Hora de pensar na educação

10/07/2006
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
NO EXATO momento em que a seleção vencia o Japão, na Copa do Mundo, um grupo de empresários discutia, na Bahia, os rumos da educação brasileira. Enquanto os nossos jogadores -e 180 milhões de pessoas- ainda sonhavam em confirmar a condição do Brasil de principal potência do futebol mundial, aqui, líderes dos diversos segmentos da sociedade civil e representantes do governo engajavam-se em um movimento pela melhoria da qualidade do ensino -sem dúvida, a melhor forma de nos tornarmos uma potência mundial também fora do mundo da bola. O paralelo entre futebol e educação faz especial sentido em época de Copa do Mundo. A cada quatro anos, o país vive um clima de euforia. E de tensão. A perspectiva de acrescentar uma nova estrela à camisa amarela desperta o fervor cívico dos brasileiros. É como se a seleção nacional fosse a melhor parte de todos nós, a consagração de um particular jeito de ser, a face vistosa e invejável de uma nação em desenvolvimento que luta para eliminar indicadores de um país subdesenvolvido. Isso explica porque a derrota para a França -nas circunstâncias em que ocorreu, sem luta, garra e determinação dos jogadores- provocou uma dor profunda e um enorme sentimento de perda. O futebol, como se sabe, é parte essencial de nossa identidade, motivo de orgulho e auto-afirmação. A educação também deveria ser. Mas não é. O primeiro entusiasma e mobiliza. A segunda, apesar de vista como importante fator de mobilidade social, ocupa espaço pouco expressivo na alma nacional. Não provoca emoções nem torcidas. E a sua lamentável situação não gera a mesma indignação que se sente após uma derrota na Copa. Se, no futebol, o brasileiro se mostra exigente em relação à escalação do time e ao seu desempenho em campo, na educação, a grande maioria se conforma em eventualmente obter uma vaga na escola pública. Esse comportamento, participativo por um lado e desinteressado por outro, talvez explique bem o contraste de sermos pentacampeões no futebol e ocuparmos as últimas posições em desempenho escolar no ranking mundial. O futebol, no entanto, é apenas um jogo. E, nesse sentido, tem uma importância relativa para a melhoria de nossas vidas. Só a educação de qualidade pode formar a base de um novo projeto de país, mais justo e mais desenvolvido. Foi exatamente esse o espírito do encontro na Bahia: ao analisar o triste cenário no Brasil e na América Latina, os 250 participantes do evento chegaram à conclusão de que a educação é, neste momento, a mais importante política pública e que assegurar a sua qualidade, especialmente para os menos favorecidos, constitui o melhor instrumento para reduzir nossas históricas desigualdades sociais. A conclusão e o interesse pela causa não chegam a ser uma novidade. O fato novo é o sentido de urgência atribuído ao tema. É a crença de que a educação deixará de ser pauta de importância secundária apenas quando todos os setores fizerem a sua parte de forma integrada e sinérgica. Pela primeira vez, um grupo de lideranças, apoiado por organizações da sociedade civil e em sintonia com os governos, decidiu juntar esforços em torno de um grande projeto educacional para o país. Como demonstração de vontade, a maioria dos presentes subscreveu sua participação no movimento "Compromisso Todos Pela Educação", que deverá ser lançado oficialmente no dia 6 de setembro, ao meio-dia, no Museu do Ipiranga. Na prática, a adesão significa colocar energia e recursos no cumprimento da missão de "efetivar o direito à educação de qualidade para que, em 2022, bicentenário da Independência do Brasil, todas as crianças e jovens tenham acesso a um ensino básico que os prepare para os desafios do século 21". Significa também o compromisso de participar da consecução das grandes metas adotadas pelo movimento: até 2022, todos os brasileiros de 4 a 17 anos devem estar na escola, concluindo os seus ciclos, sabendo ler e escrever na idade adequada, aprendendo o que deve ser aprendido, sem que faltem recursos para a educação básica. Foi dado o pontapé inicial para um projeto que pode mudar o país. Se as metas estabelecidas no "Compromisso Todos Pela Educação" forem permanentemente atingidas, como resultado dos esforços dos três setores da sociedade, a expectativa é que, já em 2010, na próxima Copa do Mundo, o Brasil seja reconhecido no mundo não apenas pela excelência do seu futebol mas pela melhoria da qualidade de sua educação. - Milú Villela é presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, do Instituto Itaú Cultural e embaixadora da Boa Vontade da Unesco.
https://www.alainet.org/es/node/115960
Suscribirse a America Latina en Movimiento - RSS