Guia para 2002 ou defenda-se das imposturas internacionais
03/01/2002
- Opinión
A política internacional tem um estranho destino: em geral é
desprezada pela grande imprensa, salvo em momentos de grandes convulsões.
No entanto, usa-se e abusa-se dela para dirimir as grandes polêmicas
nacionais. Argumentos decisivos parecem ser tirados de casos a que só os
supostos ?especialistas? parecem ter acesso e compreender o significado -
, alegando que ?no México deu certo?, que ?o modelo chileno é o melhor?,
que ?na Coréia do Sul fracassou? ou que o ?Turquistão provou que o
governo tem razão?.
É o que se pode chamar de ?imposturas internacionais?, para dar-lhe
um nome. Cuidado portanto com todos ? economistas, editorialistas,
?politólogos?, sociólogos, analistas internacionais -, informe-se, não dê
nada por estabelecido como se houvesse argumentos de autoridade,
desconfie, - sobretudo desconfie -, busque verificar com tua própria
cabeça.
Para surpreender-se menos com o que aconteça no novo ano, vão aqui
algumas indicações, que podem ser úteis para que cada um pense com sua
própria cabeça, para que a imprensa sirva para emancipar e não para
alienar as pessoas.
1. Quando um governante diga que ?não há outro caminho possível?, pode
ter certeza que, tratando-se da ação dos homens, sempre há outro. À
falta de argumentos a favor do seu, ele deseja afirmar-se,
mistificando.
2. Quando ministros de economia, presidente de bancos centrais et caterva
fizerem previsões, peça primeiro contas das previsões ? via de regras
erradas ? que fizeram um ano antes, para saber se têm o direito de
seguir ocupando o nosso tempo.
3. Quando ler que o México, o Chile, a Argentina ? ou outro país qualquer
? é o modelo a seguir, alternativamente utilizados conforme a gangorra
os joga para cima ou para baixo, desconfie. Não espere que o México, o
Chile ou a Argentina se esborrachem para ver que era uma forma de
desviar a atenção da análise concreta do país em questão.
4. Quando ler que agora a economia vai crescer sem interrupções, mude
imediatamente de leitura e de colunista. Passou-se a década passada
com essa cantilena da ?nova economia? e quando ela mostrou que de nova
tinha apenas o nome, mudou-se de assunto, sem ninguém prestar contas
das balelas que havia prometido.
5. Ponha os olhos firmes no que acontece nos EUA. Não porque sejam modelo
para qualquer outro país, mas porque nada de importante no mundo hoje
pode ser compreendido fora da hegemonia norte-americana e, portanto, o
que passa lá conta muito para todo o mundo.
6. Mas não espere nada de bom vindo de lá, pelo menos enquanto eles
continuarem a achar que devem dar lições ? teóricas e práticas ? ao
mundo de como se constrói uma boa sociedade - sentimento reforçado,
infelizmente, com os atentados de 11 de setembro último, alienando-os
mais ainda sobre o por que dos sentimentos negativos que inspiram pelo
mundo afora.
7. Não acredite que o capitalismo e o imperialismo já eram. Nunca houve
tanto capitalismo no mundo ? nunca tantas coisas e pessoas foram
transformados em mercadorias, tiveram preço, foram comprados e
vendidos -, nem nunca houve uma presença imperial tão forte no mundo.
8. Não acredite quando dizem que ?o Estado nacional acabou?. O G-7 (ou G-
8), que é uma espécie de governo mundial, é composto pelos mandatários
dos mais poderosos Estados do mundo e não pelos presidentes das
grandes corporações. Além de que esses Estados têm as forças militares
mais poderosas do mundo. O que eles querem é que, por exemplo, o
Brasil, a Índia, a China, a África do Sul, o México, a Argentina, o
Paquistão, a Indonésia, não resolvam seguir o mesmo exemplo e fazer
reuniões periódicas de seus chefes-de-Estado para defender melhor os
interesses da grande maioria da humanidade ? que vive nesses Estados e
não naqueles.
9. Pense que qualquer política internacional que não priorize pelo
resgate da África está errada. Pergunte, diante de cada proposta: ?E
qual o lugar da África?? Será mais fácil entender o seu significado, a
quem favorece e a quem prejudica.
10. Pense, como critério, que um mundo justo é aquele em que o que
prima não são os interesses do dinheiro, do capital, mas as
necessidades ? materiais e espirituais - dos seres humanos. Somente
assim será possível aos homens valer-se de todos os seus avanços
materiais e intelectuais para construir uma sociedade solidária e
humanista - sempre possível, enquanto os homens se valerem de sua
capacidade de compreensão e de ação para interpretar e transformar o
mundo no sentido de acabar com a exploração, com a dominação, com a
alienação e com a discriminação.
https://www.alainet.org/es/node/105550
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