Numa época de campanhas baseadas em marketing e na televisão, na norte- americanização da política, em que se tende cada vez mais a votar em candidatos e não em programas e em partidos, em que se desmoraliza a política diariamente no Congresso e na imprensa, o fato de que mais de dez milhões de pessoas tenham participado no plebiscito popular sobre a Alca tem um profundo significado cívico e político. Demonstra que quando as pessoas são convocadas a votar sobre um tema de seu interesse, em que recebem a informação adequada, em que se sentem participantes de um processo político, o interesse pela política pode ser muito mais extenso e profundo que se pensa. Demonstra que quando a convocação assume um caráter popular, quando os temas postos em discussão são compreendidos como essenciais, as pessoas participam, mesmo não havendo nenhuma obrigação de participar, mesmo se tratando de uma convocação de movimentos sociais, de entidades civis e populares. Há dois anos, o plebiscito sobre a dívida externa conseguiu que mais de seis milhões de pessoas participassem e expressassem em sua grande maioria o desejo de que o país deixe de ter o seu destino subordinado à transferência dos recursos do mundo do trabalho para o da especulação financeira. Agora a grande maioria dos votantes expressam seu desejo claro de que o Brasil não se submeta ao projeto de consolidação da hegemonia norte- americana através da Alca, nem que se entregue um pedaço do seu território para funcionar como base militar dos EUA. Que o plebiscito e seu resultado sirva para que os candidatos à presidência do Brasil compreendam o grau de consciência política do povo brasileiro, de sua disposição de apoio ativo a medidas para recuperar a soberania do país e da sua vontade de participar ativamente dos destinos do Brasil.