Armadilhas do mercado de terras
06/05/2002
- Opinión
De 15 a 17 de abril, foi realizado em Washington um seminário internacional sobre os
impactos negativos das políticas de "reforma agrária de mercado", promovidas pelo
Banco Mundial. A "reforma agrária de mercado" - denominação criticada pelas
entidades presentes, por não considerarem que o modelo faça justiça ao termo reforma
agrária - tem por base o fomento da venda de terras por parte dos latifundiários aos
trabalhadores com pouca ou sem terra. Essa política tem sido implementada pelo Banco
Mundial em cerca de 30 países em desenvolvimento objetivando "aliviar a pobreza
rural". Os resultados de diversas pesquisas e experiências em países como Colômbia,
Brasil, África do Sul, Guatemala e Tailândia, apresentados no seminário, apontaruitos
problemas, mostrando que esses projetos não aliviam a pobreza e ainda endividam os
camponeses. Essa política acaba por gerar maior concentração e beneficiar os grandes
proprietários de terras, que recebem dinheiro vivo por suas áreas mantidas
improdutivas, como reserva de valor. Além disso, as experiências têm mostrado que os
programas de "reforma agrária de mercado" estimulam a corrupção e o clientelismo.
Os trabalhadores sem terra, desejando realizar seu sonho de acesso à terra para
trabalhar, se comprometem com empréstimos a juros de mercado. O resultado é um
processo de endividamento que submete os camponeses pobres à desilusão e expulsão das
terras adquiridas.
No Brasil, essa política tem sido implementada através de projetos como o Cédula da
Terra e o Banco da Terra, com apoio financeiro e aval político do Banco Mundial.
Esses projetos contrariam o processo constitucional de reforma agrária, que determina
a desapropriação de terras improdutivas. A Constituição brasileira estabelece que as
terras agrícolas devem cumprir sua função social, ou seja, produzir alimentos e
cumprir com as leis ambientais e trabalhistas. Caso contrário, o governo deve
desapropriar essas áreas para fins de reforma agrária e assentamento de famílias sem
terra.
As políticas do Banco Mundial têm substituído a reforma agrária constitucional pela
compra e venda de terras. A expansão do mercado de terras acaba em muitos casos
provocando um aquecimento dos preços e, conseqüentemente, beneficiando os grandes
latifundiários.
O seminário mostrou que em vários países as políticas de ajuste estrutural,
defendidas pelo Banco Mundial, têm estimulado a privatização de terras indígenas e de
outras comunidades rurais, aumentando a concentração fundiária. O processo de
criação de mercados de terras coloca-se nesse contexto mais amplo, criando as
condições para a implantação das políticas de "reforma agrária de mercado".
A grande semelhança entre os impactos negativos das fórmulas aplicadas pelo Banco
Mundial em diversos países acabou por gerar um movimento internacional de oposição a
essas políticas. O seminário em Washington reforçou essa articulação, em defesa de
um modelo sustentável de desenvolvimento e dos direitos fundamentais das comunidades
rurais.
Na conclusão do seminário, as organizações sociais presentes em Washington divulgaram
um documento com recomendações ao Banco Mundial, pedindo a suspensão imediata de suas
políticas de reforma agrária de mercado. Aos Estados nacionais, foram apresentadas
propostas para que realizem programas de redistribuição da terra por meio da
desapropriação, com ampla participação dos movimentos sociais rurais. A principal
preocupação desses grupos é garantir o direito à terra aos trabalhadores.
Luciano André Wolff, Jornalista, agrônomo.
https://www.alainet.org/es/node/105871?language=en
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