Dilemas do governo e o equívoco da agenda privatizante

21/05/2013
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Avançar nas reformas estruturais e na integração latino-americana será imprescindível para avançarmos na construção de uma nação soberana.
 
Já denunciamos em editorial anterior que está se fortalecendo no governo Dilma uma agenda liberalizante, que não acumula forças para os interesses históricos da classe trabalhadora.
 
Na verdade, trata-se de um conjunto de medidas que contemplam desde o conservadorismo da política econômica, passando pelo fim da aposentadoria integral do funcionalismo público até a concessão dos portos, aeroportos e rodovias para os setores privados.
 
As duas últimas semanas foram marcadas pelos leilões do petróleo e pela aprovação da MP dos Portos. O problema não é simplesmente o fato de que estas medidas beneficiam os capitalistas. A questão central é que elas aprofundam a desnacionalização da economia brasileira, comprometem a soberania nacional e não contribuem para viabilizarmos um projeto nacional de desenvolvimento.
 
Na verdade, são medidas privatizantes que o povo brasileiro rejeita. Aliás, a presidenta Dilma foi eleita pelo voto popular contra esta mesma agenda privatizante. Mas então por que ganham cada vez mais espaço estas iniciativas privatizantes dentro do governo?
 
É fato que até o presente momento a crise econômica está impondo uma queda nas taxas de crescimento economia brasileira. Isso coloca Dilma num dilema onde o governo faz um conjunto de apostas e opções para retomar o crescimento da economia brasileira.
 
As diversas frações de classe incidem sobre o governo e avançam para concretizar seus interesses de acordo com sua força e influência na sociedade.
 
O dispositivo midiático conservador que representa os interesses da burguesia interna e do capital estrangeiro insiste que a melhor saída para retomar o crescimento econômico é abrir mais espaço na economia para o capital privado. Acumular capital em setores da economia ainda sob o controle do Estado. Essa solução não é nova e remonta à desastrosa experiência dos anos FHC.
 
Esta perniciosa agenda ganha espaço, pois o governo Dilma é desprovido de uma estratégia de desenvolvimento nacional. Significa a diminuição da capacidade do Estado de planejar a economia. Apostar no “espírito animal”, como recomenda o liberal Adam Smith, de uma burguesia sem projeto de nação é colocar os rumos da nação à deriva.
 
A estratégia privatista da burguesia passa primeiro por ocupar mais espaços no governo e nos setores da economia que estão sob controle do Estado. Num segundo momento, atacarão com mais intensidade as conquistas que o povo brasileiro teve durante os dez anos de governo de coalizão.
 
Estamos, portanto, diante da possibilidade de inviabilizar a construção de uma agenda pós-neoliberal. Devemos levar em consideração que o Brasil enquanto maior economia da América Latina tem uma responsabilidade enorme dentro de um conjunto de governos que foram eleitos contra a agenda neoliberal.
 
Portanto, as medidas tomadas na nossa economia certamente influenciam nos rumos das demais economias latino-americanas e podem contribuir para o reposicionamento das forças neoliberais no continente.
 
As recentes medidas privatizantes não somente prejudicam a economia brasileira como têm um impacto considerável na luta ideológica. As forças populares estão perdendo o debate sobre os rumos da política econômica com a construção midiática do “fantasma da inflação”.
 
A Petrobras sofreu uma massacre dos velhos jornalões até o governo anunciar e concretizar os leilões do petróleo. Mais vez ressurge o convescote do “custo brasil” para justificar as concessões de portos, aeroportos e ferrovias para o setor privado.
 
Somente um movimento de massas pode deslocar o centro da política dos corredores da institucionalidade e dos lobbies para as ruas.
 
Recentemente o presidente do PT, Rui Falcão, sinalizou a necessidade de alterar a correlação de forças na sociedade brasileira. Para isso colocou a necessidade de viabilizarmos a reforma política, a reforma tributária e regulação da mídia. Corretíssimo.
 
É necessário potencializar a organização popular para defendermos as conquistas que tivemos nos governos Lula e Dilma e apresentarmos um projeto nacional de desenvolvimento como alternativa à crise econômica.
 
Avançar nas reformas estruturais e na integração latino-americana será imprescindível para avançarmos na construção de uma nação soberana.
 
- Editorial da edição 534 do Brasil de Fato
 
https://www.alainet.org/en/node/76207
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