O 'ethos' que se responsabiliza
31/07/2003
- Opinión
Os limites da Terra em sustentar a voracidade do crescimento
mundial e o correspondente consumismo se encontram em rápida fase
de esgotamento. Para operar uma autêrntica virada não bastam os
apelos dos organismos mundiais que estudam o estado da Terra nem
as diretrizes governamentais. Faz-se urgente uma verdadeira
revolução molecular a partir das consciências dos filhos e filhas
angustiados de nosso Planeta. O ethos que procura, dominante no
mundo, não tem condições de sozinho fornecer os instrumentos para
um salto de qualidade. Ele se desmoralizou porque não conseguiu
evitar o genocídio dos indígenas latino-americanos, o holocausto
nazifascista, os gulags soviéticos, as armas de destruição em
massa, as guerras de prevenção recentes e a devastação do modo de
produção capitalista com a geração crescente de miséria e
exclusão. Consegue se impôr não por argumentos mas pela força.
Uma convicção surge nas consciências mais despertas: ou a
civilização planetária deixa de ser prevalentemente ocidental ou
vai deixar de existir. Somos obrigados a desenvolver um ethos de
ilimitada responsabilidade por tudo o que existe vive, como
condição de sobrevivência da humanidade e de seu habitat natural.
Responsabilidade é a capacidade de dar respostas
eficazes(responsum em latim, donde vem responsabilidade) aos
problemas que nos chegam da realidade complexa atual. E só o
conseguiremos com um ethos que ama, cuida e se responsabiliza.
Responsabilidade surge quando nos damos conta das consequências
de nossos atos sobre os outros e a natureza. Hans Jonas, o
filósofo do "princípio de responsabilidade" formulou assim o
imperativo categórico: "aja de tal maneira que as consequências
de suas ações não sejam destrutivas da natureza, da vida e da
Terra". Esse imperativo vale especialmente para a biotecnologia e
aquelas operações que intervém diretamente no código genético dos
seres humanos, de outros seres vivos e de sementes transgênicas.
O universo trabalhou 15 bilhões de anos e a biogênese, 3,8
bilhões, para ordenar as informações que garantem a vida e seu
equilíbrio. Nós, numa geração, queremos já controlar esses
processos complexíssimos, sem medirmos as consequências de nossa
ação. Por isso, o ethos que se responsabiliza impõe a precaução e
a cautela como comportamentos éticos básicos.
Esse ethos se impõe algumas tarefas prioritárias. Quanto à
sociedade, cumpre deslocar o eixo da competição que usa a razão
calculista para o eixo da cooperação que usa a razão cordial. Com
referência à economia, importa passar da acumulação de riqueza
para a produção do suficiente e decente para todos. Quanto à
natureza urge celebrar uma aliança de sinergia entre a manejo
racional do que precisamos e a preservação do capital natural.
Quanto à atmosfera espiritual de nossas sociedades, importa
passar do individualismo e da auto-afirmação para a construção do
bem comum e do espírito de cooperação.
A responsabilidade revela o caráter ético da pessoa. Ela se
percebe co-responsável junto com as forças diretivas da natureza
pelo futuro da vida e da humanidade. Ao assumirmos
responsavelmente nossa parte, até os ventos contrários ajudam a
conduzir a Arca salvadora ao porto.
* Leonardo Boff. Teólogo.
https://www.alainet.org/es/node/108010
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