O "politicidio" de Ariel Sharon
23/03/2004
- Opinión
No meio da guerra fria, o então Secretario de Estado dos EUA,
Foster Dulles, ao falar de Anastásio Somoza, disse: "It's a sun of a
bitch, but it's our sun of a bitch", revelando claramente qual o
critério para classificar a todos: nosso ou deles, não importa o que
seja.
Uma guerra contra o terrorismo no mundo, que não tenha a Ariel
Sharon como principal inimigo, mas como aliado, não pode ser levada
a sério. Para a política de Bush, Sharon é um terrorista, mas um
terrorista aliado, o que o diferencia radicalmente, aos olhos dele,
de Milosevic, de Sadam Hussien e de Bin Laden.
Sharon foi eleito, em fevereiro de 2001, primeiro ministro de
Israel, com uma votação inédita de 52%. Essa eleição representou uma
virada significativa na história de Israel. Essa mudança se
consolidou nas eleições de janeiro de 2003, em que Sharon foi
reeleito – o primeiro a ter conseguido isso desde Menachem Begin, em
1981 - e sua coalizão conquistou 69 das 120 cadeiras do Parlamento
israelense.
No governo de Sharon, Israel tornou-se um agente de destruição
da identidade palestina e da identidade do seu próprio país. O
professor Baruch Kimmeling, que leciona na Universidade Hebréia de
Jerusalém, chama de "politicídio" um processo que tem "como
finalidade última, a dissolução da existência do povo palestino como
uma legítima entidade social, política e econômica." ("Politicídio
– A guerra de Ariel Sharon contra os palestinos, Ed. Verso, Londres,
2003.) Esse processo, na sua opinião, pode incluir também a limpeza
étnica dos territórios que consideram como pertencentes a Israel.
"Desse ponto de vista, o resultado será um duplo homicídio – o da
entidade palestina e, no longo prazo, também o da entidade judaica."
O "politicídio" é um processo através do qual, por meio de uma
série de atividades de caráter social, política e militar, se busca
destruir a existência política e nacional de uma comunidade popular
e assim negar-lhe a possibilidade de autodeterminacão. A capacidade
para desenvolver esta política depende do apoio do governo norte-
americano. A deslegitimação do governo de Yarafat, preparando as
condições para seu assassinato foi levada a cabo pela aliança
Bush/Sharon, sabedores que isso levará a maior radicalismo e
violência – o caldo de cultivo que alimenta esses dois governos.
Os assassinatos seletivos visam a eliminação física dos
principais lideres palestinos, aqueles que podem catalizar a
identidade de um povo sem Estado e sem pátria. Destruir a memória, a
identidade, a auto-estima dos palestinos - é o objetivo do
terrorismo de Estado de Sharonbush, cujo lugar deveria ser – e um
dia será – no Tribunal Penal Internacional, para pagar por seus
crimes de genocídio contra a humanidade.
https://www.alainet.org/es/node/109657?language=en
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