, a pesquisa mais recente que tí­nhamos em mãos mostrava Marina Silva com 21% dos votos no primeiro turno e o tucano Aécio Neves com 20%.
 
Dez dias depois, na segunda parte des­ta entrevista – esta entrevista foi feita em duas etapas –, Marina Silva já estava 19 pontos percentuais na frente do tucano no primeiro turno. Além disso, estava 7 pontos na frente da atual presidenta Dil­ma Rousseff no segundo. Mesmo assim, o professor é cuidadoso e não decreta pa­receres categóricos sobre o instável cená­rio eleitoral brasileiro.
 
A prudência de Singer tem várias ra­zões de ser. Na eleição que se projeta a mais embolada dos últimos tempos, de­sejo de mudança e antigos temores se misturam na cabeça dos eleitores brasi­leiros e em um mar de números e por­centagens, o professor tenta transformar o horizonte em algo mais palpável.
 
Para ele, os números mostram o que analistas políticos já esperavam: a jun­ção de promessa de uma nova política, desejo de mudança e pouco crescimen­to econômico transformaria essa eleição na mais equilibrada dos últimos tempos. “Insatisfação de social, queda constante da aprovação do governo desde junho do ano passado são sempre indicativos de eleição difícil”, analisa.
 
Nessa entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Singer responsabiliza a “difi­culdade em ganhar a confiança da ca­mada mais baixa da população” como o principal desafio do PSDB nessas elei­ções. Além disso, aponta que o duelo de Marina e Dilma será pela maior faixa de eleitores com renda de dois a cinco sa­lários mínimos mensais. “Você não tem chance nenhuma de ganhar a eleições no Brasil sem ter uma penetração importan­te nessa faixa de renda”.
 
Brasil de Fato – Na nossa última conversa (primeira parte desta entrevista), você disse que não acreditava na possibilidade de Marina Silva ganhar a eleição. Hoje, dez dias depois, Marina está empatada com Dilma no primeiro turno e quase 20 pontos percentuais à frente de Aécio Neves. É possível dizer que Marina tem chances de ser a próxima presidenta do Brasil e que Aécio está fora do segundo turno?
 
André Singer – As pesquisas divulga­das nos últimos dias mostram que sim, Marina Silva pode vir a ganhar a eleição e ser presidente. Isso confirma um prog­nóstico de que esta eleição seria difícil. Não era algo impossível de prever tendo em vista o fato de que a economia brasi­leira teve uma redução importante do ní­vel de crescimento, e diante disso, exis­te um gradativo aumento da insatisfação social e uma queda constante da aprova­ção do governo desde junho do ano pas­sado. O que houve até aqui foi um fenô­meno previsível, a Marina já tinha 27% das intenções de voto em abril deste ano. Agora é que de certa forma começa o jo­go. Uma vez que ela tenha se colocado na posição de que vá disputar com a pre­sidente Dilma, começam a aparecer as perguntas pra ela: o que ela pensa em fa­zer? Qual é o seu projeto de país? O que ela representa? Já começaram a apare­cer questionamentos sobre a consistên­cia das propostas dela, tanto das outras campanhas como da própria impren­sa. Eu acho que o eleitorado vai pensar nessas semanas que nos separam do pri­meiro e segundo turnos. Quanto ao Aé­cio Neves eu diria que hoje, com os da­dos que temos, é difícil imaginar que ele consiga reverter essa situação, mas não é impossível.
 
A Marina tem um histórico de lutas na esquerda, mas chamou pra ser vice um quadro mais pragmático, caso do Beto Albuquerque, ligado ao agronegócio. Essa nomeação é uma espécie de “carta aos brasileiros” de Marina?
 
Não chega a tanto, mas vai nessa di­reção. Ela faz uma série de movimentos para se colocar nitidamente ao centro do debate, e isso é uma tática eleitoral mui­to inteligente. Essa maior proximidade da Marina com a esquerda tem a ver com dois elementos: o histórico, pois ela foi uma importante militante e depois diri­gente do PT durante muito tempo; e es­se vínculo por meio da questão ecológica com os movimentos pela reforma agrá­ria. Esses dois elementos, porém, são mais históricos do que presentes. O tipo de movimento que a Marina está fazendo hoje, de assinar esse tipo de compromis­so com setores da direita, apenas reflete ou expressa de maneira mais clara a op­ção que ela já fez há um bom tempo, es­ses movimentos não são novos. Hoje eles têm maior visibilidade e impacto porque ela passa a ser uma peça muito impor­tante no jogo eleitoral.
 
Marina se coloca como representante da nova política. Em notícia que saiu na semana passada, com possíveis nomes de seu ministério, existem nomes como Luiza Erundina, Eduardo Suplicy e José Serra. Qual a chance dessa formação ministerial dar certo?
 
Ela vai ter uma base partidária para um eventual governo muito frágil e vai ter que fazer enormes composições, que será bem difícil por conta que ela tem centra­do a plataforma dela na fundação de uma nova política. Esse é um dos grandes pro­blemas dessa abordagem. Na prática, as dificuldades pra ela serão enormes por­que a governabilidade, em alguma medi­da, passa por uma maioria congressual. Sem isso, ela vai ter que negociar com os partidos que lá existem. Como ela se co­locou no centro ideológico da disputa, a questão então será de saber pra que la­do ela fará essa composição. Ela teria que ser muito pouco realista para entrar por um caminho de desconhecer as forças políticas representadas no Congresso na­cional. Porém, eu não acredito num pri­meiro momento que o PT se disponha a participar de um governo Marina. O PT é uma grande máquina partidária e vai fazer uma política de oposição para vol­tar em 2018, caso perca as eleições. Por essa razão, eu acho que ela terá que se apoiar muito no PSDB. Ela pode tentar essa composição com forças heterogêne­as que estejam em diversos partidos, mas me parece um caminho muito arriscado e pouco promissor. Se ela vencer, terá que partir pra uma composição partidá­ria mais sólida do que essa de pegar no­mes aqui e ali de maneira fragmentada.
 
Muito se reclama da bipolarização da disputa presidencial no Brasil. Marina aparece em 2010 e consegue quase 20 milhões de votos investindo no desejo da novidade para o eleitor brasileiro. Em 2014 ela conseguiu capturar os votos de Aécio Neves com muita rapidez. A polarização do Brasil era PT x PSDB ou petismo x o antipetismo?
 
Você tem esses dois fenômenos: o pri­meiro é o da polarização PT x PSDB, so­bretudo porque são as duas grandes ins­tituições partidárias brasileiras. Apesar de o sistema partidário ter dezenas de partidos registrados e representados na Câmara dos Deputados e de ser um siste­ma altamente fragmentado, ele tem três partidos relevantes: o PT, PSDB e PM­DB. Esses são visivelmente os partidos que constantemente têm maior possibi­lidade de ocupação dos cargos executivos importantes e de representação parla­mentar. Nesse contexto, o PMDB apare­ce como um partido que tem uma singu­laridade que é não apresentar candidatos a presidente e de ser o fiador da governa­bilidade no Brasil. Surpreendentemente, ele consegue se manter como um partido relevante. Isso significa que do ponto de vista partidário a polarização PT x PSDB vai continuar existindo mesmo que Aécio Neves não vá para o segundo turno. Eles continuarão sendo as duas grandes má­quinas partidárias que disputam o poder central. Por outro lado, existe essa pola­rização também de pestismo x antipetis­mo e isso é bem forte. Eu diria que o an­tipetismo é um fenômeno social e políti­co importante e que nesse momento está sendo canalizado para a candidatura Ma­rina Silva, que está sendo o escoadouro dessa tendência e aparece como a pessoa que vai disputar palmo a palmo a presi­dência da república com o PT. Se ela vir a ganhar a eleição, é possível que faça um governo que, na prática, seja um gover­no do PSDB com ela à frente. Não tendo uma estrutura partidária e de aliança de classes, ela precisará desse suporte. Não sei como o PSDB reagiria a essa eventu­alidade, mas eu diria que pra ela é quase que uma alternativa única.
 
A campanha de Aécio Neves, quando Eduardo Campos era o candidato do PSB, não tinha sequer fôlego para levar a eleição ao segundo turno. Hoje, ele está 19 pontos atrás de Marina Silva e praticamente fora do segundo turno. O que o PSDB precisa fazer para “roubar” votos de Marina e se garantir no segundo turno da eleição?
 
O desafio do PSDB nesta eleição é o de adquirir um perfil mais popular. Não é muito diferente do que ele vem tendo em 2002 e, sobretudo, 2006. Hoje, o gover­no não é tão bem avaliado quanto era há algum tempo, a gente sabe também que há certo desejo de mudança, e isso é uma situação melhor pra oposição. O proble­ma para o PSDB está em que ele tem mui­ta dificuldade de convencer a população de baixa renda de que ele tem uma alter­nativa que pode favorecê-la. O desafio principal me parece ser tirar da Marina os votos dos setores mais populares por­que dificilmente ele vai conseguir com­petir com ela na faixa dos jovens de clas­se média urbanos. Existe um sentimen­to nessa parcela de que é preciso uma nova política mais moderna, que eu te­nho utilizado a categoria de pós-materia­lismo para caracterizar. Esse é um con­ceito formulado por um cientista políti­co norte-americano chamado Ronald In­glehart em que ele explica que uma mu­dança ocorre na agenda política dos paí­ses que estão no centro do capitalismo mundial a partir da década de 1970. De fato, eu acho que ele capturou certa mu­dança ideológica que está em curso des­de então, e acho que em certa medida ela se aplica a setores do eleitorado brasilei­ro, que são bem representados pela can­didatura da Marina.
 
A ascensão do PT em 2002 se deu muito por aquilo que você muito bem definiu como Lulismo: um governo sem rupturas, e de mudanças graduais. Agora, Dilma se depara com uma estagnação econômica e com os eleitores querendo mudança. Esse ciclo acabou?
 
A situação que a gente está vivendo é ligada à mudança da conjuntura eco­nômica internacional e essa dificuldade trazida pela baixa do crescimento que está se expressando nessa vontade de mudar. A partir de 2011, nós passamos a viver uma tendência de baixa geral da atividade econômica no mundo e isso impactou o Brasil de uma maneira que não tinha acontecido no auge da crise em 2008/09. Cabe lembrar que o Bra­sil é um país onde pra uma enorme fatia da população está tudo por fazer. Hou­ve melhorias importantes, só que como eu procurei mostrar, elas foram pauta­das por um gradualismo extremo, elas são melhoras incrementais e trouxeram as pessoas pra uma condição de vida su­perior a que elas tinham, mas que ain­da está longe de uma situação que vo­cê possa dizer que o fundamental es­tá resolvido e a partir de agora a gente vai pro complementar. Eu não concor­do com a ideia de que o ciclo se esgotou, mas que ele se confrontou com uma si­tuação bem mais difícil do que vinha en­frentado no período anterior, que a eco­nomia mundial estava crescendo e va­lorizando rapidamente as commodities brasileiras. Estamos passando por um período de impasse em que diante des­sa nova situação a pergunta é: o que fa­zer? A presidente Dilma tentou na pri­meira metade do seu governo uma via mais à esquerda e procurou romper o impasse baixando juros, desvalorizan­do o real, fazendo certo controle dos ca­pitais externos, criando marcos regula­tórios que estimulavam atividade eco­nômica para um modelo de desenvolvi­mento com distribuição de renda, cito, por exemplo, a questão da energia elé­trica. Mas esse ensaio, que eu chamo de desenvolvimentista, não deu certo. Ele se interrompeu porque, pelo que dizem os economistas, faltou investimento pri­vado. A partir daí a gente começa a vi­ver uma espécie de patinação, os juros voltam a subir e a economia começou a enfraquecer ainda mais, resultando na situação que nós estamos hoje. Eu vejo muito mais perguntas do que respostas no horizonte sobre essa questão.
 
Críticos e membros do PT culpam o distanciamento que o partido teve dos movimentos sociais nos últimos anos por uma possível derrota da presidenta Dilma. Esse distanciamento pode ser responsável por essas dificuldades?
 
Não diretamente. Esse distanciamen­to é algo que diz respeito ao que eu cha­mo de passagem para o Lulismo, que é um modelo de formação que não pas­sa pela mobilização social, é um mode­lo de transformação lenta e dentro da ordem, isso foi uma mudança que ocor­reu na política brasileira e depois den­tro do próprio PT. O que está aconte­cendo na eleição é que o eleitorado rea­ge à piora da situação econômica. A di­minuição do crescimento em um país co­mo o nosso, em que boa parte da popula­ção ainda tem muito para melhorar pa­ra chegar num estágio de satisfação das suas necessidades básicas, faz com que a insatisfação aumente de maneira rápida. Estamos entrando no quarto ano de bai­xo crescimento, portanto existe um acú­mulo na insatisfação, que se expressa­ram nas manifestações de junho e que de lá pra cá têm se mantido mais ou menos constantes. De tal forma que eu diria: são dois fenômenos reais, o distanciamento dos movimentos sociais e a dificuldade eleitoral em 2014, mas acho que eles não estão diretamente relacionados.
 
Observando a pesquisa completa do Ibope, se observa um número grande de entrevistados que consideram o gover­no regular (37%). Desses, 24% declara­ram voto na Dilma e 47% em Marina. Pra ganhar a eleição, o PT terá que ganhar votos de Marina necessariamente. Você acha que é essa parcela de eleitores que terá que ser convencida?
 
Essa é uma leitura possível: pegar quem avalia o governo de uma forma in­termediária, que é um eleitor mais dis­ponível de ser convencido a dar uma se­gunda chance ao governo Dilma. Mas vo­cê tem outras leituras possíveis, e a que eu prefiro é outra. A candidatura Marina já produziu uma novidade interessante que é uma divisão no campo popular, ela conseguiu puxar uma parcela importante que são os eleitores com ganhos mensais de 2 a 5 salários mínimos. De modo ge­ral, você pode dividir as faixas de renda do Brasil em quem ganha até 5 salários mínimos e os que ganham acima disso, são duas partes bem diferentes do eleito­rado. Não há chance nenhuma de ganhar eleição no Brasil se você não tem uma penetração importante nos eleitores dessa faixa que ganha até 5 salários mínimos, que são eleitores de renda baixa, mas que já superaram uma condição básica de pobreza. Eu acho uma maneira inte­ressante de pensar o processo da toma­da de decisão é que o fiel da balança es­teja localizado entre esses eleitores. Eles podem ser recuperáveis uma vez que ti­veram uma ascensão de classe patrocina­da, direta ou indiretamente, por progra­mas do governo. Essa é um elemento que joga a favor da candidata do PT. Se isso será suficiente para reverter o que as pes­soas hoje indicam em relação ao segundo turno, não é possível dizer nesse momen­to, mas é uma possibilidade.
 
A ascensão do discurso conservador representa algum perigo para o Brasil? As questões morais têm ganhado mais espaço no debate político?
 
Existe uma situação complexa, porque as questões morais estão gradativamente ganhando maior peso na disputa eleito­ral, mas eu não acho que seja numa mu­dança completa em que de uma hora pa­ra a outra elas vão passar ao centro do debate ou da decisão eleitoral. Elas vão de alguma maneira se combinar com os problemas centrais que na verdade con­tinuam sendo da esfera econômica. A Marina Silva é evangélica, por isso ela exerce uma atração sob os evangélicos. Os membros dessas igrejas pentecostais e neopentecostais dão bastante impor­tância a essa questão moral, portanto is­so pode fortalecer a candidatura dela e ao mesmo tempo explica o motivo dela to­mar a atitude de recuar na questão do ca­samento entre homossexuais. As confis­sões evangélicas estão bastante voltadas para a participação política e essa parti­cipação se dá em torno de eixos morais com posturas conservadoras. Na medi­da em que essas confissões crescem, sem dúvida há um ambiente mais conserva­dor. Todo esse cenário tem influência so­bre o conjunto da política brasileira por­que essa posição está nitidamente cres­cendo e puxando a política pra uma con­figuração que antes ela não tinha, por exemplo, essas questões morais e a in­fluência dela nas eleições majoritárias, mesmo sendo tímidas, começam a apa­recer e impactar todos os atores, sobre­tudo os partidos majoritários. O PSDB visivelmente será impactado, mas tam­bém o PT será, como outros. Talvez eu não falasse em ascensão do conservado­rismo, mas que há vários sinais de cres­cimento. Nas questões morais, que se li­gam ao crescimento das confissões evan­gélicas; no plano da cultura também vo­cê observa uma proliferação de autores que já assumem uma posição mais clara abertamente de direita. Além disso, na­queles setores em que houve uma ascen­são social, começa a ficar mais forte a de­fesa de posições meritocráticas, que deve ter mais sucesso aquele que faz mais es­forço, e isso vem acompanhado de uma posição que é contraria a universalização de direitos, sobretudo direitos que sejam garantidos pelo estado e por investimen­tos públicos.
 
As manifestações de junho de 2013 tiveram uma temática muito variada. O primeiro ponto era a mobilidade urbana, passou pela condenação da violência policial e chegou à reforma política. Inclusive o assunto chamou atenção da presidenta Dilma que foi para rede nacional na TV defender um Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva do Sistema Político, que hoje foi encampada pelos movimentos sociais. É essencial hoje uma reforma política no Brasil? E com que fins?
 
O movimento pela reforma política é uma das novidades mais interessantes e promissoras desse último período. Acre­dito que ele aponta na direção de uma transformação necessária e muito posi­tiva e que fundamentalmente passa pela questão de democratizar a democracia. A democracia é um regime político insu­perável do ponto de vista dos interesses populares, mas ela está sempre em mo­vimento, não é uma obra acabada e en­cerrada e tanto pode sofrer pressões tan­to no sentido de ser colonizado pelo di­nheiro quanto no sentido de ser reapro­priado pela própria população. No ca­so brasileiro, a reforma me parece fun­damental porque embora tenhamos as­pectos democráticos muito interessan­tes, como o referendo, as conferências nacionais e essa proposta de formaliza­ção dos mecanismos de participação por meio dos conselhos, as campanhas elei­torais são das mais caras do mundo e o sistema de financiamento delas se trans­formou em um sistema empresarial. Evidentemente, quando as campanhas ficam tão caras e são praticamente to­das financiadas por empresas, você es­tá numa condição em que o capital tem muita influência sobre o processo eleito­ral, e o cidadão comum e os movimentos populares muito pouca. Penso que da­ríamos um grande passo se conseguís­semos modificar a forma de fazer cam­panha. Elas têm que ser mais baratas e com teto de custos baixo e que, portan­to, qualquer campanha mais cara fosse facilmente fiscalizável. Se estabelecesse obrigatoriedade de programas de televi­são no horário gratuito em que os can­didatos se apresentassem expondo seus programas, sem toda essa parafernália cinematográfica caríssima que acrescen­ta pouco à pedagogia democrática. O ar­gumento contrário é o de que vão conti­nuar existindo doações por baixo do pa­no e que se você promulgar uma legisla­ção desse tipo você vai perder o contro­le sobre as doações em lugar de adqui­rir maior controle. Eu reconheço que es­se não é um argumento trivial, pois toda a mudança de regra tem uma maneira de se burlar. Mas a sociedade tem que ten­tar se mexer na direção de encontrar um modelo que faça esse movimento de de­mocratizar a democracia. No contrário, vai acontecer o que muitos observam em diversos países do mundo, sobretudo nos mais desenvolvidos, em que há um esvaziamento da democracia, uma per­cepção por parte dos eleitores que a po­lítica não tem nada a ver com ele, é uma estância que funciona descolada das as­pirações da própria sociedade. Eu reco­nheço que mudar regras não é simples, e que a gente precisa ter uma postura cautelosa, mas ao mesmo tempo é pre­ciso convir que a sociedade tem que se mexer, ela tem que tentar essas mudan­ças na direção daquilo que lhe interessa. Ela estando mobilizada em torno desse movimento é a maior garantia de que as novas regras poderão funcionar. É claro que haverá tentativas de fazer financia­mento por baixo do pano se você mudar a regra que proíba, por exemplo, a do­ação de pessoa jurídica. Como você vai evitar isso? A mobilização da sociedade como fiscalizadora.
 
09/09/2014
 
https://www.alainet.org/en/node/103196
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