Bush ou Gore: e a hegemonia dos EUA?

08/12/2000
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Provavelmente os Estados Unidos conseguirão definir esta semana quem leva a presidência do país, por um método inovador: o decurso de prazo. Apesar da necessidade de recontagem para passar a limpo, como condição de legitimidade do pleito, ter sido reconhecida por quatro dos juizes da Suprema Corte dos EUA, outros cinco julgaram negativamente. A realidade política é que o calendário eleitoral mas, principalmente, a Bolsa de Nova York, como termômetro de uma economia norte-americana entrando em período recessivo, impõe uma solução rápida, para um pleito que produziu mais dúvidas do que certezas. Quem quer que termine sendo reconhecido como o próximo presidente norte- americano, o que isso representa para a hegemonia norte-americana no mundo - o elemento determinante de tudo o que acontece no mundo atualmente? O elemento novo, este sim, determinante, é a virada de sinal da economia dos Estados Unidos - de um longo ciclo expansivo para um ciclo recessivo. Seja ¿suave?, como desejam alguns, ou violento, como prevêem outros, como as duas outras ?locomotivas? da economia mundial - a Europa ocidental e o Japão - estiveram ou seguem em crise, a virada será traumática, pelo peso ainda maior que os EUA passaram a ter na economia mundial. Maior mercado consumidor do mundo, maior produtor, maior importador de capitais, mais importador de mercadorias, maior inovador tecnologicamente - bastaria isso para fazer com que o termômetro norte-americano define o pulso de uma economia mundial que, globalmente, não saiu ainda do ciclo longo recessivo iniciado em meados dos anos setenta. Politicamente, os EUA saem enfraquecidos das eleições presidenciais? Sim, mas não necessariamente pelas eleições. A situação de hegemonia absoluta dos EUA no mundo não se afeta pelas condições questionáveis de suas eleições internas, mas poderá sê-lo pelo desempenho do novo presidente, até porque a herança deixada por Clinton traz no seu bojo elementos fortes de crise. Três são os temas mais complexos para o novo presidente: dentre eles, o Oriente Médio ocupa um lugar central, para cujas negociações nem Bush - pelo caráter extremista de seus assessores na área internacional -, nem Gore - por ter Liberman como vice - estão bem preparados. Se Clinton, que chegou a ganhar a confiança de Arafat, conseguiu desbloquear os temas essenciais, a expectativa é baixa em relação ao que façam seus sucessores, prevendo-se assim um dessangramento prolongado no Oriente Médio, até que fortalecimento de outras formas de intermediação - como da ONU - possa ser postulada por uma mudança de postura da Europa. Nas negociações da OMC, as mobilizações desde Seattle deixaram a situação estagnada e ninguém quer tomar iniciativas que podem de novo se frustrar, embora a dinâmica da liberalização comercial exija, até pela quantidade de conflitos pendentes que se acumulam. O liberalismo exacerbado de Bush pode levá-lo a tentar avançar, mas pode significar sua primeira grande derrota como novo presidente - caso seja confirmado esta semana. Quanto à Alca, os EUA dispõem atualmente das melhores condições para avançar, mas os problemas se situam em outro plano - no terceiro dos temas difíceis para o novo presidente norte-americano. Esse tema é a América Latina. No seu primeiro mandato, Clinton sequer cruzou o Rio Grande, para ver como andava a crise mexicana. No segundo, viu se avolumarem os problemas na região, viajou tentando apagar incêndios - o último dos quais sua fracassada viagem à Colômbia -, mas deixa uma pesada herança para seu sucessor. O México, temeroso dos efeitos da desaceleração da economia dos EUA, da qual depende em 90% do seu comércio exterior; a Colômbia, às vésperas da aplicação de um plano que tudo indica será álcool em incêndio; a Argentina, com uma crise econômica que levo o país a uma situação sem saída, no marco atual, mas com alternativas traumáticas; o Equador e a Bolívia, com ciclos de crises reiteradas, o Perú, com dificuldades para recompor consensos internos, depois do terremoto representado por Fujimori e por sua saída; o Brasil, com sucessão que gera insegurança em suas elites e em Washington; a Venezuela, com um governo que se soma ao de Cuba em oposição aos EUA, sendo ao mesmo tempo o segundo fornecedor de petróleo desse país - esses, entre outros problemas (como os do Haiti, os da Nicarágua, com a ascensão sandinista, os de El Salvador, com o fortalecimento da FMLN) fazem prever tempos conturbados no nosso continente, ao que se soma o despreparo dos dois eventuais presidentes norte-americanos para enfrenta-los.
https://www.alainet.org/es/node/104989?language=es
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