Laços de família, Parte I
30/10/2001
- Opinión
Prescott Bush integrava, em 1918, a associação estudantil
Skull & Bones (Crânio e Osso). Desafiado pelos colegas,
invadiu um cemitério apache e roubou o escalpo do
lendário cacique Jerônimo.
Deflagrada a Segunda Guerra Mundial, Prescott Bush, sócio
de uma companhia de petróleo do Texas, recebeu punição do
governo dos EUA por negociar combustível com a empresa
nazista Luftwaffe. O tribunal admitiu que ele violara o
Trading with Enemy Act.
Esperto, após a guerra, Prescott aproximou-se dos homens
do poder, de modo a usufruir de imunidade e impunidade.
Tornou-se íntimo dos irmãos Allen e John Foster Dulles.
Este último comandava a CIA por ocasião do assassinato de
John Kennedy, em 1963. Convenceu o velho Bush a fazer um
gesto magnânimo e devolver aos apaches o escalpo de
Jerônimo. Bush o atendeu, mas não tardou para os
indígenas descobrirem que a relíquia restituída era
falsa...
A amizade com Dulles garantiu ao filho mais velho de
Prescott, George H. Bush, executivo da indústria
petrolífera, o emprego de agente da CIA. George destacou-
se a ponto de, em 1961, coordenar a invasão da Baía dos
Porcos, em Cuba, para derrubar o regime implantado pela
guerrilha de Sierra Maestra.
Fiel às suas raízes texanas, George batizou as
embarcações que conduziram os mercenários até a ilha de
Fidel de Zapata (nome de sua empresa petrolífera),
Bárbara (sua mulher) e Houston. A invasão fracassou,
1.500 mercenários foram presos e, mais tarde, liberados
em troca de US$ 10 milhões em alimentos e remédios para
crianças. (Malgrado a derrota, George H. Bush tornou-se
diretor da CIA em 1976).
Triste com o mau desempenho de seu primogênito como 007,
Prescott Bush consolava-se com o êxito dele nos negócios
de petróleo. E aplaudiu a amplitude de visão do filho
quando George, em meados dos anos 60, tornou-se amigo de
um empreiteiro árabe que viajava com freqüência ao Texas,
introduzindo-se aos poucos na sociedade local: Muhammad
Bin Laden. Em 1968, ao sobrevoar os poços de petróleo de
Bush, Bin Laden morreu em acidente aéreo no Texas. Os
laços de família, no entanto, estavam criados.
George Bush não pranteou a morte do amigo. Andava mais
preocupado com as dificuldades escolares de seu filho
George W. Bush, que só obtinha média C. A guerra do
Vietnã acirrou-se e, para evitar que o filho fosse
convocado, George tratou de alistá-lo na força aérea da
Guarda Nacional. A bebida, entretanto, impediu que o neto
de Prescott se tornasse um bom piloto.
Papai George incentivou-o, então, a fundar, em meados dos
anos 70, sua própria empresa petrolífera, a Arbusto
(bush, em inglês) Energy. Gracas aos contatos
internacionais que o pai mantinha desde os tempos da CIA,
George filho buscou os investimentos de Khaled Bin Mafouz
e Salem Bin Laden, o mais velho dos 52 filhos gerados
pelo falecido Muhammad. Mafouz era banqueiro da família
real saudita e casara com uma das irmãs de Salem. Esses
vínculos familiares permitiram que Mafouz se tornasse o
presidente da Blessed Relief, a ONG árabe na qual
trabalhava um dos irmãos de Salem, Osama Bin Laden.
A Arbusto pediu concordata e renasceu com o nome de Bush
Exploration e, mais tarde, Spectrum 7. Tais mudanças
foram suficientes para impedir que a bancarrota ameaçasse
o jovem George W. Bush. Salem Bin Laden, fiel aos laços
de família, veio em socorro do amigo, comprando US$ 600
mil em ações da Herken Energy, que assumiu o controle da
Spectrum 7. E firmou um contrato de importação de
petróleo no valor de US$ 120 mil anuais. As coisas
melhoraram para o neto do velho Prescott, que logo
embolsou US$ 1 milhão e obteve um contrato com o emirado
de Bahrein, que deixou a Esso morrendo de inveja.
Em dezembro de 1979, George H. Bush viajou a Paris para
um encontro entre republicanos e partidários moderados de
Khomeini, no qual trataram da libertação dos 64 reféns
estadunidenses seqüestrados, em novembro, na embaixada
dos EUA, em Teerã. Buscava-se evitar que o presidente
Jimmy Carter se valesse do episódio, a ponto de
prejudicar as pretensões presidenciais de Ronald Reagan.
Papai George fez o percurso até a capital francesa a
bordo do jatinho de Salem Bin Laden, que lhe facilitava o
contato com o mundo islâmico. (Em 1988, Salem faleceu,
como o pai, num desastre de avião).
Naquele mesmo ano, os soviéticos invadiram o Afeganistão.
Papai George, que coordenava operações da CIA, recorreu a
Osama, um dos irmãos de Salem, que aceitou infiltrar-se
no Afeganistão para, monitorado pela Agência de
Inteligência, fortalecer a resistência afegã contra os
invasores comunistas.
Os dados acima são do analista italiano Francesco
Piccioni. Mais detalhes no livro A fortunate son: George
W. Bush and the making of na American President, de Steve
Hatfield. Tão sintomática quanto a atual censura
consentida à mídia nos EUA, é a omissão na imprensa da
história de como a CIA criou o general Noriega, do
Panamá; Saddam Hussein, do Iraque; e Osama Bin Laden, do
circuito Arábia Saudita/Afeganistão.
Agora, o neto de Prescott Bush demonstra sua fidelidade à
índole do avô: invade o Afeganistão para obter, ainda que
a custo do sacrifício da população civil, o escalpe de
Osama Bin Laden.
Laços de família, parte II
https://www.alainet.org/es/node/105385?language=es
Del mismo autor
- Homenaje a Paulo Freire en el centenario de su nacimiento 14/09/2021
- Homenagem a Paulo Freire em seu centenário de nascimento 08/09/2021
- FSM: de espaço aberto a espaço de acção 04/08/2020
- WSF: from an open space to a space for action 04/08/2020
- FSM : d'un espace ouvert à un espace d'action 04/08/2020
- FSM: de espacio abierto a espacio de acción 04/08/2020
- Ética em tempos de pandemia 27/07/2020
- Carta a amigos y amigas del exterior 20/07/2020
- Carta aos amigos e amigas do exterior 20/07/2020
- Direito à alimentação saudável 09/07/2020