Ler um vídeo (Quarta part)e: quatro falácias
15/09/2004
- Opinión
(Falácia: engano, fraude ou mentira com a qual se tenta
prejudicar alguém).
Houve e há mais, mas foram quatro as principais falácias que
foram levantadas por intelectuais de direita, juízes,
legisladores e governantes para opor-se aos Acordos de San
Andrés, ao projeto de lei da COCOPA e à realização prática
destes acordos pelas comunidades indígenas zapatistas com a
criação dos caracóis e das Juntas de Bom Governo, em agosto
de 2003.
Como modernas profetizas, previram então a desintegração do
Estado mexicano, a criação de um Estado dentro de outro
Estado "para" Marcos (foi esta a manchete de uma edição de
agosto de 2003 do jornal de propriedade de Ahumada,
paradoxalmente chamado El Independiente), o aumento dos
conflitos intercomunitários e a violação dos direitos
humanos individuais pelo exercício dos direitos coletivos.
De acordo com isso, o que o EZLN preparava era uma ofensiva
político-militar, que incluía um ataque ao quartel do
Exército federal localizado na cabeceira de San Andrés, e
outras bobagens desse tipo. Alarmaram-se, alertou-se o
Exército, a Força Aérea, a Marinha, a PFP, se apresentaram
armas, ordens de apreensão, operações policiais, dinheiro
para comprar silêncios e palavras. Deram declarações que
contradiziam minutos depois, e em seguida se contradiziam de
novo (dando o devido peso a cada um, o campeão foi e é
Santiago Creel). Histéricos, trocaram rumores disfarçados de
informes de inteligência e informes de inteligência
disfarçados de rumores. Nesses dias, o Sudeste Mexicano
esteve a poucas palavras de transformar-se novamente (como
em 1994, em 1995, em 1998) em cenário de combates.
Mas houve quem, de cima, mas de fora, disse que não, que se
tratava de uma iniciativa política, não militar, e que não
era outra coisa a não ser praticar o que o governo federal e
o EZLN haviam acordado em fevereiro de 1996, só que 7 anos
depois.
Alguém mais recomendou deixar que se fizesse, esperar o
fracasso, e preparar o "eu disse" junto à avançada militar
do Exército federal sobre as posições zapatistas.
O que conto ocorreu realmente nas reuniões do gabinete de
Vicente Fox nos meses de julho e agosto do ano passado.
Como é evidente, o que decidiram foi esperar que
fracassássemos. E, como sempre ocorre quando fazem um
cálculo político ou militar em relação a nós, falharam.
Não só não fracassamos: além de melhorar significativamente
as condições de vida das comunidades indígenas, agora temos
argumentos práticos e comprovados para afundar as falácias
sobre as quais se sustentou o rechaço à chamada lei COCOPA.
DESINTEGRAÇÃO DO ESTADO?
Alguns anos atrás, um dos membros da Suprema Corte de
Justiça da Nação, esta instância que distribui impunidades
aos poderosos (só que redigidas em termos jurídicos),
argumentou sua posição contra o reconhecimento
constitucional dos direitos indígenas assim: "Dividir-se-ia
o estado mexicano, haveria muitos países num único
território e leis particulares em cada lado. Em suma, o país
balcanizar-se-ia".
Alguém poderia pensar que estava se referindo ao
narcotráfico e seu vínculo com governantes e juízes, mas
não, falava da conveniência de reconhecer a existência dos
povos indígenas mexicanos, ou seja, de reconhecer seus
direitos coletivos.
Com a criação dos caracóis e das Juntas de Bom Governo, nós
zapatistas decidimos praticar os Acordos de San Andrés e
demonstrar, através dos fatos, que queríamos ser parte do
México (do qual não éramos parte a não ser deixando de ser o
que somos).
Passado um ano do nascimento dos caracóis e das Juntas o
país está, de fato, desintegrado, mas não pela autonomia
indígena, mas sim por uma autêntica guerra interna, pela
impiedosa destruição de seus fundamentos: a soberania sobre
os recursos naturais, a política social e a economia
nacional. Estas três bases, que são as que, entre outras
coisas, são destruídas nas guerras de secessão e imperiais,
são agora dinamitadas pelos três poderes federais.
A soberania sobre o petróleo e a geração de energia, para
dar um exemplo, é um dos objetivos das reformas
constitucionais que estão pendentes no Congresso. A política
social (ou o Estado do Bem-estar Social) transformou-se em
algo ridículo: as dependências que cuidam deste aspecto não
passam de instituições de caridade e esmolas, e as
conquistas dos trabalhadores são desprezadas através de
pactos secretos acompanhados de campanhas de mídia
estridentes (o caso do IMSS, para citar um recente). Já faz
um bocado que a economia nacional deixou de sê-lo e se
transformou na "camelodromização" da sobrevivência. A planta
produtiva nacional é um montão de sucatas industriais e
saudades, o comércio está monopolizado por grandes empresas
transnacionais, o sistema bancário é permeado pelo capital
estrangeiro e o vaivém da especulação financeira manuseia
variáveis globais, não nacionais.
Traduzindo: menos emprego, e mais precário, mais desemprego
e subemprego, preços altos, salários baixos, importa-se o
que podemos produzir, produz-se para um mercado global, do
qual somos apenas uma variável macroeconômica, e não para o
consumo interno. A pobreza já atinge não só os
trabalhadores, mas também os pequenos e médios empresários,
e os mexicanos ricos são cada vez menos e mais ricos.
Em suma, o governo federal renunciou às suas funções e o
estado nacional cambaleia golpeado pelos de cima, não pelos
de baixo.
Há uma forma de chamar as mudanças tão profundas como as que
sofre o nosso país, quando se fazem de cima e prescindindo
de qualquer consenso ou consulta aos de baixo: chama-se
contra-revolução.
A única coisa que restaria seria refundar a nação. Com um
novo pacto social, uma nova Constituição, nova classe
política e nova forma de fazer política. Em suma, faltaria
um programa de luta, construído a partir de baixo, com base
na real agenda nacional, não na que promovem os políticos e
os meios de informação.
De nossa parte, nada do que foi feito, como se verá nesta e
em outra parte posterior, pelas Juntas de Bom Governo e
pelos Municípios Autônomos Rebeldes Zapatistas, contribuiu
para a desintegração do Estado nacional.
UM ESTADO NO INTERIOR DE OUTRO ESTADO?
Quem governa bem deve governar para todos, não só para
aqueles que simpatizam com ele ou militam em sua
organização, nem só para aqueles de sua mesma raça, cultura,
cor ou língua.
Na concepção zapatista, a luta pela inclusão de um não é a
luta pela exclusão de outro. Se a existência do mestiço não
deve implicar no desaparecimento do indígena, o nosso
reconhecimento do que somos não implica na negação dos que
não são como nós. E isso vale para o indígena e para o
zapatista.
As Juntas de Bom Governo são a prova de que o zapatismo não
pretende hegemonizar nem homogeneizar, sob sua idéia e com o
seu jeito, o mundo em que vivemos.
As JBG nasceram para atender todos, zapatistas, não-
zapatistas, e inclusive antizapatistas. Nasceram para mediar
entre as autoridades e os cidadãos, e entre diferentes
âmbitos e hierarquias. Têm feito isso e continuarão a fazê-
lo. Um ano atrás, quando do nascimento dos caracóis e das
Juntas, o Comandante David ofereceu respeito a quem nos
respeitasse. Estamos cumprindo isso.
Assim, as Juntas de Bom Governo mantêm uma comunicação
respeitosa com diferentes organizações sociais, com muitos
dos governos municipais oficiais com os quais os autônomos
partilham o território, e, em algum caso, com o governo do
Estado. Trocam-se recomendações e se procuram resolver os
problemas através do diálogo.
À diferença do governo federal cujo "enviado" dedica-se a
ser ridículo, com custos para o erário, e a panfletar isso
na imprensa, o governo estadual preferiu não fazer uma
campanha de mídia (no que se refere ao zapatismo) e optou
por dar sinais e esperar pacientemente. Sabendo que os
olhares do zapatismo não são locais, mas sim federais, o
governo de Chiapas escolheu não ser parte do problema e
tratar de ser parte da solução.
Enquanto alguns espertinhos enrolam don Luis H. Alvarez
fazendo-lhe crer que têm contato com o EZLN, lhe tiram
dinheiro e o levam de um lado pra outro com a promessa de
que vai ver "aquele" (Marcos), e trata, sem resultados, de
construir a "força camponesa" do PAN distribuindo telhas de
zinco e painéis solares, o governo estadual tem uma linha de
comunicação verdadeira com as comunidades zapatistas.
No caso específico, não nos opomos a que o governo Fox pague
o salário ao autodenominado "enviado de paz", mas achamos
que deveria redefinir o seu trabalho: no lugar de pagá-lo
para procurar o diálogo com os zapatistas (coisa que não
faz), deveria pagá-lo para quitar os gastos dos
antizapatistas.
Com o governo do estado de Chiapas, as Juntas de Bom Governo
têm mediado os casos dos seqüestrados pela CIOAC em Las
Margaritas, em parte da indenização aos agredidos em
Zinacantán, na indenização de camponeses atingidos pelo
trajeto da rodovia na região da selva tzeltal, no problema
das "bicitaxis" da costa de Chiapas, e talvez em algum outro
que agora me foge da memória. Verão tudo isso quando
consultarem os informes específicos de cada Junta, porque
não se esconde nada. Em geral, em qualquer momento, tem se
procurado evitar enfrentamentos entre indígenas.
Atualmente se mantém contato para os casos do recente
assassinato de um companheiro base de apoio em Polhó e do
estupro de uma menina de 11 anos em Chilón.
Respeitar é reconhecer, e as Juntas de Bom Governo
reconhecem a existência e a jurisdição do governo do Estado
e dos municípios oficiais e, na maioria dos casos, as
autoridades oficiais municipais e o governo do Estado
reconhecem a existência e a jurisdição da JBG. Da mesma
forma, as Juntas de Bom Governo reconhecem a existência e a
legitimidade de outras organizações, respeitam e pedem
respeito.
Só assim, respeitando, é possível fazer acordos e cumpri-
los.
Demorou um tempo, mas agora as pessoas e organizações não-
zapatistas e antizapatistas sabem que podem procurar as JBG
para tratar de qualquer problema, que não serão detidos (as
JBG são instâncias de diálogo, não de punição), que o seu
caso será avaliado e se fará justiça. Se alguém quer um
castigo por alguma coisa, procure um município oficial ou um
autônomo, mas se alguém quer solução através do diálogo e do
acordo, procure a Junta de Bom Governo.
MAIS CONFLITOS?
Este proceder das Juntas de Bom Governo começa a produzir
efeitos nos municípios autônomos e nos oficiais. Para
problemas sociais entre grupos, comunidades e organizações
se recorre cada vez menos ao uso da força ou à troca de
seqüestrados, e se procura cada vez mais o diálogo. Assim,
foi possível ver que muitos casos não são de enfrentamentos
entre organizações, mas sim problemas individuais que se
apresentam como organizativos.
A nossa palavra é o que temos de mais importante. Sobre ela
tem sido construída a autoridade moral de um movimento que
procura, não sem tropeços, uma nova forma de fazer política.
Antes se dava por batido que qualquer agressão que se
apresentava tinha origem política, se fazia a denúncia e se
realizavam mobilizações. Agora, antes se investiga se teve
causas políticas ou se são crimes de foro comum.
Para isso, as JBG mantêm um canal de comunicação, através da
Secretaria de Povos Indígenas, com o governo do Estado de
Chiapas. Quando se apresenta uma agressão a zapatistas e não
há comunicação com os agressores para determinar qual foi o
problema e tratar de chegar a um acordo pelo diálogo, as
Juntas de Bom Governo indicam à autoridade autônoma que
inicie uma investigação e, ao mesmo tempo, repassam os dados
do caso as autoridades estaduais. Enquanto a questão não for
devidamente esclarecida não se recorre às denúncias, à
mobilização ou às represálias.
Se a questão não é política e sim penal, então se espera um
tempo razoável para que a justiça estadual exerça sua ação.
Caso isso não ocorra, pois então, entra em ação a justiça
zapatista.
Nos casos que têm se apresentado até agora, a justiça do
governo de Chiapas tem brilhado por sua lentidão e
ineficiência. Parece que a máquina judiciária chiapaneca só
é rápida quando se trata de castigar os inimigos políticos
do governo estadual. No caso das autoridades de Zinacantán,
cujo delito foi flagrante e documentado, o governo do Estado
se limitou a apoiar na indenização dos agredidos, mas quanto
a determinar os responsáveis pela agressão e proceder
juridicamente, não há prazo. E no caso de Chilón, onde, no
marco de um enfrentamento entre zapatistas e não-zapatistas,
foi violentada uma menina de 11 anos, já se acertou a
diferença que deu origem ao choque, já foram passados todos
os dados dos estupradores (incluindo as análises médicas que
confirmam o estupro da menina) às autoridades
competentes...e... nada (pelo menos até o dia em que
escrevo). Os estupradores continuam em liberdade, apesar de
não contarem com o respaldo da organização a que pertencem
(que se deslindou do fato).
Contudo, temos que dizer que as agressões mais importantes
que nós zapatistas temos sofrido ao longo deste ano não
vieram do Exército federal, nem da polícia da Segurança
Pública estadual (dos paramilitares se investigam atualmente
as possíveis causas políticas no caso de um companheiro
assassinado em Polhó).
Paradoxalmente, os problemas mais graves e as agressões
sofridas neste ano foram com organizações e governos de
filiação perredista: a CIOAC oficial da região de Las
Margaritas e a presidência municipal oficial de Zinacantán
(do PRD). Em ambos os casos, os zapatistas sofreram
agressões. Em Las Margaritas seqüestraram companheiros e em
Zinacantán atacaram com armas de fogo uma manifestação
pacífica.
A CIOAC oficial da região de Las Margaritas (especifico isso
porque com a CIOAC de outros municípios houve entendimentos
e respeitos mútuos) só queria garantir seu grau de corrupção
no interior do município e que seus dirigentes continuassem
a se manter às custas das autoridades oficiais.
Em Zinacantán, o governo perredista planejou e executou uma
emboscada que deixou vários zapatistas feridos à bala.
Mergulhado na "crise dos vídeos", o PRD nacional guardou um
silêncio cúmplice e só abriu um processo para expulsar do
PRD o prefeito. Nos seletos círculos do PRD foi dito que
este era o pagamento aos zapatistas por eles não apoiarem o
seu partido nas eleições. Esta é uma plataforma que irão
promover a nível nacional em 2006? Para quem não for
incondicionalmente do PRD, golpes e tiros? É uma pergunta.
Com outras organizações com as quais houve e há atritos, e
com as quais as coisas antes se resolviam com a lógica do
"se há um problema, agarro um dos teus, você agarra um dos
meus, trocamos um pelo outro, e o problema continua o mesmo"
(ou "você junta um bocado de gente, eu junto outro tanto,
nos golpeamos e o problema continua o mesmo"), agora se
procura falar, conhecer as versões das duas partes, fazer um
acerto. Assim, sem enfrentamentos nem seqüestros mútuos.
Desta forma, foram resolvidos problemas com organizações
como a ORCAO, a ARIC-Independente, a ARIC-PRI, a CNC e
muitas outras que estão presentes nos territórios onde atuam
as JBG e até onde sua influência alcança.
À diferença dos anos anteriores, os conflitos entre
comunidades e entre organizações nos territórios das Juntas
de Bom Governo têm diminuído, e tem sido reduzido o índice
de criminalidade e de impunidade. Os delitos se resolvem,
não só se castigam. Se não acredita em mim, faça uma
consulta nas hemerotecas, nos juizados, nos ministérios
públicos, nos presídios, nos hospitais, nos cemitérios.
Compare o antes e o depois e tire suas conclusões.
UMA JUSTIÇA A SEU MODO?
O bom governo não procura outorgar impunidade aos que
simpatizam com ele nem é feito para penalizar aqueles que se
opõem em idéias e colocações. Ou seja, não deve fazer como
faz o governo federal que deixa impunes os criminosos porque
são do PAN (Estrada Cajical, por exemplo) ou porque fez um
trato com o PRI (Luis Echeverría, por exemplo), e pretende
penalizar um de seus contrários (López Obrador) e deixá-lo
de fora da eleição de 2006.
As leis que vigoram nos Municípios Autônomos Rebeldes
Zapatistas não só não contradizem os princípios de justiça
em vigor no sistema jurídico estadual e federal, mas em
muitos casos os completam.
Disse que o bom governo não está aí para dar impunidade aos
próprios e castigar os demais.
Como exemplo, e para ilustrar, tenho uma cópia do ofício
expedido pelo Juizado Municipal Autônomo de San Juan de La
Libertad, Chiapas, com a data de 19 de agosto de 2004,
dirigido ao governo constitucional do Estado de Chiapas e
com cópia para o prefeito de Chalchihuitán e para o juizado
municipal de Chalchihuitán. O texto vale como argumento
(respeito a redação original):
"Diante destas dependências autônomas e diante das
autoridades do juizado municipal foi apresentado o Fulano,
base de apoio do EZLN, de 17 anos de idade, originário de
Jolik'alum, município de Chalchihuitán, Chiapas, no dia 14
de agosto deste ano, pelas autoridades locais desta
comunidade que tendo praticado um delito de ordem comum no
dia 13 de agosto do ano em curso quando Beltrano do Partido
da Ação Nacional (PAN) havia saída de sua casa para fazer
umas compras no mercado de Jolitontic e, na volta, quando
vinha caminhando pela vereda encontrou este jovem Fulano
escondido na montanha com uma arma longa de calibre 22 de um
tiro, a mesma que tratou de disparar a uma distância de 5
metros de Beltrano pela arma que já não serve.
Encontrando-se já à disposição dos juízes municipais
autônomos, o jovem Fulano esclarece que o próprio queixoso
Beltrano foi o primeiro a dar início à provocação quando
derrubou 300 pés de café de boa qualidade de propriedade do
jovem Fulano e é por isso que este jovem já faz um ano que
tem a coragem, nós, juízes autônomos, qualificamos isso que
foi cometido por Fulano como um grave delito dentro da ordem
e da disciplina revolucionária zapatista, a este respeito
nós ratificamos sua detenção imediata na medida em que
existem elementos para esse tipo de pena, mas no momento da
detenção do que é apontado como culpado, o queixoso Beltrano
saiu correndo dos juízes municipais negando-se a declarar as
origens da questão, como se fosse ele o culpado deste fato.
Nós, autoridades autônomas, podemos resolver qualquer tipo
de assuntos ou de delitos de ordem e de foro comum. O
Fulano, no momento, é punido com uma pena que o priva da
liberdade(...) A arma do Fulano está nas mãos das
autoridades autônomas de San Juan de La Libertad, a arma
está em más condições porque já não funciona e será
destruída".
DIREITOS COLETIVOS VERSUS DIREITOS INDIVIDUAIS?
Imagino que vai ou irá ter estudos jurídicos que demonstrem
não haver contradição no reconhecimento de uns e de outros.
Falamos agora do que vemos através dos fatos e do que
praticamos, e estamos abertos para qualquer um que venha e
corrobore se o exercício dos nossos direitos como povos
indígenas viola algum direito individual.
Os direitos coletivos (como a decisão sobre o uso e o
aproveitamento dos recursos naturais) não só não contradizem
os direitos individuais, como permitem que estes últimos
estejam ao alcance de todos, não só de alguns. Como se verá
na parte dos avanços, em território zapatista não aumentaram
as violações dos direitos humanos individuais. Cresceram,
sim, condições de vida melhores. Respeitam-se o direito à
vida, à religião, à filiação partidária, à liberdade, à
suposição de inocência, a se manifestar, a discordar, a ser
diferente, à livre escolha da maternidade.
Neste ano, no lugar de metermo-nos numa discussão de termos
jurídicos, nós zapatistas optamos por demonstrar nos fatos
que a bandeira do reconhecimento dos direitos dos povos
indígenas, levantados pelos indígenas mexicanos e por muitos
mais com eles, não implica em nenhum dos perigos que foram
argüidos contra eles.
Em terras zapatistas não está se gestando a pulverização da
nação mexicana. Ao contrário, o que nasce aqui é uma
possibilidade de sua reconstrução.
(a continuar...)
Das montanhas do Sudeste Mexicano.
Subcomandante Insurgente Marcos. México, agosto de 2004, 20 e 10.
Subcomandante Insurgente Marcos. México, agosto de 2004, 20 e 10.
https://www.alainet.org/es/node/110570
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