IV Conferencia Internacional de Vía Campesina

O domínio do capital sobre a agricultura

17/06/2004
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“Nas últimas duas décadas enfrentamos uma nova etapa do capitalismo que se caracteriza pelo domínio do capital financeiro que alcança todos os países através da globalização; que é o mecanismo que o capital financeiro utiliza para poder atuar nos países e em todos os setores da economia”. Com estas palavras, João Pedro Stédile, dirigente nacional do Movimento dos Sem Terra do Brasil, iniciou a sua intervenção sobre as tendências do capital e os desafios dos movimentos camponeses durante a IV Conferência Internacional da Via Campesina. A agricultura, que estava subordinada ao capital industrial na década de 80, através da agroindústria de alimentos e insumos para a agricultura, está agora subordinada aos interesses do capital financeiro internacional, que atua com uma lógica muito mais rápida e concentra ações nas empresas mais lucrativas, formando grandes monopólios e empresas transnacionais. Na agricultura do mundo tem dez grandes empresas (como Monsanto, Bayern, Cargill, Nestlé, Sygenta, Basf, Norvatis, ADM), que atuam em distintos setores relacionados com a produção agrícola; e uma mesma empresa controla o comércio agrícola, a agroindústria, os agrotóxicos e as sementes, assinalou Stédile. Como efeito desse movimento de capital – destacou – tem uma concentração e centralização dessas empresas que passarão a atuar em todo o mundo. E mais, esse capital não só trata de controlar o comércio, as matérias primas e as indústrias como o fazia desde muitos anos, mas agora busca estabelecer um padrão de alimentação no mundo todo, para conseguir unificar os hábitos alimentares e conseguir taxas de lucro mais altas. Isso na medida em que a população vai sendo induzida e manipulada a comprar e a alimentar-se com os mesmos produtos, independentemente dos países onde residem. O dirigente do MST sublinhou que agora o capital já não se contenta em comprar as forças de trabalho e ter a propriedade privada do conhecimento, da tecnologia, das técnicas agrícolas e das sementes. As sementes transgênicas estão dentro dessa lógica do capital de aumentar a produtividade física das plantas. Assim mesmo, disse, “assistimos a uma redivisão internacional do trabalho que é partilhada pelas 500 maiores empresas do mundo e pelos governos que se submetem a elas, e que mais do que defender os interesses dos seus povos que os elegeram se transformaram em governos que defendem os interesses dessas transnacionais”. Sob este modelo se inviabiliza a agricultura familiar e camponesa e somente sobrevive um pequeno setor de camponeses submetidos à agroindústria e à exportação. O capital não tem mais interesse em ser proprietário de terra, agora quer ser proprietário privado da biodiversidade, da água e das sementes. E a nova conseqüência é que utiliza a biotecnologia como uma forma de aumentar a exploração sobre os camponeses e como uma forma de aumentar a produtividade agrícola por hectares. Se o modelo agrícola do grande capital se consolida, milhões de camponeses no mundo todo serão desalojados, acrescentou Stédile. Esta nova realidade estabelece grandes desafios ao movimento camponês internacional. “Como os métodos de exploração se têm internacionalizado, também criaram como conseqüência um inimigo comum para todos os movimentos camponeses, que agora não podem se limitar em enfrentar os inimigos apenas nos seus países nacionais pois o inimigo é internacional. E isso faz que nossas lutas e reivindicações sejam também comuns, e temos que pensar um novo modelo agrícola que não se limita somente a reivindicações pontuais”, afirmou o dirigente do MST. Além disso, declarou que é necessário repensar o novo papel do Estado. “Por isso os nossos movimentos devem defender a soberania nacional; e o papel desse outro Estado, que é o único poder do povo que pode criar mudanças e ajudar a construir uma sociedade menos desigual. E temos que nos juntar para enfrentar os organismos internacionais e os acordos que eles fazem e que representam os interesses do capital”.
https://www.alainet.org/es/node/110183
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