Fórum Social Mundial se abre ao som de tambores de guerra
19/01/2003
- Opinión
O II. Fórum Social Mundial, realizado há um ano, incorporou
definitivamente o tema da guerra e da paz, porque não haverá "outro
mundo possível", sem resolução justa e duradoura dos grandes focos
bélicos do mundo. E porque este mundo de "guerras infinitas" é a
outra cara do mundo do "livre comércio", da concentração de poder e
de renda, dos mega-monopóios midiáticos, da extensão da fabricação
e do comércio – legal e clandestino – de armas.
A presença de Noam Chomsky foi a mais marcante, inaugurando um
seminário sobre as raízes das guerras contemporâneas e as formas de
lutar contra elas. Desta vez a primeira grande conferência, a
realizar-se no dia 24, às 13 horas no Gigantinho, segue a mesma
linha: Tariq Ali, István Meszáros (que lançará o livro "Século XXI
- Socialismo ou barbárie") e Samir Amin, falarão sobre Guerra
imperial e lutas pela paz.
Ainda durante o Fórum vence o prazo para entrega do relatório da
comissão das Nações Unidas para inspecionar o Iraque, mas qualquer
que seja seu conteúdo, o governo norte-americano já declarou que
sua intervenção militar não depende desse relatório e elevou o
número de suas tropas a mais de 120 mil, gastando hoje mais na sua
manutenção na região do que com a compra do petróleo. Assim, quatro
dias depois de inaugurado com grande manifestação de rua pela paz,
na tarde do dia 23, o Fórum Social Mundial poderá ter que se
defrontar com a declaração prática de guerra – ou de ataque e
massacre, pela desigualdade das forças em presença – no Iraque.
O Fórum deverá se pronunciar diante do fato consumado ou, caso não
se dê ainda o ataque, ainda assim seja o Conselho Internacional –
que se reúne nos dias 21 e 22 – seja o eixo 5 sobre Guerra e paz no
mundo – cujos painéis se reúnem no Cais do porto a partir do dia 24
– terão oportunidade de manifestar publicamente o consenso geral de
condenação a mais esse ataque na "guerra infinita" declarada pelos
EUA.
Naquele momento Lula estará em Davos ou encontrando-se com os dois
mandatários que mais resistem à intervenção norte-americana no
Iraque – Chirac e Schröeder. Para a política externa brasileira
também será um momento de definições. Até aqui o Brasil se
pronunciou no marco dos pronunciamentos de outros governos – não
apoiará o ataque sem aprovação do ONU – o que significa, do seu
Conselho de Segurança . Caso se dê o ataque nesse momento, é quase
impossível que exista uma aprovação desse órgão, até porque o
relatório não deve ser conclusivo. Nesse caso, os três mandatários
teriam que se pronunciar condenando a ação dos EUA e consagrando um
novo alinhamento em política internacional, com o Brasil –
assumindo o papel de líder latino-americano – aliando-se diante de
um tema de transcendência mundial, com as duas maiores potências
européias.
https://www.alainet.org/es/node/106854?language=en
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