Quem são os golpistas do “Cansei”?
13/08/2007
- Opinión
Animados com o bombardeio midiático contra o governo Lula, ricos empresários e notórios tucanos e demos (ex-pefelistas) acabam de lançar em São Paulo o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, articulação golpista também batizada de “Cansei”. Cinicamente, seus criadores garantem que a iniciativa é “apartidária”, nascida após a tragédia do avião da TAM, e visa apenas protestar contra o caos reinante no país. Para dar uma aparência de legalidade, o movimento será oficialmente liderado pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). Talvez saudosos das “Marchas da Família, com Deus e pela Liberdade”, promovidas às vésperas do golpe militar de 1964 com o descarado apoio da embaixada dos EUA, o “Cansei” pretende organizar manifestações nas capitais e investir pesado em publicidade.
As emissoras de televisão, que rejeitam o fato de serem concessões públicas, já anunciaram que cederão seus milionários espaços na telinha. Entre as peças publicitárias já boladas “gentilmente” pelo publicitário Nizan Guanaes, marqueteiro-mor dos tucanos, encontram-se algumas pérolas bem ao gosto da burguesia rentista: “Cansei do caos aéreo”, “cansei de bala perdida”, “cansei de pagar tanto imposto”. Estas e outras idéias mirabolantes teriam sido discutidas no luxuoso hotel do empresário João Dória Jr., em Campos do Jordão – cidade de veraneio paulista que reúne a nata da burguesia durante o inverno. Nos últimos dias, por lá passaram vários industriais, banqueiros, barões do agronegócios e políticos, como o ex-presidente FHC, o atual governador José Serra e o presidenciável derrotado Geraldo Alckmin.
Conspiração da “elite branca”
Até agora, a melhor definição sobre este movimento foi dada pelo ex-governador paulista Cláudio Lembo – que é dirigente do Demo, mas não é hipócrita e tem lapsos de sinceridade. Após anunciar sua adesão ao “Cansei”, ele afirmou ironicamente que a iniciativa é liderada “por um segmento da elite branca. Deve ter começado em Campos do Jordão”. No último final de semana, todos estes conspiradores se encontraram no Mosteiro São Bento no badalado casamento da filha de Geraldo Alckmin, Sophia – que ficou famosa por “trabalhar” na boutique de contrabando Daslu. A luxuosa cerimônia reuniu centenas de magnatas, a cúpula da direita neoliberal, alguns “jornalistas” famosos e a atriz Regina Duarte, que durante a campanha presidencial de 2002 apareceu várias vezes na telinha com a frase terrorista “eu tenho medo [do Lula]”.
Com protestos de rua nas principais capitais do país e fartos investimentos em publicidade, o “Cansei” pretende satanizar o presidente Lula, culpando-o por todos os males do país. O eixo principal da campanha visa marcar o governo como incompetente, como um “péssimo administrador”, para ver se despertar a ira das camadas médias e gera confusão entre os setores populares. “A sociedade precisa demonstrar a sua indignação”, bate na tecla o falastrão João Dória. Uma rápida olhada na biografia dos mentores do movimento, porém, confirma que o objetivo desta “elite branca” é o de reforçar a oposição de direita ao governo Lula e, se possível, repetir a façanha das “marchas com Deus” em 1964.
O líder João Dória Jr.
- João Dória Jr., principal porta-voz do movimento, é um notório direitista. Na campanha presidencial de 2006, o empresário promoveu milionários jantares de apoio ao candidato Geraldo Alckmin. Amigo íntimo de FHC, em outubro passado premiou o ex-presidente com uma escultura da artista Anita Kaufmann. Ele também é um elitista contumaz. Segundo reportagem da Veja, “conhecido pelo dom de reunir convidados famosos em festas e eventos empresariais, João Dória Jr., 47 anos, faz questão de manter o seu visual tão impecável quanto suas duas mansões, uma nos Jardins e outra em Campos do Jordão. Ele só usa camisas feitas sob medida (quase todas com colarinho italiano e monograma) e termos Ermenegildo Zegna”. Seu patrimônio pessoal é calculado em R$ 70 milhões; é dono da empresa Dória Associados, de um centro de exposições e de uma editora; tem um helicóptero Bell-407 e acaba de comprar um jatinho Phenon.
Outro artigo da mesma revista confirma que o líder do “Cansei” não tem nada de apolítico ou apartidário. Formado numa família de velhas raposas da UDN e filho do deputado cassado João Dória, Junior circula pelos corredores do poder há muito tempo. Foi secretário municipal de turismo e presidente da Embratur (também afastado por denúncias de corrupção). Com toda esta “bagagem”, fundou em 1996 a Grupo de Lideres Empresariais (Lide), que reúne 406 executivos e donos de empresas com faturamento acima de R$ 200 milhões. Juntos, estes empresários controlam cerca de 40% do PIB brasileiro. “Quem é capaz de por presidentes de grandes bancos de braços esticados, dançando Macarena? Ou, apito na bota, distribuir tarefas para chefões da indústria e respectivas senhoras? Resposta: João Dória Jr., publicitário, jornalista, empresário e, acima de tudo, talentosíssimo no trato com os poderosos”, descreve o artigo bajulador.
Os outros conspiradores
- Luiz D’Urso, presidente da seção paulista da OAB, é outro conhecido direitista. Advogado de ilustres bilionários, inclusive do casal Hernandes da Igreja Renascer – detido nos EUA por evasão de divisas –, ele imprimiu uma marca reacionária à OAB de São Paulo. Chegou a promover atos contra os servidores públicos em greve e a se manifestar publicamente em defesa da Emenda 3, que estimula a precarizaçao do trabalho. No ano passado, em plena campanha eleitoral, propôs o impeachment do presidente Lula.
- Nizan Guanaes, dono da poderosa agência África, é o principal marqueteiro tucano. Dirigiu as campanhas de FHC e Serra. “Não sei dizer não ao Fernando Henrique”, confessou ao jornalista Gilberto Dimenstein. Segundo o Observatório da Imprensa, ele gozou de amplo poder no reinado de FHC. “Nizan passou a cuidar informalmente da imagem do presidente e tem ido pelo menos dois dias por semana a Brasília. ‘Estou doando meu tempo e talento para algo em que acredito’”.
- Marcus Hadade, ex-presidente da Confederação Nacional dos Jovens Empresários, e Ronaldo Koloszuk, diretor do Comitê de Jovens Executivos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), coordenaram a primeira manifestação pública do “Cansei”, na tarde deste domingo. Ajudaram a puxar palavras de ordem bem “apolíticas” e singelas: “Fora Lula”, “relaxa e fora”, “assassino” e “1, 2, 3, Lula no xadrez”. Foram assediados por empresários, arrivistas tucanos, madames e mauricinhos e patricinhas da classe “mérdia”.
- Paulo Zottolo, presidente da multinacional Philips no Brasil, empresa que bancou os primeiros anúncios em jornais do “Cansei”. A generosidade não deve ter pesado muito em seu bolso. Segundo reportagem da IstoÉ Dinheiro, “seu salário na Philips está estimado em R$ 2 milhões por ano” e a multinacional teve no ano passado um faturamento de R$ 4,7 bilhões no país. “Somos pagadores de impostos e cansei de me indignar e não fazer nada”, esbraveja o magnata.
- Sidnei Basile, diretor da Editora Abril, responsável pela edição da revista golpista Veja. Ele já anunciou que a empresa cederá gratuitamente os espaços publicitários nos seus vários veículos. A famiglia Civita, hoje associada à empresa racista Nasper, da África do Sul, tornou-se o porta-voz da oposição de direita ao governo Lula, manipulando informações e estimulando preconceitos nos seus incautos leitores.
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).
As emissoras de televisão, que rejeitam o fato de serem concessões públicas, já anunciaram que cederão seus milionários espaços na telinha. Entre as peças publicitárias já boladas “gentilmente” pelo publicitário Nizan Guanaes, marqueteiro-mor dos tucanos, encontram-se algumas pérolas bem ao gosto da burguesia rentista: “Cansei do caos aéreo”, “cansei de bala perdida”, “cansei de pagar tanto imposto”. Estas e outras idéias mirabolantes teriam sido discutidas no luxuoso hotel do empresário João Dória Jr., em Campos do Jordão – cidade de veraneio paulista que reúne a nata da burguesia durante o inverno. Nos últimos dias, por lá passaram vários industriais, banqueiros, barões do agronegócios e políticos, como o ex-presidente FHC, o atual governador José Serra e o presidenciável derrotado Geraldo Alckmin.
Conspiração da “elite branca”
Até agora, a melhor definição sobre este movimento foi dada pelo ex-governador paulista Cláudio Lembo – que é dirigente do Demo, mas não é hipócrita e tem lapsos de sinceridade. Após anunciar sua adesão ao “Cansei”, ele afirmou ironicamente que a iniciativa é liderada “por um segmento da elite branca. Deve ter começado em Campos do Jordão”. No último final de semana, todos estes conspiradores se encontraram no Mosteiro São Bento no badalado casamento da filha de Geraldo Alckmin, Sophia – que ficou famosa por “trabalhar” na boutique de contrabando Daslu. A luxuosa cerimônia reuniu centenas de magnatas, a cúpula da direita neoliberal, alguns “jornalistas” famosos e a atriz Regina Duarte, que durante a campanha presidencial de 2002 apareceu várias vezes na telinha com a frase terrorista “eu tenho medo [do Lula]”.
Com protestos de rua nas principais capitais do país e fartos investimentos em publicidade, o “Cansei” pretende satanizar o presidente Lula, culpando-o por todos os males do país. O eixo principal da campanha visa marcar o governo como incompetente, como um “péssimo administrador”, para ver se despertar a ira das camadas médias e gera confusão entre os setores populares. “A sociedade precisa demonstrar a sua indignação”, bate na tecla o falastrão João Dória. Uma rápida olhada na biografia dos mentores do movimento, porém, confirma que o objetivo desta “elite branca” é o de reforçar a oposição de direita ao governo Lula e, se possível, repetir a façanha das “marchas com Deus” em 1964.
O líder João Dória Jr.
- João Dória Jr., principal porta-voz do movimento, é um notório direitista. Na campanha presidencial de 2006, o empresário promoveu milionários jantares de apoio ao candidato Geraldo Alckmin. Amigo íntimo de FHC, em outubro passado premiou o ex-presidente com uma escultura da artista Anita Kaufmann. Ele também é um elitista contumaz. Segundo reportagem da Veja, “conhecido pelo dom de reunir convidados famosos em festas e eventos empresariais, João Dória Jr., 47 anos, faz questão de manter o seu visual tão impecável quanto suas duas mansões, uma nos Jardins e outra em Campos do Jordão. Ele só usa camisas feitas sob medida (quase todas com colarinho italiano e monograma) e termos Ermenegildo Zegna”. Seu patrimônio pessoal é calculado em R$ 70 milhões; é dono da empresa Dória Associados, de um centro de exposições e de uma editora; tem um helicóptero Bell-407 e acaba de comprar um jatinho Phenon.
Outro artigo da mesma revista confirma que o líder do “Cansei” não tem nada de apolítico ou apartidário. Formado numa família de velhas raposas da UDN e filho do deputado cassado João Dória, Junior circula pelos corredores do poder há muito tempo. Foi secretário municipal de turismo e presidente da Embratur (também afastado por denúncias de corrupção). Com toda esta “bagagem”, fundou em 1996 a Grupo de Lideres Empresariais (Lide), que reúne 406 executivos e donos de empresas com faturamento acima de R$ 200 milhões. Juntos, estes empresários controlam cerca de 40% do PIB brasileiro. “Quem é capaz de por presidentes de grandes bancos de braços esticados, dançando Macarena? Ou, apito na bota, distribuir tarefas para chefões da indústria e respectivas senhoras? Resposta: João Dória Jr., publicitário, jornalista, empresário e, acima de tudo, talentosíssimo no trato com os poderosos”, descreve o artigo bajulador.
Os outros conspiradores
- Luiz D’Urso, presidente da seção paulista da OAB, é outro conhecido direitista. Advogado de ilustres bilionários, inclusive do casal Hernandes da Igreja Renascer – detido nos EUA por evasão de divisas –, ele imprimiu uma marca reacionária à OAB de São Paulo. Chegou a promover atos contra os servidores públicos em greve e a se manifestar publicamente em defesa da Emenda 3, que estimula a precarizaçao do trabalho. No ano passado, em plena campanha eleitoral, propôs o impeachment do presidente Lula.
- Nizan Guanaes, dono da poderosa agência África, é o principal marqueteiro tucano. Dirigiu as campanhas de FHC e Serra. “Não sei dizer não ao Fernando Henrique”, confessou ao jornalista Gilberto Dimenstein. Segundo o Observatório da Imprensa, ele gozou de amplo poder no reinado de FHC. “Nizan passou a cuidar informalmente da imagem do presidente e tem ido pelo menos dois dias por semana a Brasília. ‘Estou doando meu tempo e talento para algo em que acredito’”.
- Marcus Hadade, ex-presidente da Confederação Nacional dos Jovens Empresários, e Ronaldo Koloszuk, diretor do Comitê de Jovens Executivos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), coordenaram a primeira manifestação pública do “Cansei”, na tarde deste domingo. Ajudaram a puxar palavras de ordem bem “apolíticas” e singelas: “Fora Lula”, “relaxa e fora”, “assassino” e “1, 2, 3, Lula no xadrez”. Foram assediados por empresários, arrivistas tucanos, madames e mauricinhos e patricinhas da classe “mérdia”.
- Paulo Zottolo, presidente da multinacional Philips no Brasil, empresa que bancou os primeiros anúncios em jornais do “Cansei”. A generosidade não deve ter pesado muito em seu bolso. Segundo reportagem da IstoÉ Dinheiro, “seu salário na Philips está estimado em R$ 2 milhões por ano” e a multinacional teve no ano passado um faturamento de R$ 4,7 bilhões no país. “Somos pagadores de impostos e cansei de me indignar e não fazer nada”, esbraveja o magnata.
- Sidnei Basile, diretor da Editora Abril, responsável pela edição da revista golpista Veja. Ele já anunciou que a empresa cederá gratuitamente os espaços publicitários nos seus vários veículos. A famiglia Civita, hoje associada à empresa racista Nasper, da África do Sul, tornou-se o porta-voz da oposição de direita ao governo Lula, manipulando informações e estimulando preconceitos nos seus incautos leitores.
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).
https://www.alainet.org/en/node/122663
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