Um outro mundo é possível
01/02/2002
- Opinión
O Fórum Social Mundial de Porto Alegre, agora em segunda edição, reúne e
converge as atenções daqueles que reconhecem o fracasso do atual modelo de
globalização. Segundo dados do Banco Mundial, somos 6,1 bilhões de pessoas
no planeta, das quais 1,2 bilhão vivem abaixo da linha da miséria (renda
mensal inferior a US$ 30) e 2,8 bilhões abaixo da linha da pobreza (renda
mensal inferior a US$ 60).
Para João Paulo II, este modelo de globalização agrava as desigualdades
entre as nações e penaliza os pobres. Hoje, 80% da produção industrial do
mundo é absorvida por apenas 20% da população da Terra. E quatro cidadãos
dos EUA - Bill Gates, Larry Ellison, Warren Buffett e Paul Allen - possuem,
juntos, fortuna superior às riquezas de 42 nações com 600 milhões de
habitantes.
O livre mercado resultou em guerras; o receituário do FMI empobrece a
América Latina e leva a Argentina à falência, obrigando o Brasil a sofrer
uma sangria mensal de US$ 2 bilhões; o desemprego tornou-se crônico; o
socialismo faliu no Leste europeu. São fatores que nos obrigam a refletir
sobre o estado atual do mundo e a encontrar uma saída, através da qual o
bem comum se sobreponha aos interesses privados, os direitos humanos à
ambição de lucro, o bem-estar social ao monetarismo ortodoxo que estabiliza
moedas e desestabiliza populações.
Cerca de 60 mil participantes provenientes de uma centena de países estão
em Porto Alegre, interessados nas grandes conferências matutinas e em mais
de 800 seminários e oficinas, em torno de múltiplos temas, que darão
conteúdo ao 2º Fórum Social Mundial. A prioridade não é contrapor-se ao
Fórum Econômico Mundial, transferido de Davos para Nova York, nem denunciar
os desacertos gritantes do atual modelo de globalização, mas abrir pistas
de esperança, a partir de experiências concretas, rumo a um novo modelo de
sociedade sustentável, solidária, centrada na defesa dos direitos humanos e
dos recursos da Terra.
A grande vantagem do amplo ecumenismo deste fórum de debates é que sobre
ele não recai nenhuma camisa-de-força ideológica ou comando partidário. Ele
difere de Seattle ou Gênova por não pretender ser uma manifestação de
protesto. É um rico laboratório, no qual as mais variadas expressões
artísticas se somam a temas como ética, espiritualidade e relações de poder
e agricultura familiar, reforma agrária e alternativas de desenvolvimento.
Em Porto Alegre naufraga a ditadura do pensamento único e irrompe a certeza
de que sonho que muitos sonham transforma-se em realidade.
https://www.alainet.org/es/node/105577
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