Poder bandido
24/01/2002
- Opinión
Ajudei a organizar as Comunidades Eclesiais de Base em São Mateus
(ES), em meados dos anos de 1970. Na reunião na igreja, notei a
presença de um jovem franzino, esguio, que pela primeira vez se
interessava pela articulação entre fé cristã e direitos sociais. Era
José Rainha, hoje líder dos sem terra no Pontal do Paranapanema (SP),
de cuja formação participei.
No último sábado, após a ocupação da fazenda Santa Rita, em Primavera
(SP), desapropriada há três anos pelo Incra, José Rainha levou dois
tiros de pistoleiros que trabalhavam como seguranças da propriedade.
Ingressou, assim, na trágica estatística de agricultores
assassinados, feridos ou ameaçados de morte, no Brasil, por
reivindicarem um direito elementar: um pedaço de terra no país do
latifúndio. Segundo a Comissão Pastoral da Terra e o MST, de 1987 a
2001 foram mortos, no país, 132 trabalhadores rurais. E de 1997 a
2001, 607 estiveram presos por lutarem por justiça.
Grande parte das terras do Pontal foi grilada por fazendeiros. São
terras que pertencem ao Estado e, no entanto, estão em mãos de
particulares. Improdutivas, ferem a Constituição e são, com justa
razão, alvo das ocupações do MST. O agravante, no caso da fazenda
Santa Rita, propriedade da família Junqueira, é que há três anos o
dinheiro da desapropriação foi liberado pelo Incra, mas a Justiça
local não repassou o dinheiro, nem exigiu que a propriedade fosse
entregue aos agricultores.
Na sexta-feira passada, o prefeito Celso Daniel, de Santo André (SP),
foi seqüestrado na capital paulista e no dia seguinte barbaramente
assassinado. Éramos amigos. Há mais de vinte anos assessoro a
Pastoral Operária do ABC, cuja sede é no município que há três anos
ele governava pela terceira vez. Em 2000, foi reeleito com cerca de
70% dos votos. Era uma pessoa doce, ponderada e altamente competente.
Engenheiro e doutor em ciências políticas, Celso Daniel era professor
da PUC-SP e da Fundação Getúlio Vargas. Há pouco, fora designado para
coordenar a campanha de Lula à presidência da República.
O atentado a José Rainha, o seqüestro e assassinato de Celso Daniel
e as ameaças de morte a políticos do PT, são evidências de que São
Paulo está refém dos bandidos. O assassinato, ano passado, de
Toninho, prefeito de Campinas, ainda não esclarecido, equipara-se à
impunidade dos assassinos que, em Eldorado dos Carajás, mataram 21
sem-terra, a 17 de abril de 1996.
No país da impunidade, os bandidos agem convencidos de que possuem
imunidade.
https://www.alainet.org/es/node/105570
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