No mundo das máfias
29/11/2005
- Opinión
O que mais seduzia a boa parte dos espectadores e adoradores de filmes de gangster, gente tipo Al Capone, era, é ainda, uma espécie de contra proposta de paraíso. Ao invés do Éden, da vida eterna, ou do céu de Alá com virgens e tâmaras frescas, ou visão de Buda, uma dançarina de strip tease, mais ou menos de dois metros de altura, formas perfeitas, seios imensos a la Fellini, de qualquer cor, tamanho, jeito, disposta a tudo, num hotel dez estrelas, numa suíte do tamanho do Maracanã.
Sem falar no sorriso colgate. Ou no sabonete lux, de nove entre dez estrelas.
James Cagney quando foi interpretar um gangster correu atrás de Capone para tentar a perfeição. Foi advertido que tomasse cuidado para não deformar a imagem pública do chefão. O mesmo aconteceu com Humphrey Bogart. Esse enfrentou o desafio de ter que apresentar Lauren Bacall, uma das mais belas mulheres de todos os tempos, ao próprio chefão. Com direito a beijo de mão, flores, champanhe e uma valsa.
Capone era exímio dançarino. Em momentos especiais gostava de usar polainas á guisa de seduzir a outra parte.
É célebre, contada diariamente em Las Vegas, a história do texano (sempre um texano) que se apaixonou por uma corista. Havia ganho a viagem de prêmio da empresa e passou trinta anos juntando dinheiro para uma semana memorável na cidade do deserto.
Quando conseguiu o dinheiro e lá voltar, a corista estava pesando mais de noventa quilos, sofria de diabetes, hipertensa, tinha não sei quantos filhos, outro tanto de netos e o cara entrou em desespero.
Deu uma de samurai. Gastou a nota toda com uma outra corista, imagem e semelhança do objeto do desejo de trinta anos atrás e na manhã seguinte, no meio de um cassino, praticou haraquiri.
Cinco minutos de fama. O suficiente para a televisão filmar, a polícia tirar umas fotos, o corpo ser removido, o sangue ser limpo e um rabecão até a geladeira.
Nem quinze minutos conseguiu.
Máfias são poderosas e de tal forma penetraram na sociedade norte-americana, como um todo e em tudo, que o modelo democrático que se espalha pelo mundo inteiro a partir da América, como gostam de dizer (cingem a América a eles), tomou a feição das quadrilhas estruturadas na Omertá.
Por aqui, macaquitos, nossas elites copiaram. Copiaram e deformaram.
Veja o caso de FHC, dos tucanos (sem exceção), gente como Serra, Alckmin e outros. Pretenderam, num primeiro momento, mudar a imagem de organizações criminosas para partidos políticos. Não foi possível. Tem aquela frase de Lincoln, aquela que se pode enganar meio mundo, mas todo mundo o tempo todo não.
Noutro momento tentaram criar a idéia que seriam possíveis máfias com brilho intelectual. FHC por exemplo. Ao contrário de Capone que falava errado, cuspia enquanto vociferava, falar quinze línguas, apreciar vinhos franceses (Capone costumava tomar seu próprio escocês fabricado no Canadá) e nada de contadores. Ou então, para evitar qualquer surpresa, Nelson Jobim, Ellen Gracie, Gilmar não sei das quantas, gente assim de segundo escalão para a mais alta corte de Justiça (?).
E meia dúzia de pitt bulls, como Artur Virgílio. Não fala e anda ao mesmo tempo, tropeça, cai, morde o próprio rabo e morre de vácuo absoluto. Sem entender nada.
Aos poucos vão começando a aparecer os muitos negócios da máfia tucana. Estoura agora a denúncia do jornalista Josias de Sousa sobre um prejuízo de um bilhão no negócio dos celulares, a tal banda B. Do tempo de Sérgio Motta ainda. Era o principal conselheiro da turma.
Essa pantomima toda de Marcos Valério, três milhões para lá, cinqüenta para cá, isso vai parecer troco quando o esquema tucano for desmontado, se é que vai ser. E, ao que dizem, no caso das secretárias do período de FHC, a Playboy vai ter que desembolsar uma nota. Deixam qualquer Karina Somaggio no chinelo.
A grande frustração de FHC é Marlon Brando não estar mais vivo para interpretá-lo em uma odisséia sobre como vender um país inteiro. Por azar nem Peter Lorre. Já tinha até nome: “O Príncipe”. E sub-título: “obra revista e ampliada de Nicolas Maquiavel, adaptada da história de Al Capone”.
Esse mundo das máfias hoje não tem nenhum glamour, nunca teve. Tem apenas o cinismo e a deslavada corrupção de quadrilhas maiores ou menores, todas, as nossas, com sede em Brasília (se bem que o PSDB é paulista).
O que se copia hoje é George Bush. Que o diga o prefeito de Juiz de Fora, MG, quinhentos e tantos mil habitantes. O cara chega de carro blindado, protegido por dois outros carros cheios de seguranças, mas outro dia foi advertido por um dos chefões. Ou coloca fulano no “negócio” do trânsito, ou cuidado, pode cair da escada”.
Nenhum desses caras é capaz de um haraquiri, seja porque não têm um pingo de honra, ou simplesmente por não saber o que é isso.
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