Como fica o PT depois do Ped
25/09/2005
- Opinión
A saída de Plínio de Arruda Sampaio, formalizada em nota oficial hoje, é um duro golpe para o PT (Partido dos Trabalhadores). A constatação é simples: não adianta o segundo turno das eleições para presidente do partido se o campo majoritário manteve o controle do diretório nacional. Foi o que disseram Plínio e o deputado Ivan Valente, que assinam a nota em conjunto.
Uma eventual vitória do candidato Raul Pont sobre Ricardo Berzoini não vai mudar nada, ainda que o eixo paulista do partido fique enfraquecido. O deputado José Dirceu mostrou força para além do seu estado. O chamado Campo Majoritário vai controlar também a maioria dos diretórios estaduais.
O caso de Minas ilustra bem as dificuldades do PT. O candidato apontado como contrário aos donos do partido, o deputado Durval Ângelo, está à direita de Nilmário Miranda, do grupo majoritário. Na própria esquerda existem resistências fortes a Durval, considerado por boa parte dessa militância o clássico pelego.
Durval vai defender, pelo menos deve, a candidatura Pont para fora e mandar as bases votar em Berzoini. É típico dele.
O PT, neste momento se assemelha a um avião em parafuso, prestes a arrebentar-se no solo. Se o piloto vai conseguir evitar a queda não é o mais importante. É simples entender isso: José Dirceu e seu grupo se prepararam para essa queda desde o início da crise e buscam formas de amortecer o impacto, na tentativa de sobrevivência da máquina fisiológica e corrupta que construíram.
Um expressivo número de deputados deve seguir o mesmo caminho. Já indicam que vão para o P-SOL (Partido do Socialismo e da Liberdade), o rumo tomado por Plínio de Arruda Sampaio. Ivan Valente, Chico Alencar, entre outros.
A entrada em massa de militantes do PT no P-SOL deve significar um pouco menos de voluntarismo na ação da senadora Heloísa Helena, principal líder do partido e provável candidata a presidência da República em 2006.
A obsessão em bater no PT não está sendo, pelo menos publicamente, correspondida com a mesma intensidade em relação ao PSDB e ao PFL.
Plínio de Arruda Sampaio tem presença expressiva no movimento popular e isso vai representar a perspectiva de maior consistência ideológica e estratégica ao partido. Vai reforçar a presença de setores que já estão no partido e acreditam que para além do processo eleitoral está o de organização e formação num projeto maior, o de construir a revolução brasileira.
Isso se insere num todo, num conjunto, não está restrito a um partido.
O PT e o governo Lula, hoje, são apenas o terceiro “fernando”.
A maneira como está sendo feita a campanha do deputado Aldo Rebelo para a presidência da Câmara, um milagre se vier a ganhar, lembra as mais despudoradas campanhas dos mais despudorados candidatos ao longo da história da Casa. Tem cheiro e gosto de Severino Cavalcanti, até porque, o segundo candidato do Planalto é Francisco Dornelles e em último caso, Ciro Nogueira, o “filho” de Severino.
Tudo menos Nonô ou Temer, homens de FHC.
É o retrato do governo Lula, cuspido e escarrado.
As perdas sofridas pelo PT acentuam o seu caráter de PSDB do B.
Os ganhos do P-SOL devem trazer o partido para além dos embates parlamentares, ações mais claras e precisas num contexto que tanto é de crise, como é de avanços da direita.
O processo de organização partidária e o registro consolidado mostram que o passo agora tem que ser no sentido de somar-se às forças do movimento popular e buscar os caminhos que possam vir a representar recuperação da esquerda, como bem definiu César Benjamin, “corroída pelo governo Lula”.
Há necessidade que a luta vá para além do mundo das CPIs. Para além de confraternizações com ACM Neto.
A crise que permeia o País é maior que o PT, que Lula, páginas viradas e se estende a toda a América Latina.
Na campanha de Evo Morales, na Bolívia. No apoio e na construção de políticas de aproximação com o governo bolivariano do presidente Chávez. Na resistência à ocupação do Paraguai. Na reação ao governo terrorista do presidente Uribe na Colômbia (vai ser necessária, de imediato, posição clara e sem meios termos contra a expulsão de Olivério Medina). Na necessidade de contatos com a esquerda mexicana, com um forte candidato a presidente.
Nos pontos de apoio e luta permanentes contra a constante ameaça dos EUA à revolução cubana.
Todo esse conjunto passa pelo Brasil, o maior país da América Latina e por isso mesmo vital ao processo de resistência. A ALCA está chegando de forma disfarçada, por baixo dos panos e dos acordos de livre comércio. Fujimori já fala em voltar ao Peru e ser candidato a presidente.
Por mais que haja necessidade de combate à corrupção tucano/petista, que é intrínseca ao modelo político e econômico, é preciso lutar para que o dilema não seja a ética udenista, representada pelos partidos de direita, à frente PSDB e PFL, ou pelos partidos fisiológicos, PT, PPS, PSB, etc.
Sem preocupação de ser um novo PT. O PT, a rigor, foi só um grito sucedeu ao terror militar. Não soube ser um partido socialista.
Esse é o desafio do P-SOL.
O PT depois do PED vai continuar nas mãos dos caras.
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