A derrota de Fox
10/07/2003
- Opinión
A derrota do presidente mexicano Vicente Fox e de seu
partido, o PAN, nas eleições parlamentares da metade do
mandato presidencial, representa também um revés para a
política norte-americana para a América Latina. A eleição
de Fox, há três anos atrás, foi utilizada por Washington
para projetar a liderança de Fox sobre o continente, ao
mesmo tempo que procurava fazer do paradigma mexicano a
referência central para o continente. A integração do
México ao Nafta seria o exemplo de como o processo de
integração continental representaria uma alavanca
fundamental para as economias de toda a América Latina,
colocando as bases para a Alca.
O segundo ano do mandato de Fox já prenunciava as
dificuldades desse projeto norte-americano, com a passagem
da economia dos EUA a uma fase recessiva e suas pesadas
conseqüências para uma economia como a mexicana, que havia
passado a ter mais de 90% do seu comércio exterior com o
seu vizinho do norte. Os ventos do outro lado do Rio
Grande passaram a contar negativamente, ao mesmo tempo que
empresas norte-americanas descobriram que é mais barato
explorar mão de obra da China – apesar da distância
geográfica -, do que na fronteira norte do México. Esses
fatores levaram a economia mexicana a iniciar sua atual
estagnação, que já está no seu terceiro ano.
No mesmo ano, os atentados de setembro fecharam ao
invés de abrir as fronteiras norte-americanas aos
mexicanos – uma das promessas fundamentais do governo Fox,
alegando sua amizade pessoal com Bush. A convergência
desses dois fenômenos, mais as dificuldades de Fox para
reformar o Estado e liberta-lo da dominação do PRI e de
fazer aprovar no Parlamento – em que o governo não tinha
maioria absoluta – já faziam prever o fracasso de Fox. As
eleições de domingo, em que o partido do governo teve a
preferência de apenas 30% de um total de somente 40% de
eleitores que compareceram às urnas demonstram como Fox
não conseguiu manter a simpatia que havia despertado.
Se o PRI se reafirma como o único partido nacional no
México, sua força dependerá de uma difícil solução da
candidatura presidencial num partido que se uniu agora na
adversidade, mas sem que nenhum nome galvanize a simpatia
da maioria dos caciques, grande parte dos quais
governadores de província. Não será fácil o PRI escolher
um candidato que mantenha essa unidade.
Por outro lado, o PRD, partido da esquerda mexicana,
que tradicionalmente teve a Cuahutemoc Cardenas como seu
candidato à presidência, melhorou substancialmente seu
fraco resultado eleitoral nas eleições parlamentares
anteriores, mas principalmente varreram nas eleições no
Distrito Federal, governado pelo partido há seis anos. O
atual governador de DF, Lopez Obrador, um jovem lider, que
substitui a Cardenas como principal liderança do PRD e
candidato à presidência, foi o responsável por esse
resultado, dada a boa administração de Obrador na capital
do país.
Ao se projetar como o principal candidato à
presidência em 2006, Lopez Obrador se apresenta como um
candidato que sai da órbita da atual política norte-
americana e abre, ao mesmo tempo, a possibilidade – até
aqui remota – de que o Mercosul, liderado pelo Brasil e a
Argentina, e o México, possam vir a recolocar a proposta
de integração continental, mais além do Nafta e da Alca.
Esse cenário pode alterar profundamente as relações de
força na América Latina, com o fortalecimento e extensão
do Mercosul, que pode contar já no ano que vem, com a
provável vitória da Frente Ampla no Uruguai nas eleições
presidenciais.
https://www.alainet.org/es/node/107862
Del mismo autor
- Hay que derrotar políticamente a los militares brasileños 07/04/2022
- China y Trump se fortalecen 04/03/2022
- Pandemia e Ucrânia aceleram decadência da hegemonia norte-americana no mundo 28/02/2022
- Pandemia y Ucrania aceleran la decadencia de la hegemonía norteamericana en el mundo 28/02/2022
- La anti-política generó la fuerza de extrema derecha 22/02/2022
- Las responsabilidades del PT 10/02/2022
- Estados Unidos, más aislado que nunca en América Latina 03/02/2022
- Memoria y olvido en Brasil 27/01/2022
- 2022: tiempos decisivos para Brasil y Colombia 05/01/2022
- Brasil: una historia hecha de pactos de élite 18/12/2021