É urgente a solidariedade ativa à resistência nacional e popular libanesa
30/07/2006
- Opinión
O justo sentimento de indignação que percorre o mundo diante do horror semeado pelos agressores israelenses, com o apoio dos Estados Unidos, precisa transformar-se imediatamente em ação enérgica. Do contrário será um sentimento vazio, uma simples consternação cujo sentido político será nulo ou mesmo se transformará em complacência com hediondos crimes.
Por isso, muito além de marcar mais uma posição, de fazer um comentário ou análise da evolução dos acontecimentos, quisera fazer um apelo aos companheiros e companheiras do movimento popular, do movimento pela paz, dos comitês de solidariedade. Um apelo a que onde quer que estejamos – nas empresas, nos bairros, nas escolas, nos sindicatos, no parlamento em todos os níveis e até nas instâncias de governo – denunciemos esses crimes de lesa-humanidade e nos mobilizemos com amplitude e espírito de combate. O povo brasileiro e suas forças progressistas são solidários com todos os povos e nações agredidos pelo imperialismo e seus sicários. A luta em que nos empenhamos pelo aprofundamento da democracia, pelo desenvolvimento nacional com valorização do trabalho e soberania só tem sentido e só será vitoriosa numa perspectiva antiimperialista. O inimigo dos povos árabes, o imperialismo norte-americano, sustentáculo de Israel, cuja política de “reestruturação do Oriente Médio” consiste numa estratégia de dominação que implica o sacrifício dos povos palestino, libanês, sírio, iraniano, iraquiano e afegão e de qualquer outro que na região lute por sua independência, é o mesmo que nos quer impor a ALCA e recolonizar o Brasil e a América Latina.
É mais do que passada a hora de acabar com o mito de que “o povo brasileiro não tem a cultura da solidariedade” . É um mito utilitário para justificar a falta de iniciativa e de oposição às ações do imperialismo norte-americano no mundo. Há razões para acreditar que as forças progressistas vão mobilizar o povo brasileiro. A firme posição adotada em nota oficial pelo presidente Lula, hoje mesmo, condenando os ataques israelenses e exigindo o cessar-fogo, expressa os profundos sentimentos do povo brasileiro e das forças que constituem o governo.
O ataque da aviação israelense neste domingo na localidade de Qana, a 16 quilômetros da cidade de Tiro, no Líbano, que resultou na morte de 57 civis libaneses, sendo mais de 30 crianças, é um crime abominável que só deixará de ser impune quando a humanidade se levantar em atos de protesto e conseguir impor as devidas sanções ao Estado bandido de Israel.
O ato bárbaro de Israel, assim como o conjunto da ofensiva iniciada há três semanas, foi uma eloquente demonstração de que os sionistas estão dispostos a levar até as últimas consequências a sua decisão, em comum acordo com os Estados Unidos, de liquidar as forças da resistência nacional libanesa e palestina. Ontem mesmo o primeiro ministro de Israel, Olmert, avisou à secretária de Estado norte-americana, Condoleeza Rice, que necessitava de mais duas semanas antes de declarar o cessar-fogo. É a conta que fazem do tempo de que necessitam para exterminar o Hezbolá.
O massacre de Qana torna mais difícil encontrar uma saída para o conflito. A indignação que despertou enfraquece as posições de Israel e de sua diplomacia. Foi de um inaudito cinismo o discurso do representante israelense na ONU, Dan Guillerman, durante a reunião de emergência do Conselho de Segurança, realizada em caráter de emergência ainda no domingo, quando disse que o Hezbolá é o verdadeiro responsável pela morte de civis. Ele não tinha argumentos para se defender do libelo acusatório do Sr. Mahmud, representante libanês, nem contrapropostas eficazes ao endurecimento da posição libanesa, manifestada também neste domingo em Beirute, quando o primeiro-ministro Fouad Siniora, recusou-se a qualquer diálogo antes do cessar-fogo. O isolamento israelense se acentuou com o discurso do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que condenou o massacre de Qana e exigiu o imediato cessar-fogo.
Mas a principal razão pela qual é difícil encontrar uma saída favorável a Israel e seus patronos imperialistas estadunidenses não é diplomática e sim política: o Hezbolá não se renderá. Conta com enorme respaldo popular e reúne condições para liderar e protagonizar uma prolongada luta de libertação nacional. Além disso, seus aliados no mundo árabe e no Golfo Pérsico não dão mostras de capitulação perante as ameaças sionistas e norte-americanas. Muito pelo contrário.
O imperialismo estadunidense e os sionistas israelenses têm inequívoca superioridade militar mas não reúnem a mínima condição política de acabar com o que chamam de “terror”. A disjuntiva no Oriente Médio não é entre a “democracia” e o “terror”. A luta de fundo na região é entre o direito dos povos árabes e palestino à sua independência e autodeterminação e os apetites de domínio e expansão de Israel e dos Estados Unidos. Com a feição própria do momento que a humanidade está atravessando, trata-se de uma luta de libertação nacional, com caráter antiimperialista. Por isso, ainda que não compartilhemos o confessionalismo e os métodos do Hamas e do Hezbolá, não temos a menor dúvida em dizer que nesse conflito é com eles que está a razão.
Em sua ofensiva para dominar o Oriente Médio, o pretendente a tirano do universo, George Bush, prometeu a “guerra infinita ao terror”. Já no seu segundo mandato, semeia o terror infinito contra povos e nações. É difícil que não desperte reacões violentas. Igualmente difícil será vencer. A vitória será dos povos árabes e do povo palestino.
- José Reinaldo Carvalho, kornalista, diretor do Cebrapaz e consultor do “Brussel´s Tribunal”.
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