México: Entre a narcopolítica e as urnas

20/05/2015
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No próximo dia 7 de junho, o México terá eleições, nas quais elegerá cerca de quinhentos deputados federais, nove governadores e mais de mil prefeitos alcaldes. Contudo, as notícias que chegam da terra asteca ainda são as dos assassinatos e das desaparições dos candidatos, e não as das propostas e do debate político, numa lamentável sintonia com o sucedido no país de uma forma geral e em alguns estados do sul em particular, onde os últimos anos foram fortemente afetados pela narcopolítica e pela ausência das garantias democráticas mais elementares.

 

Um dos casos mais relevantes das semanas que passaram foi a morte de Enrique Hernández, dirigente do Morena – Movimento de Regeneração Nacional, o novo partido de Andrés Manuel López Obrador, duas vezes candidato presidencial, que renunciou ao PRD, Partido da Revolução Democrática, por sua política de acordos com as legendas governistas de direita. Hernández era candidato a prefeito de Yurécuaro, no estado de Michoacán. Foi assassinado no dia 14 de maio, após um ato público que ele mesmo encabeçou, visando fortalecer sua candidatura. Anos atrás, ele havia enfrentado o poderoso cartel Los Caballeros Templarios, conformando um grupo civil de autodefesa contra o avanço dos chefes do narcotráfico no estado. Lamentavelmente, Hernández teve que pagar com sua vida a coragem de bater de frente com a narcopolítica.

 

Entretanto, uma coisa ficou clara: situações como essa não afetam somente as novas agrupações políticas mexicanas, mas também colocam em risco as estruturas históricas da política do país. São tragédias que envolvem todo e qualquer candidato e/ou dirigente políticos que se oponha – ou que apenas proponha algum tipo de autonomia – ao controle territorial já estabelecido pelos chefes do tráfico. Dois exemplos: Ulises Fabián Quiroz, candidato a prefeito de Chilapa, no estado de Guerrero, pelo PRI (Partido Revolucionário Institucional, de centro direita, o mesmo do presidente Enrique Peña Nieto), foi assassinado no dia 1° de maio, durante uma viagem de trabalho, num episódio vinculado à disputa entre os cartéis Los Ardillos e Los Rojos, sobre a comercialização de drogas na região. Ainda assim, em março deste ano, Aidé Nava González, pré-candidata do PRD à prefeitura de Ahuacuotzingo – município vizinho a Chilapa, também em Guerrero – foi decapitada. Ao seu lado, encontraram uma mensagem dos traficantes: “Isto é o que vai acontecer como todos os políticos que não queiram se alinhar”.

 

Numa entrevista ao diário La Opinión, dias atrás, o analista politico José Fernández Santillán manifestava sua posição sobre o tema, ao alertar que “o Estado não pode garantir o direito à vida em muitas zonas do país, e isso significa não poder cumprir com uma de suas principais funções. Isso acontece porque temos um Estado onde a impunidade está presente, e enquanto não se combate esse problema, o país verá morrer mais políticos que não se alinham aos interesses do crime”. As palavras de Fernández fazem referência à mensagem dos narcos após o crime de Nava González: atrás da ideia de “alinhamento” está o verdadeiro controle – poder real – dos chefes narcos sobre as prefeituras do país –especialmente as dos estados do sul –, e os políticos devem escolher entre se submeter ao poder fático, ou tentar confrontá-lo sabendo que sua vida corre perigo num país onde a impunidade é generalizada diante dessas práticas.

 

 

As eleições do dia 7 de junho acontecem em meio a esse contexto complexo, que também envolve a dolorosa situação dos familiares dos 43 estudantes de Ayotzinapa, que continuam na busca pelo paradeiro dos jovens – que também desapareceram no estado de Guerrero, foco do horror que acima descrito. Não há dúvidas de que o México vive um dos momentos mais dramáticos de sua história em termos de garantias individuais e civis, e de direitos sociais e políticos elementares. Ao que parece, lamentavelmente, as eleições confirmarão a triste tendência da conivência cada vez mais clara entre os partidos tradicionais do país e o mundo do narcotráfico, com um crescimento do poder real deste último, à margem do poder que emana de todas as urnas.

 

- Juan Manuel Karg é Cientista Político da UBA / Analista Internacional. @jmkarg

 

Créditos da foto: wikipedia

 

20/05/2015

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Mexico-Entre-a-narcopolitica-e-as-urnas/6/33531

 

https://www.alainet.org/en/node/169760?language=en
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