Batalha das ideias
09/12/2010
- Opinión
Apoiamos todo e qualquer intento dos governos no sentido de estabelecer verdadeiros mecanismos sociais e públicos de controle dos meios de comunicação
A divulgação de informações e documentos “secretos” do Departamento de Estado dos EUA pelo Wikileaks abalou a chamada opinião pública. Os mais radicais (e comprometidos) pediram a cabeça dos responsáveis; e alguns países – especialmente, os EUA – tomaram todas as medidas para tirar essas informações do ar.
O mais curioso é o deslocamento da atenção para as fontes e os possíveis responsáveis pelo vazamento das informações, numa clara tentativa de ofuscar a relevância dos conteúdos ou tratá-los como meras fofocas do universo diplomático.
Os conteúdos a que o mundo teve acesso só reforçam que o governo dos EUA e todo seu aparato diplomático continuam jogando pesado para defender os interesses de suas empresas, grandes grupos econômicos e o imperialismo. Os escritórios da diplomacia seguem sendo verdadeiras bases de espionagem industrial, política, militar, tecnológica e de intervenção para garantir a hegemonia dos EUA sobre o mundo.
Chama atenção o papel atribuído ao ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim. Qualquer leitor atento perceberá que sua íntima relação com a potência estadunidense revela grande cumplicidade e subserviência incompatíveis com o exercício do mais alto posto da defesa nacional.
Essas informações fazem parte de uma série de outras que vazam todos os anos de dentro dos prédios do Pentágono, da Casa Branca, das bases militares dos EUA no mundo (mais de 800). E o escândalo se repete. Abu Ghraib, Guantánamo, prisões secretas em todo mundo, as violações no Afeganistão e Iraque, as amizades com Bin Ladens e outros exemplos se somam aos velhos escândalos dos crimes de guerra no Vietnã, na Coreia, à participação nos golpes militares, tudo comprovado com documentos também vazados. Mudam os tempos, mas não as estratégias e práticas. O imperialismo segue sendo o grande inimigo da humanidade, e o governo dos EUA, o maior dos terroristas do mundo.
No Brasil, os debates realizados na Conferência de Comunicação culminaram em propostas de regulação do setor, parte delas incluídas no texto final do Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), com destaque para o item sobre a regulação e controle social e público dos meios de comunicação de massa, sendo pauta de intensos ataques midiáticos e dos setores mais atrasados da nossa sociedade.
Um exemplo da importância de controle desse setor ficou evidenciado nas eleições. O pleito nacional foi marcado por uma campanha agressiva por parte da extrema direita, sustentada pelos grandes meios de comunicação. E, principalmente no segundo turno das eleições, com um cenário polarizado, a grande mídia saiu da tradicional postura de apoio envergonhado e discreto para o apoio explícito a seus representantes no pleito. Até aí, tudo normal, em se tratando da mídia burguesa. Mas é nesse cenário que entra, para fazer essa disputa ideológica, uma imensidão de militantes, jornalistas etc. que, utilizando diversos meios, especialmente blogs, miniblogs, redes de relacionamento, youtube e outros, formaram uma rede ampla de produtores de matérias e notícias para se contrapor aos meios burgueses. E o fato de ter sido uma campanha de baixíssimo nível – com a extrema direita preconceituosa, xenófoba, racista, machista, que recuperou todas as velhas bandeiras e ranços – gerou uma reação geral desses comunicadores. E a batalha das ideias foi bem travada por essa rede de comunicadores sociais, mostrando que devemos potencializar essa trincheira estratégica cada vez mais, dando força, amplitude e alcance social a ela.
As informações tornadas públicas pelo Wikileaks,sejam elas verdadeiras ou produzidas para provocar impactos políticos e econômicos, confirmam o tratamento dado pelo governo dos EUA à América Latina. Ou seja, o continente é, para os EUA, o seu quintal, sua área de influência, da qual não abrirá mão facilmente. Confirmaram, igualmente, a sua forma de tratar outros Estados e governantes, ridicularizando-os, ora como incapazes, ora como parte do eixo do mal e patrocinadores do terrorismo. Sem contar as informações sobre a controversa política antidrogas dos EUA.
O vazamento das informações sobre o Brasil configura um fato grave e envolve a segurança nacional, elemento- chave de nossa soberania. Cabe apuração urgente, especialmente das menções ao ministro Jobim, e este deveria ser imediatamente afastado do cargo.
Esses elementos reforçam, para nós, que a luta ideológica – denominada por Fidel Castro de trincheira das ideias – é um campo muito importante para a esquerda. Como temos como um de nossos objetivos contribuir para a batalha das ideias, na luta contra-hegemônica e no fortalecimento da comunicação popular, novas tecnologias devem ser potencializadas para ampliar o acesso do povo a informações do seu interesse, assim como para contestar as versões dos grandes fatos políticos passados pelos grandes meios de comunicação. Nesse sentido, apoiamos todo e qualquer intento do governo federal e governos estaduais no sentido de estabelecer verdadeiros mecanismos sociais e públicos de controle dos meios de comunicação.
Editorial ed. 406
https://www.alainet.org/en/node/146143
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