Polícia política intercepta plano de assassinato de Chávez
02/08/2004
- Opinión
Há menos de duas semanas para o referendo revogatório do mandato
presidencial de Hugo Chávez o clima em todo o país é de
apreensão. O desmonte de um atentado que seria realizado por
paramilitares contra o presidente e declarações de líderes
opositores revelam que a via escolhida pela oposição para
derrubar o presidente não será pacífica.
Grupos paramilitares das Autodefesas Unidas da Colombia (AUC),
com o auxílio de integrantes da Guarda Nacional venezuelana, a
bordo de um avião F16, pretendiam assassinar ao presidente com
um bombardeio durante a realização do seu programa radial
dominical Alô Presidente. "Disseram que qualquer operação que
fizessem em Miraflores seria um fracasso se não matassem o
presidente", disse Miguel Rodriguez Torres, um dos diretores da
Disip (polícia política) ao anunciar em coletiva de imprensa,
dia 31, junto com Lucas Rincón Romero (Ministério do Interior) e
de Marcos Chávez (polícia científica) como seria realizada a
operação. O resultado da interceptação feita pela Disip foi a
prisão de mais de 120 paramilitares em 9 de maio deste ano.
De acordo com Miguel Rodriguez Torres, a estratégia dos
paramilitares era bombardear o Palácio Miraflores, de onde
Chávez apresentaria o programa. "Um dos coronéis disse não estar
de acordo porque morreriam inocentes, mas outro respondeu que
este era o preço a pagar para tirar a Chávez", afirmou Torres ao
comentar a interceptação de uma das conversas telefônicas. No
dia em que sofreria o atentado, Chávez não apresentou o
programa, alegando problemas de saúde.
O magnicídio foi planejado durante uma reunião, dia 23 de abril,
no Country Club de Caracas, organizada por Gustavo Zingg
Machado, um latifundiário do Estado Zulia, que faz fronteira com
a Colômbia. Além de assassinar o presidente, os paramilitares
planejavam atentados contra os líderes mais influentes das
Forças Armadas, entre eles, os coronéis de destacamento da
Guarda Nacional, Jonathan Farías e Arcón Matos, sendo o último
um dos oficiais que tem contato direto com o presidente. Os
grupos também pretendiam tomar a Base Aérea La Carlota, Caracas.
Farías, Arcón e seu efetivo seriam bloqueados por "policiais"
vestidos com uniforme do exército nos bairros populares de Cátia
e 23 de janeiro para evitar que os oficiais pudessem chegar ao
Palácio Miraflores, onde atuariam os grupos paramilitares.
Colombianização
A presença de grupos das AUC na Venezuela não é fato novo. Na
região de fronteira entre os dois países, o combate entre as
Forças Aramadas venezuelanas e grupos paramilitares da Colômbia
é frequente. Esses conflitos, de acordo com o economista e
ativista político colombiano, Héctor Mondragón, fazem parte da
estratégia de dominação da continente implementada por meio do
Plano Colômbia, financiado pelos EUA sob o argumento de combater
o tráfico de drogas no país.
A estratégia do Plano Colômbia é transferir o problema dos
paramilitares para os países vizinhos, como Venezuela e Equador,
para justificar uma intervenção estadunidense seguindo os mesmos
moldes do que é praticado na Colômbia hoje: assassinatos de
camponeses, de ativistas políticos e sequestros, sob a "tutela"
do Estado.
Mondragón denuncia que estão sendo realizados treinamentos de
grupos paramilitares venezuelanos na região de fronteira com a
Colômbia para controlar uma possível insurreição popular caso a
oposição não respeite um resultado eleitoral favorável a Chávez.
"Se isso acontecer será a colombianização da Venezuela. Serão
conformadas as Autodefesas Unidas Venezuelanas (AUV), que já
estão sendo treinadas por paramilitares colombianos e vão dar
início a uma série de atos de violência e práticas terroristas
no país", avalia.
Opositor admite que "matar" a Chávez é única saída
Diante dos resultados das pesquisas de opinião que apontam a
vitória do presidente Hugo Chávez no referendo de 15 de agosto,
o ex-presidente da Venezuela, Carlos Andrés Pérez, residente em
Miami, em entrevista ao jornal opositor El Nacional revela que a
oposição não está disposta a respeitar as regras caso o
presidente venezuelano vença o plebiscito. O referendo "não é a
via. Estou trabalhando para derrubar Chávez (do poder). A via
violenta permitirá sacá-lo, é a única (via) que temos (...) Eu
sou parte desse batalhão", afirmou o ex-presidente que esteve
sob o comando do país entre os anos de 1974-1979 e 1989-1993,
quando ocorreu o Caracazo. [1]
O ex-presidente disse que "Chávez deve morrer como um cachorro,
com desculpas a esses nobres animais", e admitiu que sem Chávez
a democracia no país deverá ser suspensa e o país passará por
uma etapa de "transição de dois ou três anos (...) sem
Parlamento e sem Tribunal Supremo de Justiça".
"Isso é o que quer a oposição, uma ditadura", respondeu o
presidente venezuelano no Alô Presidente deste domingo, dia 1,
onde convocou à "oposição mais racional, para não se deixar
levar pelos chamados de violência dos setores mais radicais da
oligarquia".
Efeito Madrid
As declarações de Pérez caíram como uma bomba para a
Coordenadora Democrática que às vesperas do referendo ainda não
conseguiu arrancar uma campanha pelo "Sim". Para tentar reparar
as declarações de Pérez, que podem atingir diretamente o
eleitorado que é contrário ao governo, mas também à violência,
Enrique Mendonza, um dos líderes da CD disse que irão derrocar a
Chávez com o "poder das pessoas, atravéz dos votos". A oposição
necessita somar mais de 3.800 milhões de votos para revocar o
mandato presidencial.
Diante de um cenário nada animador para a oposição, com as ruas
do país tomadas por cartazes de "Não" estão sendo criados dois
possíveis "fatos" para tentar impedir a vitória de Chávez. Com a
ajuda dos meios de comunicação, os apoiadores do "sim" têm
declarado que o governo pretende cometer uma fraude, intervindo
na empresa de telecomunicações (Cantv), ligada à oposição, que
fará a transmissão dos dados no dia do pleito.
Outra possibilidade que ventila nos corredores de Miraflores é
que a oposição poderia recorrer ao "efeito Madrid", em alusão ao
atentado de 11 de março deste ano que deixou 191 mortos na
capital espanhola, três dias antes das eleições. O atentado
mudou os resultados das eleições que indicavam a vitória do
partido do então presidente José Maria Aznar.
Diante disso, Chávez que reiteradamente tem dito que "seja qual
for o resultado", vai respeitá-lo, fez um chamado "a todos os
venezuelanos, civis e militares" para que estejam atentos porque
"à luz de todos, setores da oposição impulsionados pelo império
(EUA) vão tratar de alterar a boa marcha que antecipam 15 de
agosto ou durante" o dia do plebiscito, alertou.
[1] No último mandato de Pérez, após aprofundar as políticas
neoliberais e provocar o aumento de bens de consumo básicos,
ocorreu o levante popular chamado Caracazo, no qual mais de
3.500 pessoas foram assassinadas pelas Forças Armadas sob o
comando de Pérez. O TSJ em janeiro de 2002 pediu sua extradição
para julgá-lo em processo que é acusado de corrupção.
* Claudia Jardim, de Caracas (Venezuela)
https://www.alainet.org/es/node/110309
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