Apropriação e mercado

11/09/2002
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Riqueza é o que o ser humano produz com o seu trabalho. Bens é o que a natureza oferece sem concurso do trabalho humano, como o ar e a água. Ocorre que o ser humano, motivado pela ambição, aprendeu a levar vantagem em tudo, como demonstra a quebra da fraternura entre Caim e Abel. Se você se dá ao trabalho de caminhar até o mar e aguardar o peixe morder o seu anzol, o pescado lhe pertence. O mar, e tudo o que ele contém, é socializado. Mas se você levar o seu peixe até o mercado ele deixa de ter valor de uso e passa a ter valor de troca. Vira um produto. Como a diferença entre a água bebida na fonte e a que vem engarrafada. Dos recursos pré-humanos oferecidos pela natureza, o de maior valor, e mais imprescindível, é a terra. A mentalidade mercantil tratou de cercá-la, impedindo o livre acesso, ainda que permaneça infrutífera e, a partir do seu segundo dono, torná-la propriedade particular. Digo segundo porque o primeiro foi sempre um posseiro, pois Deus não passou escritura da terra a ninguém. A economia, uma ciência (?) moderna, pôs terno e gravata na ambição desmedida do ser humano, travestindo-a de propriedade privada. Tudo passou à condição de mercadoria. Se ainda não se cobra pelo ar que respiramos é porque não se encontrou uma forma de privatizá-lo. Como afirmou Robert Kurz, sociólogo alemão, "não deve haver nada sob o céu que seja gratuito e exista por natureza. A propriedade privada moderna representa somente a forma jurídica secundária dessa lógica totalitária. Ela é, por isso, tão totalitária quanto esta: o uso deve ser um uso exclusivo. Isso vale particularmente para os recursos naturais primários da terra" (Folha de S. Paulo, 14/7/02). * Frei Betto é autor de "Sinfonia Universal"
https://www.alainet.org/es/node/106409
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