Declaração de mulheres que constroem a paz
07/03/2003
- Opinión
Há que desnudar a memória, para reconstruir a verdadeira história e
despertar esse brilho dormido nos olhos de nossas e de nossos filhos.
Nora Murillo, Guatemala.
Nós, mulheres lutadoras pela vida, construtoras de esperança e em
resistência à guerra, reunidas, em Quito, Equador, de 24 a 28 de
fevereiro de 2003, manifestamos que a paz é um processo de construção
permanente de respeito, justiça, inclusão, eqüidade e solidariedade,
o que promove consensos éticos e políticos que garantam a vigência
dos direitos humanos integrais para mulheres e homens, transformando
as relações de poder, desde a vida cotidiana, até os espaços mais
públicos.
Constatamos que:
Na região se aprofunda a tendência histórica do armamentismo, com a
intervenção do governo norte-americano em nossos países através da
presença de tropas, condicionamento econômico, bases militares e
treinamento, corpos policiais locais, expressado no plano cabañas na
Argentina, Plano dignidade na Bolívia, Plano Colômbia, entre outros.
No econômico e político, impulsionam o plano Puebla-Panamá, a
Iniciativa Regional Andina, a ALCA e o Plano Andino meso-americano,
que acima de tudo são expressões dos interesses das empresas
transnacionais e dos organismos multilaterais, como o FMI, a OMC e o
Banco Mundial.
Este modelo aumentou a exclusão, a discriminação social, de gênero,
étnico, racial e de classe. Aprofundou a pobreza, a marginalidade de
amplos setores sociais, as migrações, os refúgios e os deslocamentos
de mulheres, meninas e meninos, de jovens e de pessoas mais velhas.
Favoreceu a entrega de recursos naturais e de nossa biodiversidade.
Aumentaram-se as violações aos direitos humanos integrais com o
conseqüente aumento do conflito social e a insegurança cidadã, onde
nós mulheres estamos sofrendo a violência privada e pública.
Ante esta situação, as mulheres da América Latina e do Caribe, como
forjadoras da vida reconhecendo-nos construtoras permanentes da paz,
desde a lida cotidiana e nos espaços públicos, com a experiência e
permanência na busca de nossos seres queridos e na luta pela justiça
e pela participação nos processos de paz, declaramos nosso total
rechaço à guerra, aos processos intervencionistas na América Latina,
ao armamentismo e a todas as formas de violação aos direitos humanos
integrais, que provocam sofrimento na vida das pessoas.
Manifestamos nosso repúdio às ameaças contra as defensoras e
defensores dos direitos humanos, na América Latina e no Caribe, que
lutam contra a impunidade, e exigimos aos Estados o respeito à
integridade física e a suas vidas.
Reconhecemos e saudamos a constância histórica dos povos indígenas e
negros que anima a esperança de que um mundo de justiça e paz é
possível. Saudamos as mulheres irmãs da América Latina, lutadoras
permanentes pela vida, que em situações de conflito, pobreza e
marginalidade, se encontram, se organizam e se constituem em
construtoras da paz.
Nós mulheres construtoras da paz, chamamos a todas as pessoas para
manifestarem sua solidariedade com todos os setores e povos
comprometidos para uma América Latina livre e soberana.
Somos mulheres que defendemos a vida e defendemos os marcos
referenciais para a transformação da sociedade planetária.
Queremos um mundo, onde todas e todos nós tenhamos direito a viver em
dignidade, justiça, prazer e liberdade.
ALERTA, ALERTA, ALERTA QUE CAMINHAM MULHERES COM MEMÓRIA NA AMÉRICA
LATINA
México, Guatemala, Salvador, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru,
Bolívia, Brasil, Uruguai, Argentina. Com o apoio de mulheres do Timor
Oriental, Holanda, Bélgica, Canadá.
https://www.alainet.org/es/node/107069
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