Chávez se fortalece; oposição contesta
15/08/2004
- Opinión
Uma chuva fina, porém constante, caiu sobre Caracas
durante toda a madrugada de segunda feira. As ruas dos
bairros de classe média estavam praticamente vazias e
pouquíssimos táxis circulavam. Mas na avenida Urdaneta,
em frente ao palácio de Miraflores e em vários bairros
populares, o clima era outro. Milhares de pessoas, já
encharcadas, começavam a comemoração de uma vitória que
se anunciava nas horas anteriores.
Eram exatamente 3:47 hs., quando o presidente do
Conselho Nacional Eleitoral, Francisco Carrasquero, em
rede nacional de rádio e televisão, anunciou o primeiro
resultado parcial das apurações do referendo
revogatório do mandato do presidente Hugo Chávez. Foi
um pronunciamento curto e seco de menos de dois
minutos:
- Apurados 94,49% do total, a opção "Não" obteve
4.991.483 votos, correspondentes a 58,25% da totalidade
v´lida e a opção "Sim" alcançou 3.576.517 votos,
chegando a 41,74% do número de eleitores. Muito
obrigado".
O visível ar de cansaço de Carrasquero, um respeitado
jurista, se contrastou com a explosão de alegria das
ruas. Minutos depois, o próprio Chávez subiu ao
palanque montado no meio da pista para comentar os
números: "Aqui não há ganhadores ou perdedores, só
vencedores. Ganham os que votaram pelo ´não´ e ganham
os que votaram pelo ´sim´; ganha a democracia
venezuelana". E aproveitou pra fustigar mais uma vez o
governo norte-ameicano. "Que isso sirva de aviso à Casa
Branca, para que respeite a soberania de nosso povo".
Chávez se fortalece imensamente com os resultados. É
sua oitava vitória eleitoral consecutiva, desde que se
sagrou presidente em dezembro de 1998. Com um dado a
mais: sua aceitação cresceu, tanto em número absoluto
de votos (3,67 milhões naquela época), quanto em termos
percentuais (57% há seis anos). E ganha musculatura
internacionalmente, por mostrar ser possível seguir
governando sem contar com o beneplácito de Washington.
Inconformismo
Durante o dia de segunda-feira, vários membros da
oposição revezaram-se nos programas de entrevistas das
redes privadas de televisão, para externar seu
inconformismo com os resultados. O líder do MAS
(Movimiento al Socialismo), Felipe Mujica alegou fraude
e seqüestro dos resultados. Outros, como o ex-
presidente da PDVSA (Petróleos de Venezuela), Luis
Giusti, dizia que "a instabilidade continua", pois
Chávez "não pode governar contra metade do país". E não
faltaram vozes a tentar desqualificar o próprio CNE
como parcial e pró-chavista.
A esses, o deputado do MVR (Movimento Quinta República,
apoiador do governo), Juan Barreto, respondeu: - É
curioso. Em junho, quando o CNE anunciou que iria haver
referendo, apesar de inúmeras comprovações de fraudes
no processo de coleta de assinaturas, nenhum deles
levantou uma única reclamação.
O próprio ex-presidente norte-americano Jimmy Carter,
proprietário da Organização Não Governamental Centro
Carter, presente como observador, reconheceu ser o
processo eleitoral venezuelano "mais limpo do que o da
Flórida no ano 2000, quando se consagrou a vitória de
George W. Bush". É bem possível que aumente a tendência
de fragmentação da oposição, diante dos resultados da
consulta popular.
Filas e demora
No entanto, se no aspecto da lisura o processo de
votação de domingo mostrou-se bastante impermeável a
fraudes, o mesmo não se pode falar da metodologia
eleitoral. Filas imensas formaram-se desde às seis da
manhã em praticamente todos os locais de votação.
Eleitores, muitos deles idosos, tiveram de esperar por
mais de seis horas nas filas, o que levou o pleito a se
prolongar até a meia noite.
Apesar disso e apesar do voto ser facultativo, ninguém
arredava pé de seus postos. "Quero participar desse
momento histórico", "espero quanto tempo for, debaixo
de sol ou chuva" diziam vários eleitores.
A polarização extrema e a crescente politização da
sociedade fez destas as eleições mais disputadas da
história venezuelana. Os atrasos nas filas têm algumas
causas bem objetivas: o aumento de mais de 20% do
número de eleitores, a queda acentuada da abstenção, ao
redor de 40% nos últimos dez anos e o fato da
distribuição das mesas não ter sido a melhor possível.
Colégios com até 9 mil eleitores contavam com apenas
quatro mesas de votação, o que tornou moroso o
processo, apesar das urnas automatizadas.
"Pero, estamos haciendo um revolución"
"Não me surpreende essa lentidão", afirmou o escritor
uruguaio Eduardo Galeano, presente como observador
internacional. "Temos uma participação política inédita
da população, que se confronta com um sistema eleitoral
ainda organizado segundo os velhos métodos burocráticos
e viciados existentes por 40 anos na Venezuela", diz
ele, que se surpreendeu com o "ar de graça e felicidade
estampados nos rostos das pessoas ao votar".
Por trás de tudo, há também uma crônica desorganização,
parte da cultura geral do país. Uma crise econômica e
institucional de mais de 20 anos e uma informalização
grande no mundo do trabalho geram comportamentos de
desleixo em várias esferas da vida nacional.
Compromissos pessoais são descumpridos sem grande
preocupação e horários marcados são muito mais
flexíveis que no Brasil (onde a pontualidade geral
também está longe de ser britânica).
Quando indagados sobre essas características, muitos
venezuelanos têm hoje um resposta na ponta da língua,
como o assessor presidencial Maximilien Arvelaiz: - Si,
és verdad. Pero, estamos haciendo una revolución. Y
ustedes?
Más información en:
* Español:
Entre Venezuela y Nadalandia (Eduardo Galeano) [2004-08-18] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6598
Venezuela cambió para siempre (Aram Aharonian) [2004-08-18] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6597
El "Plan Sombras" de la CIA está en marcha en Venezuela (J. Martín Guédez) [2004-08-18] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6600
Venezuela: Ocaso del periodismo-fraude y de las encuestas fuleras (Hernán Uribe) [2004-08-18] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6599
PROVEA felicita al pueblo venezolano (PROVEA) [2004-08-17] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6595
Venezuela: La tensa calma que deja el resultado del referéndum (Fernando Campa) [2004-08-17] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6594
De pronto Venezuela nos da el ejemplo (Raúl Wiener) [2004-08-17] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6601
Venezuela: Chávez no se va (Ion Arregi) [2004-08-16] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6585
De pueblos, gobiernos y de las luchas que vendrán (Daniel Campione) [2004-08-16] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6572
Creer en el pueblo también rinde dividendos (Rubén Armendáriz) [2004-08-16] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6571
Chávez gana referendo (Claudia Jardim) [2004-08-16] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6570
Referéndum y Pueblos Indígenas (Nilo Cayuqueo) [2004-08-14] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6568
Venezuela NO está sola! (Víctor Hugo Jijón) [2004-08-14] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6567
Será mi NO admisible? (Manuel Brito) [2004-08-14] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6573
Chávez se queda (Angel Guerra Cabrera) [2004-08-13] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6566
Maisanta superó a Ayacucho, o cómo radicalizar la Revolución (Omar Gómez) [2004-08-13] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6569
* Portugués
Chávez ganha referendo (Claudia Jardim) [2004-08-16] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6575
Venezuela: Chávez se fortalece; oposição contesta (Gilberto Maringoni) [2004-08-16] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6579
Oposição falsifica anúncio de suposta derrota de Chávez (Claudia Jardim) [2004-08-15] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6578
Referendo decidirá futuro do continente [2004-08-14] http://alainet.org/active/show_text.php3?key=6574
https://www.alainet.org/es/node/110360
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