Davos e Porto Alegre: "não se pode servir a dois senhores"
26/01/2005
- Opinión
Em um clima de cordialidade e franqueza, se realizou ontem à noite a reunião do presidente Lula com membros do Conselho Internacional do Forum Social Mundial. Trajando uma jaqueta clara e com boa disposião, Lula se dispôs, logo na abertura da reunião - que durou 2 horas e mais, no Hotel Plaza San Rafael e contou com cerca de 70 membros do CI, além do prêmio Nobel José Saramago e de vários ministros do governo, entre eles Tarso Genro, Olivio Dutra, e Miguel Rossetto -, a responder a quatro perguntas, ao invés de fazer um longo pronunciamento. Haviam sido selecionados previamente quatro membros do Conselho, dois homens e duas mulheres, a quem Lula respondeu ao longo da reunião.
Já na primeira questão, se viu refletido o clima de desconforto dos membros do CI com as orientaões e o discurso do presidente brasileiro: o religioso francês François Houtart, expressando sentimentos de parte significativa do Conselho, disse a Lula, respeitosamente: "O senhor foi ovacionado, a dois anos atrás em Davos. Eu lhe entreguei em Porto Alegre, naquela ocasião, um papel dizendo que se houvesse um Tribunal Penal Internacional para crimes contra a humanidade, pelo menos a metade dos que estavam ali seriam réus. Ali eles estão pela privatizaão dos serviços públicos, pela destrtuião da economia camponesa, pelo livre comércio. Que discurso o senhor vai fazer em Davos? Se for ovacionado novamente, nos tememos pelo futuro do Brasil. Se se opuser a isso, terá todo o nosso apoio. Não se pode servir a dois senhores." Lula recordou que, quando veio a Porto Alegre, em 2003, lhe disseram que se anunciasse que iria a Davos, seria vaiado. Mas que ele não teme as vaias, que a distância entre as vaias e os aplausos é pequena, a diferença é que uma se faz com as mãos e a outra com a boca. Que ele vem a Porto Alegre discutir alternativas e vai a Davos tratar de sensibilizar os grandes empresários e os governantes para o problema da fome no mundo, buscando demonstrar compatibilidade entre a ida aos dos Foros, discordando assim da dura questão colocada por Houtart.
Uma militante do Quênia manifestou em seguida discordância com as posiões brasileiras na OMC, que prejudicariam os pequenos paises africanos, vítimas as políticas de livre comércio dessa instituião, com a qual o Brasil estaria se manifestando de acordo. Da mesma maneira se expressou uma militante chilena da Via Campesina, que pediu que as questões agrícolas ficassem de fora da OMC. Lula relatou os esforços seus e do seu governo para uma aproximaão da África, falou de suas viagens ao continente africano e da sua disposião de convocar uma reunião dos paises africanos e latinoamericanos para defender seus interesses comuns.
Um membro italiano do CI, deppois de agradecer a Lula, dizendo que jamais poderia se dirigir dessa maneira ao presidente do seu país, relatou Forum realizado na Italia sobre a democratizaão das Naões Unidas, com Lula reitetando os projetos do Brasil nessa direão e sugerindo que se convoque manifestaão frente à ONU em setembro, na abertura da próxima sessão da Assembléia Geral, para reivindicar essa questão.
A militante da Via Campesina recordou a Lula que eram antes igualmente militantes do movimento dos trabalhadores, mas que agora, como ela não fala nem ingles, nem portugues, não pôde entender o que ele falou. Embora antes, mesmo falando português, quando ela era lider sindical e não presidente, ela entendia o que elfalava. Além da solicitaão em relaão à OMC, ela pediu a Lula que considere que sua política de apoio às agroindustrias vai exterminar a economia camponesa, pedindo que ela a reconsidere. Lula disse que ele mesmo se entendia melhor quando era lider sindical, mas que agora é presidente de todos os brasileiros, que tem que ouvir e levar em conta a todas as partes.
Lula expressou que deverá falar cerca de uma hora hoje no Gigantinho, pediu sugestões sobre os temas que deveria abordar, mas não houve tempo, embora, pelas prórpias perguntas ele pode ter tido idéia do clima e dos temas que estão na cabeça das dezenas de milhares de militantes e membros dos movimentos sociais que vieram para o Forum Social Mundial.
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