A "subversao" de Cuba e da Venezuela
06/01/2003
- Opinión
O governo Bush tem razão de se preocupar com o que Cuba e a
Venezuela pode fazer para desestabilizar ainda mais a capacidade de
influencia de seu país na América Latina. Só que o que eles chamam
de "subversão" – revelando sua nostálgica visão da "guerra fria" –e
é outra coisa, mais perigosa do que qualquer ajuda econômica,
treinamento de guerrilheiros ou propaganda ideológica. São coisas
para as quais os olhos viciados do cow-boy texano tem dificuldade
para ver.
Quando o continente vive sua pior crise social desde os anos 30 do
século passado, como conseqüência da aplicação das políticas que seu
governo e os organismos internacionais em que Washington tem
hegemonia recomendavam como as melhores para a América Latina, o
governo Bush tem razão para preocupar-se. A Argentina, eleita como o
melhor aluno dessas políticas com Carlos Menem, sofreu o pior
retrocesso de sua história, do qual só poderá recuperar-se se
mantiver um ritmo contínuo de crescimento por dez anos. Menem foi
derrotado pela votação do povo argentino.
O México foi o aliado privilegiado de Washington, ingressou à Nafta
como exemplo de que a integração subordinada consolidada seria o
melhor caminho para os países do continente. O México retrocedeu
tudo o que havia andado e muito mais com a recessão norte-americana
e Fox foi derrotado pela votação do povo mexicano em julho de 2003.
Sanchez de Losada foi reeleito na Bolívia tendo ao embaixador dos
EUA como seu principal cabo eleitoral, prometendo retomar suas
políticas neoliberais. Seu governo não durou um ano, fracassou
estrepitosamente e o povo boliviano o derrotou e o depôs nas ruas e
nos campos do país.
Alejandro Toledo no Peru, Jorge Battle no Uruguai, esgotaram
rapidamente seus governos, ficando à espera do fim de seus mandatos
e de ser derrotados nas urnas pelos povos de seus países.
O governo chileno assinou um dos tratados comerciais mais
vergonhosos que já foram subscritos no nosso continente com o
governo dos Estados Unidos, um prenúncio do que seria a Alca, e que
permite aos capitais norte-americanos circular pelo Chile como se
estivessem no Michigan ou na Califórnia – ou, pior, porque alguns
estados dos EUA têm legislações que minimamente os protegem de
alguns excessos, enquanto que o governo de Ricardo Lagos se entregou
de pés e mãos atados aos capitais norte-americanos, renunciando à
soberania que ainda restava ao país.
A ALCA é derrotada dentro e fora dos EUA, como a reunião de Miami
revelou, com um consenso generalizadamente contrário aos desígnios
norte-americanos de escancarar todas as fronteiras do continente
para seus capitais.
Enquanto isso, Cuba e a Venezuela assinaram e colocam em prática um
tipo bem distinto de intercâmbio, em que cada país fornece ao outro
o que possui: a Venezuela dá petróleo a Cuba e em troca recebe
remédios, técnicos em alfabetização, em medicina social, em
esportes. O que se convencionou chamar de "comércio justo", aquele
em que cada um país fornece o que dispõe e recebe o que necessita,
independentemente dos preços do mercado internacional.
Além desse "mal exemplo", os dois países privilegiam o social,
deslocando o grosso de seus recursos para universalizar o direito de
acesso à educação, à saúde, à habitação, ao saneamento básico, à
informação, à cultura, enquanto outros governos do continente
continuam a seguir as orientações do FMI e privilegiam o ajuste
fiscal.
São intoleráveis para Washington os exemplos dados por Cuba e pela
Venezuela. Quando acusa ao principal líder boliviano, Evo Morales,
de ser abastecido por Cuba e pela Venezuela, na sua cabeça
mercantilizada sempre passa o argumento de fornecimento de dinheiro,
quando se trata, na verdade, do fornecimento de modelos não
mercantis de construção de sociedade e de intercâmbio entre os
países.
Justas as preocupações do governo Bush. Que coloque suas barbas de
molho, porque estes anos não são nada propícios à sua ideologia
belicista e à sua concepção mercantil das relações econômicas. Cuba
e a Venezuela são apenas a ponta de um iceberg que ressurge como
resistência latino-americana à hegemonia imperial e neoliberal dos
EUA.
https://www.alainet.org/es/node/109035?language=es
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